Luanda - Respondendo em liberdade condicional, José Henrique Cambinda e Amões Rafael Chipipa, agentes da Polícia Nacional, respondem, na 8.ª Secção Criminal, no Benfica, pelo crime de homicídio voluntário contra Vladimiro Maxia, 27 anos, no bairro Vila Alice, supostamente por roubar 50 mil kwanzas e um telemóvel de um cidadão.

Fonte: O Crime

Na manhã de segunda-feira, por volta das 11 horas, o juiz da causa, ao abrir a audiência de julgamento, verificou que José Henrique Cambinda estava vestido com o traje da Polícia, facto que o levou a questionar a razão, sendo que os agentes da Polícia ou militares são julgados fardados apenas em fórum próprio, isto é, no Tribunal Militar. Por seu turno, o acusado respondeu que não teve tempo de trocar de roupa, por ter passado, antes, na unidade para receber guia.


O juiz suspendeu, então, a audiência, remarcando-a para o dia 23 de Abril, com audição dos declarantes, mas, antes, permitiu que a defesa dos réus apresentasse a contestação. Este, por seu turno, começou por pedir à imprensa que o seu nome não fosse citado, tendo em conta a complexidade do processo.


A seguir, refutou a acusação do Ministério Público, justificando que os seus constituintes não cometeram o crime de homicídio voluntário, mas de homicídio simples, acrescentando que os mesmos agiram por legítima defesa, solicitando, deste modo, absolvição.


Mais adiante, disse que, embora o malogrado tenha apresentado perigosidade, em circunstância alguma, os polícias queriam vê-lo morto, posto que, depois de ser atingido, houve tentativa de socorro, uma vez que José Cambinda ligou para a Unidade Operativa, pedindo uma viatura, mas antes que chegasse, Vladimiro acabou por morrer.


Entretanto, disse que os réus agiram com o único objectivo de se defenderem e neutralizar o perigo iminente, uma vez que o malogrado partiu para uma luta corporal, tendo, inclusive, apontado uma arma de fogo do tipo pistola a José Cambinda, facto que levou o seu colega, Amões, a efectuar disparo que o atingiu no tronco.


Porém, segundo o relatório pericial e exame do cadáver, tal disparo é imputado a José Cambinda. Por outro lado, disse que Amões teria efectuado o segundo disparo, por ver o malogrado a querer ainda usar a arma de fogo que estava em sua posse para atirar contra José.


Já José Henrique Cambinda e Amões Rafael Chipipa, em sede de julgamento, não tiveram tantos argumentos, pois, quando foram interrogados sobre quem tinha efectuado o primeiro disparo ao malogrado, os dois não souberam dizer. Entretanto, depois de serem apertados pelo tribunal, começaram a contradizer-se, pois, a dada altura, um dizia que foi ele e o outro a mesma coisa.


Só depois de serem ouvidas as testemunhas, José Cambinda confessou parcialmente o crime, alegando que não foi sua intenção matar Valdimiro, e que o fez por ver sua vida em risco, uma vez que aquele estava armado e lutaram, quando procedia à detenção. Em lágrimas, manifestou arrependimento, dizendo que Vladimiro era jovem como ele e não esperava que isso acontecesse.

“Meu filho cometeu, mas não merecia morrer e sim ser preso”


Eduarda Maxia, mãe do malogrado, contou a nossa equipa de reportagem as circunstâncias que o filho foi assassinado: “foi em 2019, meu filho cometeu, retirando um telefone e 50 mil kwanzas da mão de um senhor estrangeiro.


A Polícia, depois de ser accionada, o perseguiu. O senhor José Henrique Cambinda pegou-o, andaram uns 50 metros e, numa zona baldia, onde as câmeras já não apanhavam, puseram-no sentado, fizeram-lhe o primeiro disparo no braço, que os polícias chamam de «tiro do interrogatório», depois fizeram-lhe o segundo da virilha e o último do peito. Eles alegam que o meu filho lutou, mostrou resistência, mas não foi o que aconteceu, não é essa a verdade, pois, na Zap, onde eles estavam, tinha câmeras… puseram o meu filho num outro lugar onde estava escuro”.