Luanda - O Município do Cuchi, dista a 95 quilómetros de Menongue, que de resto é o Município sede da lendária capital da província do Kuando Kubango, que foi um dos palcos mais emblemáticos da nossa fratricida guerra, que se arrastou pelo menos três décadas. Segundo dados avulsos dão conta que a vila do Cuchi, conta hoje com uma população estimada em aproximadamente 61 mil habitantes. Com uma extensão territorial de 2128km2, naquele espaço territorial, ainda são visíveis algumas das marcas do simbolismo arquitectural colonial.

Fonte: Club-k.net


Dizem os entendidos que o Cuchi é um Município rico em minérios de alto quilate no país mas que paradoxalmente, apresenta um digno postal de “desterrititorialização”, na medida em que há ausência gritante de quase tudo, sobretudo de alguns dos principais serviços básicos para sobrevivência humana, que são fundamentais para alavancar qualquer espaço territorial dos nossos dias.


No domínio histórico, consta que o rei Mukuva I º, foi o primeiro rei dos Ngangela, e era oriundo da região dos Grandes Lagos, na época das “migrações” aquele rei travou uma forte batalha contra os Kwanyama e Nyaneka Humbi, que se dedicavam ao roubo de gado bovino, consta igualmente que naquela época, os Cokwe, se dedicavam ao roubo de crianças, para as converterem em mãos de obra barata, servindo posteriormente de meios para comércio, negócio que era praticado principalmente pelo Umbundu, por via da vila da Katumbela com destino a Europa.


De acordo ainda com algumas fontes o rei Mukuva I, teve uma amizade estreita com os colonizadores, cujas consequências daquela relação de amizade, causaram algumas convulsões previsíveis, que passou pela rainha Lusinga e o rei Cihwaku, que se opuseram, as relações entre o rei Mukuva I, e os colonos.


Quanto ao surgimento dos Cokwe, importa realçar que o reino do Mukuta, teve a liderança da caravana do Mwata Citangumuna, na companhia de Mingoci, que eram provenientes de Ntumbole, Norte do Kuci, e posteriormente chegou uma outra caravana, sob direcção do Mwene Cifungu e Lyavuma, vindos de Kasai, acompanhando elefantes (caçadores) até Lyevela, Nkaka ya Ktena, vindo a se instalar na zona, que deu liberdade e fixou-se no Lwasenya, dizem ainda algumas fontes que os Cokwe também travaram grandes combates contra os Kwanyama ao lado do Mukuva I.


No capítulo das delimitações geográficas, pode-se dizer:


Que a Norte, os Lwimby, ficavam pelas nascentes do Kwanza.


A Leste, pela base do Monte Cipepa, a fronteira que se estendia até Vunonge, onde ficavam os Mbwela.


A Sul, era configurada, pelos reinos do Bié e do Ngalange, no planalto.


O reino do Sendye tinha varias Fratrias, que eram equivalentes a províncias actualmente, e eram as seguinte:


Ngondyelo, Fratrias do Este a capital Katota.

Masaka. Fratria do Sul, situava-se nas margens do Kuvangu e Kweve, que é um afluente do Kuvangu.


Katoko – Fratria de Oeste, tinha a capital Cihwaku, actual vila do (Kuvangu) que foi a Fratria que atingiu maior desenvolvimento das forças produtivas porque fazia comércio directamente com os Estados do Planalto e colonialistas de Kakonda.


As fratrias do reino do Sendye, separaram-se umas das outras no fnal do século XIX. O Katoko, foi a primeira, à dar origem ao reino do Cihwako, o Masaka deu origem ao reino de Masaka ou Lusinga, o Cihwaku e o Lusinga tiveram um papel preponderante na Historia do povo Ngangela, estas ocorreram antes da morte do rei Mukuva, ocorrida no final do século XIX.


Quanto as condições sociais actuais dos habitantes do Cuchi, podemos dizer que as mesmas primitivas, na medida em que faltam os elementos essenciais para que um Município do nível B, como é o Cuchi, possa desenvolver, e dotar de uma identidade própria no naipe dos outros Município, que lhe são congéneres do nível B, hoje em pleno século XXI, não se admite que um Município que foi o celeiro do milho em Angola, não tenha electricidade, não tenha água potável canalizada para servir os cerca de 61 mil habitantes, que seria um incentivo para o cultivo, apesar de terem a seu favor a fabulosa dadiva que são os rios, é preciso que haja um bom aproveitamento deste bem natural.


No domínio do culto, existem algumas igrejas implantadas, no Municipio, há uma marca visível da Igreja Católica que está parcialmente destruída que data de 1956, criada pelos missionários, segundo padre Cassanga, o primeiro Pároco do Cuchi, estão a fazer de tudo para sua restauração. 


Bastas vezes, ouvimos os responsáveis da R.N.A, verberarem as suas virtudes de razão de que o sinal da Rádio Nacional, chegava a todos os cantos e recantos deste país, podemos afirmar com toda veemência, que este quadro não se faz sentir é no Município do Cuchi, onde não chega água canalizada, nem mesmo o Grito de Ipiranga, do programa “ ÀGUA PARA TODOS” chega no Cuchi, quando até se trata de um Município marcadamente rural, para os mais de 61 mil habitantes, temos apenas sete chafarizes, que é foi uma invenção do século XIX, mas que ainda faz morada entre nós, a electricidade tem sido graças ao grupo gerador da Administração, que serve para abastecer a via principal do Cuchi.


Quanto ao sinal da televisão é possível assistir os programas da nossa “Telinha” com auxilio das antenas parabólicas, porque à nossa T.PA, só tem lá, faz algum tempo para efeito de charme um contentor que provavelmente esteja o seu respectivo emissor, mas que em termos de funcionamento “ népias”.


O facto de não haver os serviços bancários, no “desterritorializado” Município do Cuchi, os trabalhadores por altura da recepção dos seus ordenados, têm que se deslocar para Município sede de Menongue, isto implica que por média estes ficam por lá pelo menos uma semana, e no caso dos professores e do pessoal da saúde, já consegue imaginar os prejuízos decorrentes desta inépcia administrativa. 

 

Quanto à assistência social, aquele desterritorializado Municipio, não conta com apoio industrioso, das ONG´s, quer as nacionais como as estrangeiras, neste domínio à capital dos Ngangelas, é ainda “virgem” na medida em que os seus serviços ainda estão inexplorados a nível do saneamento básico, dos direitos humanos, da àgua dentre outros. 
 


Cláudio Ramos Fortuna

Urbanista

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