Luanda - 1. Ponto Prévio:  A reflexão que se segue é suportada por um breve juízo de valor sobre a nossa história politica e social. O que se pretende, aqui, é contribuir para a afirmação de uma mentalidade e consciência susceptíveis de devolverem ao cidadão a tradição de justiça, de boa-fé, de lealdade à lei e de confiança na equidade par com todos ao mesmo tempo chamar atenção à elite politicamente dominante para que transforme a historia num registo da dignidade humana contra toda a espécie de discriminação socio-económica de que é vítima a grande maioria da população angolana.


Fonte: Club-k.net
 

Portanto, trata-se de uma reflexão que deve ajudar a compreender que não deve existir, como no tempo colonial, o outro lado da estrada confrontado com a pobreza extrema, privada da água potável e luz, condenada a um abrigo vulnerável e sem acesso a posse segura do direito à terra.


2. Lições da História


Falhou e morreu o Estado colonial; falhou e morreu o Estado socialista; falhou e morreu a República romana; na Idade Média o povo queimou os castelos dos ricos barões tendo em desespero experimentado a teocracia e o comunismo. Outros Estados transformados em reinos também não são eternos. Portanto, teria enumerado mais exemplos, mas creio que o que mais releva para essa reflexão são as razões que determinaram a derrocada daqueles Estados. Obviamente, são tantas, contudo, a falta de unidade, entenda-se, hic, a ausência da fraternidade ou solidariedade sócia, económica, política; a falta do espírito de partilha, equilíbrio e alternância; a implantação de relações humanas baseadas no uso da força, violência, discriminação, exclusão e profundas desigualdades determinaram o desaparecimento dos Estados colonialista e socialista e da Republica romana.

 

Confira comigo o seguinte extracto tirado do livro de H.G.Wells intitulado «Historia Universal» pags 102, 103 __ «…a imprevista invenção e desenvolvimento do dinheiro, as tentações e roturas da unidade primitiva (…tradição de justiça, de boa-fé, confiança na equidade…) …e as complicações dos métodos eleitorais enfraqueceram e arrasaram essa tradição apresentando os velhos problemas sob disfarces novos, em que não podiam ser facilmente reconhecidos e, habilitando assim os homens a ser leais às exterioridades da cidadania e desleais ao s(cartão de militante 10366eu espírito»


3. Enquadramento da Questão no Contexto Actual


Cá, entre nós, temos desde a independência uma elite dominante que, capciosamente, perverte os fundamentos do sistema axiológico e desarticula, a todo o transe, os padrões sócio-politicos e culturais dos povos de Angola tendo, por conseguinte, transportado para o Estado independente, sob disfarces de uma nova ordem ou racionalidade, uma ordem politica, jurídica, económica e cultural reféns da racionalidade neocolonial. Trata-se da elite à semelhança daquela que presidiu à morte da república romana, leal às exterioridades da cidadania e desleal ao seu próprio espírito. Enfim, uma elite banhada de uma inteligência de ressonâncias que mais não cria nem inventa. Toda a sua academia ocupa-se da reprodução de politicas, doutrinas, leis ao serviço do interesse do grupo dominante. A elite em questão nunca foi inteiramente socialista atendendo a forma como ignora o fundamento histórico da emergência e desenvolvimento das ideias socialistas, mas também não é uma elite de democratas, por isso, serve-se das eleições como disfarce ou simulacro para alicerçar a sua posição permanecendo de todas as formas no poder como grupo dominante. Essa elite está encubada sempre nalgum partido como escudo.

 

Na verdade, trata-se de uma elite de feudocratas que se serve da roupa política para delapidar a riqueza do povo. Veja, o tipo de instituições, o modelo de desenvolvimento e a racionalidade que faz a sua natureza remetem, sem esforços, para o Estado neocolonial. A falta de diálogo livre, inclusivo e franco sem a tirania do partidarismo com as populações através das várias formas de participação do cidadão na vida politica ou ainda através de uma informação plural e do contraditório; a ausência de programas educativos para a cidadania e, por conseguinte, dos direitos humanos; a inexistência de políticas fundamentais em estudos multidisciplinares; a não-aproximação dos serviços básicos às populações; a pobreza extrema a usurpação das terras comunitárias por não terem sido demarcadas e tituladas e as demolições ilegais são alguns sinais que trazem à memória imagens de quem tudo sabe e dono de tudo tendo, por isso, estabelecido em todo o tecido social e humano relações de uma eternidade de humilhações e dependências à classe dominante contra todos os limites e freios.

Havemos de voltar…?