Luanda - A incoerência entre os critérios de selecção para acesso às instituições públicas de educação e de ensino vs. Atribuição de notas injustas e/ou administrativas nas escolas de nível inferior

Fonte: Club-k.net

Quando fizemos o Ensino Médio (hoje II Ciclo), fomos dos melhores alunos na nossa turma. Havia ocasiões em que os Professores contavam connosco para avaliarem suas performances e melhorarem a compreensão dos conteúdos por eles fornecidos aos estudantes e, nalguns casos, os colegas contavam connosco para tirar dúvidas. O Professor de Introdução ao Direito, por exemplo, era dos que muito nos apreciava como estudante e, por isso, contava com a nossa ajuda na facilitação das suas aulas.

 

As nossas médias rondavam entre 16 a 19 valores, em quase todas as disciplinas. Certa vez, por termos tirado 15, 14 e 13 nas cadeiras de Língua Inglesa, Introdução ao Direito e Língua Portuguesa, respectivamente, os Professores ficaram desapontados, pois, para eles, era inaceitável tais notas tiradas por nós. Curiosamente e contrariando todas as evidências, no final do ciclo, e porquê a instituição era comparticipada (pertence a uma comunidade religiosa), os documentos finais (Certificados da 9° e 12° classes) vinham das escolas públicas (no caso dos nossos, do PUNIV Central do Cazenga), para o nosso espanto, fomos encontrar no nosso Certificado de Habilitações (nas três classes: 10°, 11° e 12°) notas de 10, 11, 12 e 13 valores, na maioria das cadeiras, com excepção de algumas poucas onde tivemos 14.


Estupefactos, decidimos fazer uma reclamação na direcção da escola e o Subdirector Pedagógico foi claro: "Nós remetemos os mapas tais como saíram do conselho de notas. As alterações foram feitas na Sessão Municipal ou no PUNIV, onde são emitidos os certificados. Lá, nós não temos qualquer autoridade para contrapor. Eles atendem várias escolas, têm poucos funcionários e, portanto, atribuem notas aleatórias, sem olhar nos documentos por nós remetidos..."

Fazer o que? Manifestação? Niete. Estamos no associativismo infanto-juvenil. Como consequência, no ano seguinte fomos nos inscrever para uma bolsa de estudo e, depois da pré-avaliação do certificado, o funcionário disse-nos: "Não tens a nota mínima exigida para concorrer à bolsa. Aqui o mínimo é 15 valores e isto não é negociável, é condição "sine qua non". Estás desqualificado..." Perdemos a oportunidade de conseguir a bolsa para ir fazer a formação superior no exterior do país e ficámos envergonhados, inclusive.


Recordamos-nos deste incidente em função do que temos vindo a anotar nos critérios de acesso/selecção para o ingresso às escolas públicas do nível médio, que exigem 14 valores como nota média. Neste ano lectivo, por exemplo, visitamos em três institutos médios politécnicos, dois magistérios e dois PUNIV's e constatamos que o critério é o mesmo, sem contar com o da idade (13/16 anos). Ora vejamos:

=> As escolas e alguns professores, com alguma frequência, recorrem a atribuição de notas administrativos (não obtidas pelos alunos);

=> Constata-se uma frequente alteração ou desrespeito das notas fornecidas pelos professores (nas mini-pautas) pelas direcções das escolas (ao lançarem as pautas gerais);

=> As áreas responsáveis pela emissão dos certificados, além da morosidade, quase sempre não consideram as notas reais obtidas pelos alunos.

É justo que, no acto das inscrições para as classes subsequentes, se exija a média mínima de 14 valores, como pré-requisito de ingresso? Penso que faz sentido, mas deve haver uma ponderação enquanto não estivermos organizados, em matéria dos aspectos já mencionados. Ao mesmo tempo, é necessário que se trabalhe arduamente na sincronização entre os critérios de acesso e a realidade de cada escola e contexto. Daí que, no quadro actual, não achamos justo, tão pouco realista, a exigência de 14 valores como média mínima para o acesso aos institutos médios e magistério (os Liceus nem tanto, aliás, nem têm mais tanta concorrência, a contar com a falta de saída profissional). Precisamos repensar nisso e ponderar.

Em suma, são apenas pareceres e facultativos, claro.

Atenciosamente
Malunda Ntchima,
DE NAMBUANGONGO, 30.07.2021