Luanda - Não é fácil falar de um homem forjado nas lides dos comandos especiais e de um comandante, como é o caso do general Samy, que se em Dezembro de 1998 não fosse travado por ordens superiores, uma ordem que permitiu as FAA se reorganizarem no Huambo e partirem para contra-ofensiva, teria tomado o Huambo, e quem sabe, o curso da história seria diferente?! Uma história por contar…

Fonte: Club-k.net

"IMPÕE-SE FALAR DELE, NEM QUE SEJA SÓ UM POUQUINHO POR ENQUANTO"

Eu sempre digo aos companheiros que gostam ouvir de mim as histórias das batalhas de 1998 a 2002, que se o general Samy estivesse no Andulo aquando da sua tomada no dia 19 de Outubro de 1999, ele teria morrido em combate nesse dia porque não teria permitido assistir a tal derrota, tal como o fizeram os bravos Brigadeiros Relâmpago e Nganga e, demais soldados que caíram no campo de honra.

 

Mesmo no Leste aquando da sua captura em Março de 2002, quando viu-se cercado e sem um mínimo ângulo de manobra, ele pegou na arma para suicidar-se, valeu o desarme rápido de um soldado das FAA (que se encontrava nas suas costas sem ele se aperceber) que depois foi promovido por ter evitado a morte de um grande general.

 

Haverá mais memórias, Deus queira. Um pouquinho só por enquanto!...


Depois do descalabro das FALA em Dezembro de 1998 no Kuito/Bié, o contra-ataque das FAA foi tão brusco que em Fevereiro de 1999 o Andulo estava na eminência de ser tomado de assalto. Face a essa situação, o Alto Comando das FALA preferiu deixar “desprotegido” o Bailundo, convocando de emergência o general Arlindo Samuel Kapiñala “Samy” que se encontrava na Frente Huambo comandando a Brigada Ben Ben. O Bailundo e Andulo eram bastiões, mas aeroporto dava um peso estratégico ao Andulo em relação ao Bailundo…


Para aquela missão, ele (o general Samy) seleccionou dentro da brigada, a elite da elite: na infantaria seleccionou o 1º Batalhão sob comando do T/C. Guido Njunjuvili e Maj. Mutuyakevela e, o 3º Batalhão sob comando do T/C Tchipikita (um kamuhanya “fod…”), Maj. Kalunjinji e o Maj. Angelino; entre o grupo da artilharia seleccionado estava o Cor. Honrado, o Maj. Massilua “Indomável” e o Maj. Liberty Chiyaka. Para a guarnição do Bailundo tinha ficado o destemido Coronel José Fayenda “Relâmpago” (Chefe das Operações da Brigada Ben Ben) que tinha sob suas ordens apenas o 2º batalhão comandado pelo Maj. Mbongue (naltura o comandante do 2º batalhão, o falecido T/C. Eurico, encontrava-se no hospital do Chilume a recuperar de um ferimento contraído na Tchikala Tcholohanga), o BECB (Batalhão de Engenhos e Carros Blindados) comandado pelo T/C Mbwayele, o grupo da artilharia chefiado pelo Cor. Azimuth, uma companhia de engenharia de demolição comandada pelo T/C Albino, uma companhia de RECK’s chefiadas pelo falecido T/C Mata-Mata e o falecido T/C Zé Manel “Cafuringa” na Logística.


Os primeiros cinco dias do general Samy no eixo do asfalto do Andulo, eram de engajamento total (recuava-se 2 a 3 quilómetros por dia). A sua elite da elite também estava a ser empurrada, quase que ninguém aguentava a “fúria” das FAA e a queda do Andulo seria apenas uma questão de horas… Foi no entardecer de um dia no início do mês de Março de 1999, quando o general Samy se encontrava com um número muito reduzido de soldados (tínhamos sofrido muitas baixas, mas muitas mesmo…), quando as casas do Andulo já estavam as vistas dos soldados, que ele granjeou, para soldados que estavam ao seu lado, o respeito que se lhe será eterno. O general Samy olhou para o Andulo e virou-se para os poucos soldados a sua disposição e disse as seguintes palavras, que transcrevo lacrimejando: “Estão a ver aqueles tectos?


