Luanda - Cada vez mais sentimos o amargor da desgraça e de desânimo que enfrentamos todos os dias com os olhos da esperança fitos na bruma do horizonte, a espera do sol nascer para um dia diferente dos dias dos últimos 45 anos. O dia em que a verdade e a confiança se tornarão pressupostos do diálogo, e da convivência entre nós. Angola não pode deixar de ser sensível a verdade, a confiança e ao sofrimento. Tenho assistido com muita preocupação, o extremar de posições entre variadíssimos actores da cena política angolana, numa regressão perigosa às teses do absolutismo, da cartilha do gueto doutrinário, fechado em si mesmo com a incapacidade de compreender as diferenças e as escolhas políticas dos outros cidadãos angolanos.

Fonte: Club-k.net

Toda uma instituição política, que acredita na sua superioridade sobre os outros e que interiorizou, este preconceito hegemónico, dificilmente pode aceitar, coabitar com os outros que considera inferiores a si, sustenta o princípio de que lá, onde houver espaço para mim não deve existir espaço para mais ninguém, rejeita toda a possibilidade de convivência nesse espaço com todos aqueles que não comungam os seus interesses, as suas crenças, os seus ideais.


Temos de mudar de temática, de argumento de aproximação das nossas contradições sociais, políticas, culturais, etnolinguísticas, raciais, etc. Temos de demonstrar o valor do princípio da subsidiariedade, inseparável à solidariedade, precisamos de reconhecer ao outro, o direito de ser ele próprio e de ser diferente, e a partir deste reconhecimento, é possível construir um pacto social. Sem este reconhecimento, os sonhos de liberdade, igualdade, fraternidade, são meras formalidades desfiguradas, títulos vazios, sem conteúdo. Temos de dialogar, um diálogo livre de partidarites, livre das minorias e maiorias retidas nas dimensões semânticas e ideológicas, limitando-se a receitas efémeras de marketing, cujo recurso mais eficaz é a destruição do outro, nesse mesquinho jogo, de diálogo manipulado para se manter no estado de controvérsia e contra-posição. A vida subsiste, onde há vinculo de confiança, de fraternidade, e convivência, numa relação sadia, autêntica que se abre aos outros, que faz crescer o nobre sentido de patriotas. Uma meditação serena dos 45 anos de independência há de nos oferecer um arsenal de inquietações, dúvidas e interrogações. Precisamos de compreender esse tempo, olhando o país na dinâmica do dia-a-dia repensar como a vida do cidadão angolano vai continuar; refém da ideologia? Que pegou o angolano pelo sensorial e pela emoção? Não! É pela racionalidade da geografia humana. É o angolano em primeiro lugar, é a cidadania em primeiro lugar. Angola tem de dialogar com verdade e confiança, Angola tem de concertar, Angola tem de criar consensos, para se afirmar, um pacto de convivência nacional um módulo didático-pedagógico do ser angolano, um guião que vai estabelecer os grandes roteiros por onde o país vai caminhar.

De nada adiante escamotear o nosso passivo col ectivo , e forjar imaculados, não haverá capacidade de alterar o nosso passado triste, infelizmente. Precisamos de coragem, da verdade e da confiança, entre todos, para nos redimirmos diante da História, para que Angola seja igual para os que comem, manjiongolo, meto e mel, para os que comem pirão de massango e massambala com carne ou peixe, para os que comem funge com calulu, para os que comem batata com bacalhau, para os que comem funge com kizaka, que comem mahini, para os que comem pirão com feijão e lombi, etc.


Deve residir nos angolanos a vontade de vivermos juntos a partir de princípios e valores partilhados, para o almejado conceito de nação, não como uma comunidade natural, mas sim, comunidade resultante de um processo histórico, sociológico, cultural e de contrato político, de uma associação voluntária dos seus membros unidos em torno de um interesse nacional.

Quo vadis angola nossa?

Chipindo Bonga