Luanda - O irmão da jovem angolana de 14 anos morta, no sábado, em Cafunfo, por um militar disse hoje que o caso nada teve a ver com o uso de máscara e que o autor do disparo estava embriagado.

Fonte: Lusa

Santa Manuel foi atingida no sábado, alegadamente quando foi abordada por um militar ao circular sem máscara numa rua da vila mineira, na província angolana da Lunda Norte.

 

Em declarações à Lusa, André Lourenço, irmão mais velho da jovem disse que o incidente nada teve a ver com o cumprimento das medidas de biossegurança contra a covid-19, ao contrário do que foi divulgado pela delegação provincial do Ministério do Interior na província da Lunda Norte.

 

As autoridades angolanas alegam que o militar interpelou três adolescentes na via pública por não uso da máscara, tendo realizado dois disparos em circunstâncias ainda por esclarecer, um dos quais causou a morte de Santa Manuel.

 

O irmão da vítima contou à Lusa que a jovem saiu com um grupo de amigas para ir comprar bolachas, pelas 20:00, não tendo mantido qualquer contacto com o militar.

 

"Ele estava a consumir bebidas alcoólicas e sentiu-se insultado por dois jovens que passaram. Como ficou irritado, quis dar uma corrida nos jovens e deu dois tiros", atingindo Santa Manuel no antebraço.

 

André Lourenço, o mais velho de sete irmãos, dos quais apenas cinco estão agora vivos, disse que a informação transmitida pelas autoridades é falsa e que o elemento das Forças Armadas Angolanas (FAA) "nem estava em serviço", embora levasse uma arma de fogo.

 

Santa Manuel ficou gravemente ferida e foi conduzida ao hospital regional de Cafunfo, onde acabou por morrer.

 

Segundo André Lourenço, o militar "foi para a sua unidade, como se nada tivesse acontecido", mas foi identificado e denunciado por testemunhas e encontra-se detido.

 

Já no hospital, familiares, amigos e vizinhos da jovem assassinada juntaram-se nas imediações, revoltados, o que levou o Exército a mobilizar forças para acalmar os populares

 

"Trouxeram um batalhão, armados, um tanque... em vez de os meliantes nos matarem, quem mata são as autoridades", lamentou.

 

André Lourenço queixa-se também do "apoiozinho" que as FAA fizeram chegar à família e reclama justiça.

 

"Vieram dar saco de arroz, caixa de frango e fuba quando deveriam assumir o óbito", criticou.

 

"Mas acima de tudo queremos justiça, não podem continuar a acontecer casos do género, o Exército tem de ter regras nas armas de fogo", apelou.

 

O funeral de Santa Manuel está marcado para terça-feira, mas o corpo ainda não foi entregue à família.

 

Cafunfo é palco frequente de incidentes violentos envolvendo elementos das autoridades que acabam em morte.

No final de janeiro, um confronto entre populares, alegadamente pertencentes ao Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe e a polícia provocou um número indeterminado de mortes, estimadas em seis pela polícia e mais de 20 por membros da sociedade civil local.

 

Mais recentemente, em abril, dois garimpeiros foram mortos a tiro por seguranças na mina de diamantes do Cuango.