- Sim mais velho! Respondeu em coro a pouca tropa a seu lado. E o general continuou: Aqueles são tectos das casas do Andulo! Conforme somos poucos neste momento, esta claro que eles (as FAA) amanhã de amanhã podem entrar no Andulo, mas primeiro terão de passar por cima dos nossos cadáveres! Nesta madrugada vamos partir para aquilo que pode ser o último combate das nossas vidas, mas eu tenho fé e confio na vossa coragem, sei que vamos vencer! Nós não podemos assistir o Andulo a cair porque a história nos alcunhará de cobardes”.


Foi aquele combate de poucos e valentes soldados (um ataque que eu denominei “contra-ataque suicida”) com apoio de apenas um tanque T-64, dois Pakitos (Kamazes munidas do ZU-23 mm) e uns poucos Gvozdikas ( D-30 auto-propulsado), que se evitou a queda do Andulo no início de Março de 1999.


O contra-ataque das FALA sob comando do general Samy também foi furioso ao ponto de, em apenas 20 dias estar a 12 km do Kuito/Bié, onde foram travados apenas por ordens superiores (uma outra história por contar).


De repente no seio da população do Andulo (entre crianças, mulheres, velhos, letrados e não letrados) só se falava do general Samy. A sua fama era tanta, havia mesmo quem, entre a população, o alcunhou de “salvador do Andulo”. Essa fama não caiu bem nas lides dos “bufos” que chegaram mesmo a insinuar que ele é que se auto-proclamava “salvador do Andulo”, para além doutras intrigas… Foi por isso retirado compulsivamente das linhas de defesa do Andulo e enviado de castigo em Agosto de 1999 para o município da Catabola, de onde saímos as pressas com o Batalhão do falecido Cor. Papy para tentarmos socorrer o Bailundo, mas não fomos a tempo porque quando chegamos na fazenda Nova Aurora, o Bailundo acabava de cair nas mãos das FAA... (uma outra história por contar).


É POR ISSO QUE EU SOU INIMIGO NÚMERO UM DA INTRIGA NO SEIO DO PARTIDO. E NÃO TOLERO AQUELES QUE A SUSTETAM, SEJA LÁ QUEM FOR! Porque no passado já vi grandes conquistas a nos escaparem por culpa da intriga. Para mim, a saída do general Samy do eixo do asfalto, contou muito na balança da queda do Andulo…


O general Samy foi forjado nas lides dos Comandos Especiais e agigantou-se no seio das FALA como um dos seus fiéis soldados onde chegou a ser o seu último Vice Chefe do Estado Maior. Tive a honra de ter sido patenteado à Capitão por ele e ter sido seu Oficial de Campo de 1999 a 2000. Ele era o rigor e a disciplina em pessoa, um grande guerreiro e acima de tudo um grande patriota. A sua bravura não se resume nas batalhas do Etunda Tchisokokwa e do rio Mbwi resumidas neste texto. Teve uma longa e brilhante carreira militar, pois era um homem entregue à causa dos desfavorecidos desde os primórdios da sua juventude.


Que o vosso patriotismo continue a inspirar-nos Senhor General, para que a causa pela qual destes toda juventude triunfe!


Meu grande general, já ali se encontram os teus soldados para te acolherem com o estandarte: Brig. Relâmpago, Brig. Nganga, Cor. Papy, T/C. Mata-Mata, T/C. Eurico. T/C. Zé Maria, T/C. Betão Armado, T/C. Bejamim, T/C. Chitumba, T/C. Fumango, T/C. Todinho, Maj. Blindado, Maj. Tchifutchi, Maj. To-La-Tó, Cap. Antunes, Cap. Ozório, Ten. Guerra Chimbili, Ten. Milton, Ten. Djafani, Ten. Adriano Mbueti Wapula e outros valorosos soldados que tombaram no campo de honra!


A MINHA CONTINÊNCIA MAIKE 73!
QUE A SUA ALMA DESCANSE EM PAZ!

Zito Paiva