Luanda - A cerca de um ano das eleições gerais em Angola, o porta-voz da UNITA avança que “a saúde interna do partido é muito boa e recomenda-se”, denunciando “as bocas de aluguer” que têm contestado a liderança do partido. Para Marcial Dachala, a explicação é simples: Adalberto Costa Júnior “incomoda” o sistema. O presidente da UNITA também se vai pronunciar sobre as vítimas da guerra em Angola, mas apenas quando for “oportuno” e não soar a “aproveitamento político”.

Fonte: RFI

Marcial Dachala, Porta-voz da UNITA: “Eu gostaria de dizer a propósito deste pedido de desculpas do senhor Presidente da República que nós, a UNITA, ao nosso nível, já o fizéramos, um pouco antes do fim do conflito armado: em 2001 o doutor Savimbi fez esse pedido de desculpas quando falou do nosso passivo. Quando a guerra terminou em Dezembro de 2002 o general Lukamba Gato, na qualidade de coordenador da Comissão de Gestão, pediu exactamente desculpas e o doutor Samakuva enquanto presidente da UNITA fez também um pedido de desculpas.

Recentemente, o nosso presidente, o engenheiro Adalberto Costa Júnior disse que fá-lo-á no momento que a direcção julgar oportuno. Por isso mesmo, ouvimos, como todos, o pedido de desculpas vindo de sua excelência o Presidente da República e apenas consideramos que faltou em todo o discurso uma frase que seria mais ou menos “a procura de toda a verdade”. Nós, angolanos, falamos muito de reconciliação e falta-nos colocar actos que, no dia a dia, efectivamente reflitam esta vontade de nos reconciliarmos.”

RFI: “Que tipo de actos? Já está a haver actos, por exemplo, os familiares de Salupeto Pena, Alicerces Mango, Jeremias Chitunda e de Eliseu Chimbili foram mesmo os primeiros a serem submetidos à recolha de sangue e saliva para o cruzamento do ADN feito às ossadas dos restos mortais daqueles dirigentes da UNITA mortos durante os confrontos pós-eleitorais de 1992. Além disso, também vão ser atribuídas certidões de óbito as vitimas da guerra entre 1975 e 2002. Isso não chega?”

Marcial Dachala: “Estamos a dizer que esses actos têm mais um pendor administrativo porque todo esse processo, no nosso entendimento, deveria ter sido um processo que culminaria com uma declaração do senhor Presidente da República. O nosso entendimento é que seja o ponto de partida para que se apure toda a verdade relativa à nossa trajectória como país, começando pela fase que precedeu o 11 de Novembro de 1975 porque temos ainda a registar vítimas das guerras fratricidas que aconteceram muito antes da independência entre os três movimentos de libertação, como também há vítimas antes do 11 de Novembro.

Portanto, o processo deveria ser muito mais abrangente para que se apure mesmo a verdade. A Comissão devia integrar sobretudo pessoas da Universidade, homens do saber, personalidades também da área espiritual. Do ponto de vista político, devíamo-nos conciliar politicamente. No concreto, devíamos é ter processos de concorrência ao poder transparentes, credíveis e consensuais porque a corrida ao poder é que nos tem causado essas dificuldades todas.”

RFI: “Disse que o doutor Adalberto Costa Júnior fará uma declaração no momento oportuno. Mas não é agora o momento oportuno, um ano antes das eleições, para a UNITA fazer esse ‘mea culpa’, sabendo que o Presidente da República pode granjear algum capital político falando nesta altura e vocês não estarem a seguir este movimento?”

Marcial Dachala: "Justamente. O momento em que aconteceu esse discurso pode levar a interpretações de procurar alguma vantagem política. Ora, as vidas das pessoas são tão sagradas que não deviam ser, de forma nenhuma, alvo de exploração eleitoralista. É por isso que eu disse que o presidente da UNITA - na senda do que fez o presidente fundador, o doutor Savimbi, do que fez o general Lukamba, do que fez o doutor Samakuva- também no momento em que a UNITA julgar que deve fazê-lo, voltará a fazê-lo. É um reiterar com, naturalmente, outros adjectivos que hão-de dar corpo a este pronunciamento.”

RFI: “Como é que está a saúde interna da UNITA a um ano das eleições? Têm sido recorrentes as notícias de alegadas dissidências internas contra o presidente do partido. Temos consenso sobre quem vai ser o cabeça-de-lista da UNITA?”

Marcial Dachala: “O cabeça-de-lista da UNITA é o presidente do partido: o presidente engenheiro Adalberto Costa Júnior. Quanto à saúde interna do partido é boa, muito boa, recomenda-se para exemplo das outras formações políticas angolanas.”

