Luanda - Os familiares consanguíneos de Salupeto Pena, Alicerces Mango, Jeremias Chitunda e de Eliseu Chimbili foram submetidos, ontem, em Luanda, à recolha de sangue e saliva, no Laboratório Central de Criminalística, para o cruzamento do ADN feito às ossadas dos respectivos restos mortais daqueles dirigentes da UNITA mortos durante os confrontos pós-eleitorais de 1992.

Fonte: JA

O anúncio foi feito, ontem, pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, depois de uma visita de acompanhamento dos membros da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação das Vítimas de Conflitos (CIVICOP) ao Hospital Américo Boavida, para constatar as ossadas de vítimas de conflitos políticos ocorridos desde a Independência (11 de Novembro de 1975) até 4 de Abril de 2002, e ao Laboratório Central de Criminalística.


No necrotério (morgue) do Hospital Américo Boavida, no quadro do procedimento de identificação visual das ossadas das vítimas de conflitos armados, os familiares tomaram contacto com as daqueles que podem ser os restos mortais de Elias Salupeto Pena, então representante da UNITA na CCPM (Comissão Conjunta Política e Militar), Adolosi Paulo Alicerces Mango, secretário-geral do partido, Jeremias Kalandula Chitunda, vice-presidente, e Eliseu Sapitango Chimbili, antigo chefe dos Serviços Administrativos da UNITA.


Num transporte colectivo, os familiares seguiram, depois, para o Laboratório Central de Criminalística onde foram submetidos à recolha de amostras (sangue e saliva) para testes de ADN que, posteriormente, serão cruzados com os exames às ossadas das vítimas.


O ministro assinalou que o processo de entrega de corpos das vítimas de conflitos políticos começou formalmente ontem. "No entanto, há necessidade de assegurar o procedimento de identificação dos restos mortais”, referiu.


"Estamos a cumprir o programa estabelecido, depois do pedido solene de desculpas e de perdão pelo Presidente da República, João Lourenço, em nome do Estado angolano. O passo seguinte é entregar os restos mortais às famílias para o enterro”, disse.


Francisco Queiroz reforçou que só depois dos testes de ADN e do cruzamento com as ossadas das vítimas é que deve ser entregue o respectivo corpo a cada família, com base na identificação feita. "Os restos mortais serão, nesta fase, entregues em caixão a cada família, para fazer um funeral de acordo com a sua tradição”, afirmou.


O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos garantiu que os resultados dos testes feitos, ontem, aos familiares deve durar até três dias, mas a conclusão pericial do cruzamento com as ossadas dependerá da dinâmica do processo de exame e diagnóstico por ADN.


"Uma vez que estamos em presença de restos mortais que sofreram uma decomposição acentuada - estamos a falar de restos mortais que têm quase 30 anos -, a recolha de amostras obedecerá a um procedimento que passa pela lavagem e limpeza que leva o seu tempo”, reconheceu.

Confiança nos peritos


O coordenador da CIVICOP reconheceu a capacidade técnica do Laboratório Central de Criminalística (LCC) para a fiabilidade dos testes.


Francisco Queiroz disse que o LCC tem muita experiência por ter feito já muitos trabalhos semelhantes. O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos admitiu a possibilidade do Governo permitir que familiares possam fazer exames posteriores.


"Confiamos nos resultados deste laboratório, mas, para garantir maior liberdade e direitos das famílias, quem quiser fazer outros exames, recorrendo a outros laboratórios, é livre”, disse, acrescentando que o Governo tem confiança no laboratório e, por isso, dispensa o recurso a outros laboratórios.


O ministro esclareceu que, neste processo, o Estado vai apenas garantir a entrega dos restos mortais, em caixões às famílias. "Estas famílias, seguramente, terão seus programas e rituais para o enterro e o Estado vai respeitar isso”, afirmou.


Francisco Queiroz garantiu que, para os restos mortais que forem encontrados em lugares distantes do domicílio das famílias, o Estado vai assumir a responsabilidade de fazer a transladação.


Membro da CIVICOP, a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, sublinhou o trabalho conjunto para garantir o respeito das questões sanitárias à volta do processo, sublinhando que há questões de saúde de fundo a ser acauteladas.


Descoberto local secreto com ossadas das vítimas do "27 de Maio”


Membros da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação das Vítimas de Conflitos (CIVICOP) visitam, na próxima semana, um local secreto, onde foram encontradas ossadas das vítimas do "27 de Maio de 1977”, para a posterior exumação dos restos mortais.


O anúncio foi feito, ontem, em Luanda, pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, na qualidade de coordenador da CIVICOP, no final de uma visita de acompanhamento de familiares das vítimas de conflitos políticos, desde 11 de Novembro de 1975 a 4 de Abril de 2002, ao Laboratório Central de Luanda.


Francisco Queiroz, que não revelou o local exacto para não "ser contaminado” por invasão popular que possa atrapalhar o trabalho de perícia na recolha e tratamento dos restos mortais, garantiu que as condições estão a ser criadas para a exumação das ossadas.


Há 44 anos, trágicos acontecimentos que se seguiram ao 27 de Maio vitimaram um número indeterminado de cidadãos. Dos restos mortais (ossadas) a serem localizados estão os de Alves Bernardo Baptista (Nito Alves), Jacob João Caetano (Monstro Imortal), Ernesto Eduardo Gomes da Silva (Bakalof), Sita Maria Dias Valles (Sita Valles), José Jacinto da Silva Vieira Dias Van-Dúnem (Zé Van-Dúnem), António Urbano de Castro (Urbano de Castro) e David Gabriel José Ferreira (David Zé).


Constam ainda os nomes de Artur de Jesus Nunes (Artur Nunes), Pedro Fortunato, Arsénio José Lourenço Mesquita (Sianuk), António Lourenço Galiano da Silva e Domingos Ferreira de Barros (Sabata), além de ex-militares da 9ª Brigada, do Destacamento Feminino e da DISA.