Luanda - A falta de dinheiro nas caixas automáticas (ATMs) parece responder à questão implícita com o título “Angolanos irritados com enchentes nas caixas automáticas pedem explicações”, publicado aqui no portal Club-K. Por volta do final do ano passado, altura em que situações do género degeneram, passam do mal a pior, uma voz ligada à Empresa Interbancária de Serviços (EMIS) tentou explicar que o número de ATMs era exíguo e, por isso, era necessário instalar mais terminais para reduzir os aglomerados relacionados com o levantamento de valores monetário nestes equipamentos.

Fonte: Club-k.net

Todavia, no passado dia 01/07/2021, um cidadão celebrou o facto de ter encontrado dinheiro nos dois ATMs de uma agência bancária do distrito urbano do Benfica com um sinal da cruz cristão. Para explicar o milagre daquela quinta-feira, ele alegou que saiu do Zango logo pela manhã, procurou por Viana fora e todos os ATMs estavam inoperantes ou sem dinheiro. Foi pela Estalagem, FTU, Congolenses, 1º de Maio, Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, aqui no Aeroporto também não encontrou a solução, após Gamek e Morro Bento, já fazendo caminho de regresso a casa e, ao passar por Benfica para apanhar a via expressa, havia acontecido o insólito. Na verdade aqueles ATMs acabavam de ser carregados considerando que, mesmo assim, o sítio ficou povoado por um instante. Portanto, não convence dispersar ATMs que ficam sem dinheiro mesmo depois de sua instalação.


Por “azar da cobra”, tendo em conta os cartões ligados ao Banco de Poupança e Crédito (BPC) e serviços electrónicos respectivos, é possível inferir que alguns bancos comerciais comparticipam para as enchentes nos ATMs. Faz tempo que, exactamente nos dias críticos, primeira e última semana do mês, período em que a maioria das empresas efectua os pagamentos salariais, os serviços electrónicos desse Banco entram em colapso. Um cliente residente na cidade de Porto Amboim sugeriu mesmo uma manifestação pública contra o Banco. As vezes o mínimo que esses cartões fazem é permitir o levantamento de apenas 2.000,00 Kz (dois mil kwanzas) por movimento. Assim seu utente terá de fazer trinta movimentos para conseguir levantar 60.000,00 Kz, o que aumenta a fila, o tempo de espera e a raiva de todos.


Por baixo desse enigma deve estar a falta de dinheiro. Sim. Os ATMs não têm dinheiro especialmente durante a primeira e última semana do mês. Os ATMs deveriam ser carregados com dinheiro e com intensidade durante esse período, porém, isso implica na mudança do protocolo para o processo, o que pode ser complicado para integridade do próprio sistema bancário.


Os utentes deveriam evitar ir aos ATMs nos dias considerados críticos, referidos. Tal faz pensar que, por baixo do enigma, está o facto de que os utentes de cartões multicaixa e relativos preferem levantar dinheiro nesses dias provocando a enchente, o que deverá ser desde o princípio cauteloso. Ninguém se mete, por vontade livre, nesse caos. Todos estão cientes quanto essas aglomerações são cansativas, irritantes, expositoras, risco de contaminação por doença; interferem nas agendas pessoais e laborais. Afinal, por que não se acorre aos ATMs nos dias mais calmos, isto é, nas semanas intermédias do mês?

A resposta à questão pode resolver o enigma das enchentes nos ATMs. Por enquanto sugere-se a seguinte: POBREZA


O que estará a acontecer é um autêntico assalto aos ATMs e aos bancos nos dias em que são pagos os ordenados. Ninguém tem dinheiro para guardar e por cima no banco, considerando o que seria a maioria. Não se poupa o que não se tem. Muitos salários são propostas de há mais de 10 anos, altura em que com 100.000,00 Kz poder-se-ia comprar quase 1.000,00 USD (mil dólares norte americano). Hoje, mal se consegue comprar 150,00 USD com 100.000, 00 Kz. Há 10 anos o saco de arroz de 25 kg estava bem abaixo de 5.000,00 Kz; hoje está bem acima de 10.000,00 Kz. Os bancos devem estar a passar pelos mesmos sintomas. Mal se podem pôr em pé para carregar os ATMs de forma regular. E quem faz a fila para levantar dinheiro directamente no balcão, só recebe 20.000,00 Kz se estiver na cidade do Cuito, Bié, conforme testemunhas.


Não tem enigma nas lixeiras. Quando as enchentes são nas lixeiras à procura de mantimentos a pobreza não se oculta e não é enigmática, como acontece contrariamente quando as enchentes são nos ATMs e nos bancos.

Sérgio Sabalo
10/07/2021