RFI: “Um grupo de militantes da UNITA fez ataques à liderança do partido e dirigiu-se ao Tribunal Constitucional para exigir a impugnação do congresso que elegeu Adalberto Costa Júnior que acusam de violar os estatutos do partido, alegadamente por ter dupla nacionalidade. Também o acusam de ter desviado 400 milhões de kwanzas do partido para comprar uma casa de luxo em Portugal. Isto tudo surge numa altura em que estamos a um ano das eleições e dá a ideia que o partido está em crise…”

Marcial Dachala: “O engenheiro Adalberto Costa Júnior foi eleito por mais de 53% no congresso do nosso partido que teve lugar em Novembro de 2019, o XIII Congresso. O Tribunal Constitucional, a 20 de Junho do ano passado, fez publicidade dos estatutos do partido e da legalidade e legitimidade da direcção do partido liderada pelo engenheiro Adalberto Costa Júnior. Esta é que é a realidade.

Falou dessas vozes, dessas bocas de aluguer que se sabe quem está por detrás para perturbar. A personalidade Adalberto Costa Júnior incomoda. Incomoda o ‘establishment’ de tal forma que decidiram combatê-lo à exaustão. Mas estamos serenos, o presidente está muito tranquilo, está a fazer em profundidade e com toda a responsabilidade o seu trabalho, e tem procurado, inclusive, o diálogo com o poder. Portanto, é este senhor que o país precisa como líder.”

RFI: “Adalberto Costa Júnior está a conseguir alguns apoios externos. Por exemplo, foi recebido pelo Presidente da Guiné-Bissau, estando Sissoko Embaló de relações cortadas com João Lourenço há um ano... O que esperam deste apoio?”

Marcial Dachala: “O presidente foi explicar como é que está o estado da democratização do nosso país e esteve em países africanos. Também esteve em países europeus, tratou com várias personalidades, organizações promotoras da democracia e interessadas em promover a democracia em Angola e África para que essas organizações e essas personalidades apoiem o processo de aprofundamento da democracia em Angola. O nosso caso concreto, o nosso edifício democracia é democracia de topo, em Angola só são eleitos os deputados e mesmo o Presidente da República não é eleito em lista própria, é eleito cabeça-de-lista nas eleições gerais. Pedir apoios para nós aprofundarmos a nossa democracia por forma a que ela tenha alicerces no poder local eleito é muito mais do que legítimo.”

RFI: “Houve relatos que Adalberto Costa Júnior se teria encontrado com o antigo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, antes de se encontrar com Umaro Sissoko Embaló. Quer comentar?”

Marcial Dachala: “Eu não tenho essa informação e pelo que ouvi do meu presidente, ele não se encontrou com o ex-Presidente da República de Angola, não.”

RFI: “No início de Maio, informação avançada pelo Novo Jornal dizia que Adalberto Costa Júnior e Abel Chivukuvuku disputariam as presidenciais pela Frente Patriótica Unida, uma coligação entre UNITA, BD e PRA-JA. Pode, de facto, haver esta união para enfrentar o MPLA?”

Marcial Dachala: “É um compromisso do nosso presidente, um compromisso da sua campanha, a constituição de uma Frente Democrática e Patriótica para a alternância do poder e está sendo feito o trabalho para a concretização da frente Patriótica para a alternância no poder. Há conversações que avançam todos os dias um pouco mais, com o Bloco Democrático, com o doutor Abel Chivukuvuku e muito mais personalidades do país estão trabalhando connosco na perspectiva da efectivação da frente.”

RFI: “A UNITA exigiu a demissão do governador do Banco Nacional de Angola (BNA), devido ao escândalo financeiro que envolve oficiais da Casa de Segurança do Presidente da República. Como está esse processo?”

Marcial Dachala: “No fundo, o que o grupo parlamentar da UNITA fez é solicitar que o governador seja demitido porque não se pode aceitar que um major tenha movimentado tanto dinheiro. Por outro lado, isto não se trata de um caranguejo, trata-se de um polvo que tem tentáculos e tentáculos. Todo esse processo que colocou em causa a Casa de Segurança de sua excelência o senhor Presidente da República. Mas tudo isso acontece porque no passado a Casa Militar era praticamente o governo dos governos e hoje a Casa de Segurança também não ficou limpa dos vícios do passado.”

RFI: “Mas houve exonerações.”

Marcial Dachala: “Com certeza que as houve, sobretudo a exoneração do Chefe da Casa de Segurança do senhor Presidente da República – que era ministro de Estado – mas a Presidência da República fica maculada quando a Presidência da República deve ser o exemplo e o modelo daquilo que deve ser o respeito pelas regras republicanas.

A Casa da Segurança do Presidente da República também é um factor de estabilidade mas na Casa de Segurança do Presidente da República funcionam gabinetes de propaganda institucional, funcionam também gabinetes de acção psicológica, o que, sinceramente, em democracia não pode ser.

A Casa de Segurança do Presidente da República parece que tem mão sobre todos os aspectos fundamentais da vida do país: manda na Endiama, manda na Sonangol, no passado a Casa Militar tinha o gabinete de reconstrucção nacional, antes disso tinha o gabinete de obras especiais. Corriam, portanto, na Presidência, por meio desta casa, enormes balúrdios que fez com que seguramente alguns vícios se instalaram. Para todos nós é importante que a Presidência do país seja um exemplo, seja impoluta.”

 

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