Luanda - A TPA iniciou, nesta, segunda-feira (31), a exibição de uma série de quatro reportagens de investigação intituladas “O Banquete”, que mostrou ao detalhe toda "Operação Caranguejo" que culminou na detenção do Major Pedro Lussaty e apreensão de milhões de dólares, euros, kwanzas, carros de luxos e outros bens.

Fonte: JA

O trabalho de investigação jornalística apresentado pelo jornalista Cabingano Manuel expõe ao pormenor todos os esquemas fraudulentos e enriquecimento ilícito de Pedro Lussaty, com prejuízos avultados aos cofres do Estado.

 

No primeiro episódio, a TPA apresentou com exclusividade revelações inéditas de uma operação liderada pelo Serviço de Informação e Segurança do Estado (SINSE) e Serviço de Investigação Criminal (SIC), que visou recolher à mesa de um "banquete milionário", alegadamente com o envolvimento de algumas altas patentes da Casa de Segurança do Presidente da República.

 

A TPA relatou que acção inicial teve como destino o Condómino Imbondeiro, Talatona, onde Pedro Lussaty possui um apartamento. Na residência, os oficiais de investigação encontraram 19 malas com milhões de dólares, kwanzas e ainda 21 caixas seladas com mais de meio bilião de kwanzas.

 

"Só em kwanzas Major tinha no apartamento 800 milhões. Contas feitas, levando em consideração que Angola tem aproximadamente 30 milhões de habitantes, com 800 milhões de kwanzas dava para pagar quase um salário mínimo à todos os angolanos", relatou a TPA.

 

Ouvido pela reportagem, o jurista Bernardo Milonga sublinha que a dimensão do dano causado à esfera do Estado "leva em crer que se está diante de uma associação criminosa".

BNA abre inquérito

De acordo com o episódio, identificado os valores as malas foram todas fechadas e enviadas para a contabilidade do Banco Nacional de Angola (BNA).

 

Na reportagem, o BNA refere que abriu um inquérito a fim de apurar de que forma é que as caixas com o selo do BNA foram parar nos apartamentos do Major Pedro Lussaty. "Sabemos dos volumes que seiem, em que bancos comerciais vão, dia, hora e quem os levanta", acrescentou José de Lima Massano.

 

Com base nestes registos, disse, está em curso um trabalho de investigação para compreender em que circunstâncias alguns daqueles volumes de dinheiro foram entregues à clientes do banco comercial identificado.

Tentativa de fuga

A investigação prosseguiu no condomínio Imoluamda, em Talatona. O objectivo, conta a reportagem, era deter o Major milionário. Este apercebendo-se que estava a ser perseguido pelos agentes do SINSE e SIC meteu-se em fuga, mas sem sucesso.

 

"Capturado, não ofereceu resistência. O misterioso homem das malas milionárias, carros, casas de luxos e relógios caríssimos. Quando tentava fugir levava consigo três passaportes, dos quais um de serviço, 6.500 euros, uma pistola, chaves, cartões multicaixa e dois smartphones", descreveu a TPA.

 

Conta a TPA que, dias antes de ser apturado, Pedro Lussaty tentou abandonar o país com destino a Paris, França. Chegou a comprar um bilhete, foi ao aeroporto e fez o check-in. Prestes a embarcar foi alertado pelos seus informantes que estava a ser monitorado.

 

Na matéria, Pedro Lussaty afirma que não sabia quanto tinha de dinheiro em posse. "Eu só tirava", rematou o Major. Com ajuda dos agentes, Lussaty mostrou toda a gama de carros de luxos que tinha no estacionamento de uma das suas residências. As marcas dos automóveis, vão desde, Lexus, Volvo, BMW, Land Cruiser VX, Grand Cherokee, Mini Cooper, Mercedes-Benz, Nissan Patrol e outras marcas.

Envolvimento de altas patentes

A TPA prossegue na reportagem referindo que, Lussaty apesar de ter sido exonerado do cargo continuou a ter acesso a um esquema fraudulento na Casa de Segurança do PR.

 

Um documento inédito, conforme a TPA, revela que no período entre 2011 e 2017, o Major em conluio com altas patentes da Casa de Segurança do Presidente da República, controlavam 12 batalhões e vários serviços sob tutela da Casa de Segurança.

 

"Neste período o os envolvidos terão beneficiado de de um valor mensal fraudulento que variava de cinco milhões a 12 milhões de kwanzas, perfazendo em média de 360 a 864 milhões de kz durante os seis anos em estiveram em exercício", detalha a matéria.

 

Para o jurista Bernardo Milonga "é uma triste situação tendo em que conta os órgãos castrenses regem-se por valores de amor à pátria e tudo aquilo que diz respeito à todos nós. Os militares são aqueles que estão na linha da frente nos momentos mais difíceis".

 

Num outro momento, durante as investigações, Pedro Lussaty garantiu ser o proprietário de todo dinheiro apreendido e dos mais de 30 carros. No leque dos bens aprendidos constam ainda embarcações (iates) de recreio, uma mota de água, terrenos e vários apartamentos, na capital do país, além de outros acessórios de luxo.

Esquema de desvios

Afinal, toda a operação financeira para esvaziar o erário público foi montada no período entre 2011 a 2017. Neste período, avança a reportagem, o esquadra era feito por via da requisição de valores para as despesas com o pessoal e pagamentos de bens e serviços, era com base na elaboração de uma plano de pagamento que eea submetido ao Ministério das Finanças.

 

Após a sua aprovação, os montantes eram levantados em "cash" no Banco de Poupança e Crédito (BPC) e transportados em camiões, para de seguida serem depositados na tesouraria central da Unidade da Guarda Presidencial (UGP).

Perfil

Pedro Lussaty é natural do Lubango, província da Huíla. Ingressou nas Forças Armadas Angolanas (FAA) em 1997. Licenciado em Informática, trabalhou até 2019 na Casa de Segurança do Presidente da República, como auxiliar da secretária geral.