Luanda - Luís Neto Kiambata, nacionalista, defende reconciliação com inclusão, respeito e valorização de todos que estiveram envolvidos, da base ao topo, para que em 2002 Angola construísse uma nova historia. Neste quesito, diferencia José Eduardo dos Santos, ex-Presidente da República.

Fonte: OPAIS

Para o antigo diplomata, na altura, na qualidade de Comandante- em-Chefe das Forças Armadas Angolanas, José Eduardo dos Santos desempenhou um papel importante para o fim do conflito armado. Conseguido o objectivo, frisou, ainda orientou a instauração de amnistia para todos que estiveram do outro lado da luta.

 

Com essa postura, Luís Neto Kiambata entende que José Eduardo dos Santos evitou um “banho de sangue” que devia ser registado dias depois da morte de Jonas Savimbi.

 

“A intenção das forças era eliminar todos os sobreviventes que sobraram do lado da UNIT A. Mas José Eduardo dos Santos empenhou-se pessoalmente para que tal tragédia não acontecesse. É efectivamente um homem da paz e a que o país deve saber honrar os seus feitos”, defendeu.

 

Para Luís Neto Kiambata, é preciso parar com a tendência de apagar da história as pessoas que deram por Angola. Para ele, José Eduardo dos Santos (JES) teve uma importância capital para que hoje o país celebrasse os 19 de paz.

 

“Precisamos agora é nos reconciliar todos os dias. É um processo que todos temos a obrigação de seguir”, apontou.

 

Para o Cordenador do Observatório Eleitoral, Luís Jimbo, o legado deixado pela governação de JES é difícil de separar da governação do MPLA porque o partido governante actuou sempre como uma unidade.

 

No seu entendimento, não há legado de José Eduardo dos Santos sem governação do MPLA. Conforme explicou, há sim um legado de Eduardo dos Santos em cada um dos membros do MPLA aonde também se inclui o actual Presidente da República.

 

“Naturalmente, o 04 de Abril pertence na história a José Eduardo dos Santos, assim como Alvor a Agostinho Neto, Holder Roberto e Jonas Savimbi”, apontou.

“Ambição desmedida fracturou o país”

Por seu lado, o professor de ciência política, Oliveira Castro, entende que, depois do estabelecimento da paz, não se olhou com preocupação para o alargamento das bases para a sustentabilidade do pais.

 

No seu entender, os bons indicadores económicos que o país registou durante o ano de 2008, como resultado das boas vendas do barril do petróleo, criou uma classe de governantes oportunistas, o que criou um contrapeso ao processo de efectiva reconciliação nacional.

 

Conforme explicou, enquanto milhares de famílias sobreviviam com estremas dificuldades, pessoas ligadas ao poder aproveitaram para saquear o bem público para benefícios pessoas com as consequências a se reflectirem ate aos dias de hoje.

 

“O que não foi bem feito no passado até agora se reflecte na vida das populações. Poderíamos ter construído uma Angola melhor. E quando a injustiça é maior não há como falar-se em reconciliação”, apontou.

“Precisamos conquistar a paz social”

Já Lutina Santos, especialista em ciências políticas, entende que o dia 4 de Abril marca o fim de uma trajectória político-militar difícil para Angola e os angolanos.

 

Para ele, a partir desta data, os angolanos descobriram o verdadeiro sentido e significado da paz e estabilidade militar, sendo que foi igualmente, a partir desta data que se começou o processo de reintegração das famílias angolanas desavindas após anos de guerra civil e terminou, de um modo geral, o sofrimento dos angolanos.

 

“É uma data que ficará para sempre na memória colectiva dos angolanos por ter, sobretudo, marcado o fim de uma época difícil e o princípio de uma nova era”, frisou. Para Lutina Santos, hoje, decorridos 19 anos de paz, a guerra é parte do passado mas as suas repercussões manter-se- ão na história colectiva e servirão de lições para as sucessivas gerações de angolanos

 

O acadêmico considera ainda que a conservação da paz é um dever de cada angolano e, em particular, dos políticos.

 

“Mas é importante lembrar que nós temos uma paz política e precisamos, com esforço de todos, conquistarmos a paz social. Ou seja, aquela paz que deve restituir estabilidade social e bem estar à cada angolano.

 

Por outro lado, Lutina Santos disse ainda que a paz permitiu uma abertura do país até na forma de se fazer política. Conforme explicou, nos anos noventa o ambiente político era dominado pelo MPLA – UNITA e FNLA.

 

Com o estabelecimento da paz, frisou, houve a abertura para o estabelecimento de novos actores políticos.

 

“Notamos uma evolução aceitável e visíveis mudanças na forma de posicionamento dos partidos e dos políticos. Porém, temos de salientar que de 2010 -2021 a emergência de uma nova sociedade civil e de novas formas de participação política influenciaram mudanças aceitáveis que deixam bons indicadores para o futuro”, referiu.

Uma governança de desafios

Olhando para o actual contexto, Luís Jimbo considera a governação de João Lourenço como sendo um símbolo de uma nova era em Angola sem precedentes em vários domínios como da liberdade de expressão e manifestação, da impunidade e combate a corrupção.

 

De acordo com Luís Jimbo, a governação de João Lourenço sofreu “grandes golpes” externos no capítulo econômico como o registo do preço mais baixo do petróleo a nível mundial, a pandemia Covid-19 , as mudanças climáticas e a seca no sul de Angola.

 

Porém, em consequência destes factores externos e de outros internos, já vividos na governação de José Eduardo dos Santos, disse que os angolanos estão a comemorar 19 anos de paz com mais fome nas famílias, mais desempregados e sem esperança e prosperidade a curto e médio prazo de vida. Porem, apesar destes “zonas cinzentas”, defende a necessidade de se preservar a paz.

 

Na sua visão, conservar a paz se faz com atitudes e comportamentos político e cívico que restam a memória de dor da guerra e de todos aqueles que morreram na guerra sem ter em conta de que lado estiveram para que a geração presente olhe pra o passado com orgulho.