Madrid - O executivo angolano com o encerramento dos cursos de Filosofia, Psicologia, Matemáticas, Químicas e Físicas, mostra-nos uma vez mais que realmente está num barco condenado a deriva. “Um povo ignorante é um instrumento cego da sua própria destrução…” dizia Simón Bolivar.

Fonte: Club-k.net

Não se entende esta decisão do governo, tão pouco a sua pretensão com a mesma. Nos últimos meses, o executivo angolano, através das suas decisões, evidencia esgotamento político, falta de ideais e estratégias de governação. Já não sabe o que fazer. Esta é uma das atitudes típicas dos governos autocráticos quando percebem que com o acesso a educação o povo acorda, reclama, critica e questiona. Nenhum governo sem projecto de país, vê com agrado este tipo de atitudes vindas do povo.


Nenhuma desculpa é valida quando o assunto é educação. A redução ou eliminação de conteúdos em matéria educativa é um grande erro e atraso. Se formos a analizar todas as decisões tomadas pelo executivo nestes últimos meses, veremos que nenhuma delas tem o foco na melhoria dos problemas do povo soberano.


Há dinheiro para um metro de superfície, que entendendo a conjuntura do país, é completamente desnecessário. Numa cidade sem água para todos, sem acesso a electricidade para todos, com estradas secundárias e terciárias practicamente inexistentes…entre outras carências, aprova-se uma obra com custos que prefiro não mencionar aqui para não ferir sensibilidades tamanha é a aberração. Não conseguem gerir os autocarros da TCUL ou da Macom e aventuram-se com a construção e gestão de um metro, em uma cidade como Luanda, onde, não esqueçamos que, senão fosse pelo trabalho dos taxistas, vulgo “candogueiros”, boa parte da população não teria meios de locomoção. Onde a população está a comer graças ao que encontra nos contentores de lixo. E morrem nas pediatrias diariamente mais de cem crianças e onde as mulheres são obrigadas a se prostituirem para sobreviverem.

Sinceramente, a construção deste metro serve “unicamente para o inglês ver”.

Por outro lado, ainda não vimos resolvido o problema das famílias que morrem a cada dia no Sul de Angola pela consequência das secas. Esperamos que da auscultação feita recentemente, pelo executivo, na província do Cunene advenham soluções que para além de douradoras (e não paliativas), sejam implementadas com celeridade, acabando assim com a fome e a extrema pobreza.


Do mesmo modo, se decide revisar a constituição - a nossa carta magna - prometendo com este facto devolver aos cidadãos da diáspora a possibilidade de participar da vida política do país. Levaram a cabo esta revisão com a condição de que estes cidadãos poderão eleger, mas não serem eleitos. Portanto, continuarão desta forma a depender das embaixadas, quer dizer, do partido no poder, para a resolução dos seus problemas. Ainda nesta senda da revisão constitucional, se incluíram outros conteúdos ocultos duvidosos, todos eles em benefício único do mesmo partido no poder.


E quando pensávamos ter visto de tudo, surgem-nos com o despropósito de eliminar cursos tão fundamentais para a construção do homem e da mulher, bem como para formação do pensamento crítico, como é o caso do curso de filosofia. E outro tão importante nesta sociedade de tantos problemas e frustrações como é o da Psicologia. Se queremos ser competitivos no campo industrial e da inovação ou da inteligência artificial é fundamental investir em cursos como os de química, física ou matemática. As físicas e matemáticas são importantes para as áreas das computações, para o pensamento abstracto, ordenado e lógico.


Tanto é que boa parte dos técnicos que trabalham com o acelerador de partículas (investigação da origem do universo) são físicos. Para o controlo de muitos sistemas bancários se trabalha com matemáticos e físicos. E na indústria alimentar e farmacêutica, entre outras, são imprescindíveis os técnicos formados em químicas.


Meus senhores e senhoras, não mutilem mais o país, não nos cortem as asas, tirem-nos tudo menos a educação, porque só através dela temos a igualdade de oportunidade e a possibilidade de mudar o nosso paradigma actual. Queremos crescer, ser competitivos nos campos da ciência e investigação, da inovação e do conhecimento.


Por favor, não insistam em começar a construir a casa pelo teto. Não queremos vaidades, queremos ser livres e só o faremos através da educação.


Ponhamos em prática os ensinamentos do grande Madiba – Nelson Mandela: “A educação é a arma mais poderosa que podemos usar para mudar o mundo.”