Luanda - Existe o consenso sobre o facto de que, o que é essencial é o presente e o futuro. Contudo, o passado não deixa de ser uma referência, um barómetro e uma bússola que nos indicam o Norte-Sul, e nos sirvam de grande Escola de onde devemos aprender e tirar lições essenciais. Repare que, a história universal não é mais nem menos que um conjunto de feitos e de acontecimentos do passado que se refletem no presente e que se refletirão igualmente no futuro. Note-se que, o que acontece hoje entra nos anais da história da humanidade, e consequentemente fará parte do passado, como história universal. Por isso, temos a obrigação de cuidar bem daquilo que fazemos, deixar as pistas nítidas para que os historiadores, os pesquisadores e os estudiosos de hoje e de amanha poderão recolher dados diversos e de fontes diferentes a fim de compilá-los, analisá-los e interpretá-los cientificamente.

Fonte: Club-k.net

A história na se apaga, e querer apagar a história ou desvirtuá-la por caprichos de um punhado de pessoas nem sempre deu certo e não dará certo. Pois que, os factos da história, por mais tempo que ficam ocultados, eles virão sempre à superfície. Vejamos, o Império de Macedónia, o Império Egípcio, o Império Romano e as duas Guerras Mundiais marcaram decisivamente a história da humanidade e continuam a ser alvos de pesquisa e de estudo, e serão sempre a fonte do saber e de aprendizagem. Por isso, eu refuto categoricamente a ideia de que a história de Angola, quer da luta pela independência nacional, quer a da pós-independência, já esteja escrita definitivamente e deva manter-se intacta na actual configuração factícia, apenas para satisfazer o egocentrismo de um determinado grupo de indivíduos.


Além disso, não é aceitável a postura de alguns sectores da nossa sociedade angolana que pensam que, eles são os bem-aventurados e os outros são os diabos. Até procuram mistificar ou santificar os acontecimentos trágicos de 27 de Maio de 1977, que foi um «holocausto», a maior tragedia do país, fora do tráfico de escravos. Logo, aceitamos, sem rodeios, de que, houve sim erros gravíssimos (de todas as partes envolvidas) durante o percurso da luta de libertação nacional, da guerra-fria e da guerra-civil. Foi uma grande «odisseia», cujos reflexos continuam activos até aos dias de hoje. Mas também, seria antipatriótico não reconhecer os factos de que, essa «odisseia» teve também momentos marcados de «epopeia», que colocaram Angola na senda do movimento universal pela liberdade e pela autodeterminação. Se isso não tivesse acontecido, Angola teria hoje o Estatuto como das Ilhas da Madeira ou dos Açores, anexada a Portugal.


Aliás, Angola já foi uma Província Ultramarina de Portugal, cujo potencial económico sustentava o Império Português. Ainda mais, no final da Segunda Guerra Mundial, em busca do espaço geográfico para fundar o Estado Judaico, os Estados Unidos da América, Grã-Bretanha e França pressionaram António de Oliveira Salazar para ceder a Região de Benguela e da Huila para este efeito. Felizmente, Dr. António de Oliveira Salazar, Soberano Português, não se abdicou perante as Potencias Ocidentais, que venceram a Guerra Mundial II.


Para dizer que, os desafios da história são inadiáveis e são prementes, cada geração atua no seu tempo e no seu espaço, para que, cada um seja julgado por seu mérito de acordo com as circunstâncias concretas do tempo e do espaço, em que isso ficou situado. Ali estará o cerne da questão, que desafia a geração actual para fazer a sua parte de tirar o país do abismo em que se encontra agora, caracterizado pelo neocolonialismo que mergulhou o país na desgraça e na pobreza extrema.


Vejamos, uma vez o nosso povo esteve nas estradas, na calada da noite, com peneiras, para recolher graus de arroz caídos dos camiões que transportam alimentos? Uma vez os nossos jovens ficaram à beira das estradas para intersectar os camiões de mantimentos para tirar algo para sobreviver da fome? Será que, uma vez o país chegou a este ponto de pobreza, com uma taxa de mortalidade elevadíssima? Enquanto, na mesma altura, há gente com avultadas somas de dinheiros nas malas ou nos contentores guardados nas suas vivendas luxuosas ou nas suas fazendas.


Interrogo-me, faz algo sentido escamotear tudo isso, e tentar desviar a atenção aos passivos da guerra-fria ou da guerra-civil? Então, é justo alguém que governa o país há mais de quatro décadas consecutivas furtar-se da sua responsabilidade? Isso é honesto? Onde então estará a coerência intelectual dos nossos diretores de opinião, que se projetam como únicos donos da verdade? Isso não é a falta de honestidade e de carácter? Pois, é sabido que algumas elites da nossa praça, de dia são apartidários e apresentam-se como directores de opinião. Mas na calada da noite estão nos laboratórios da acção psicológica, como «think tank».


No fundo, isso é que constitui o grande desafio desta geração, que deve mostrar a sua habilidade de agir e sair deste imbróglio, que é o fruto da corrupção sistémica, da má-governação e da má-gestão dos recursos públicos. Agora, tentar intimidar e amordaçar as pessoas, como eu, é inútil. Eu nunca fui lacaio de ninguém. Na minha carreira revolucionária tive apenas um Mestre, com que aprendi fazer a política e abrir o meu horizonte. Essa pessoa se chama: Dr. Jonas Malheiro Savimbi. O resto é uma grande mentira, de mau gosto. Além disso, eu sempre tive uma mente aberta e dava as minhas sugestões ao meu Mestre. Por muitas vezes havia pontos de vistas diferentes em determinadas questões de princípio. Os Mais Velhos Miguel N’Zau Puna e Samuel José Chiwale são testemunhos vivos deste facto, e podem ser consultados. Saibais que, eu fui educador e formador político, era ideólogo no seio do Partido, e Dr. Jonas Malheiro Savimbi me chamava: Mr. Chairman.
Em todo caso, em breve trarei ao público uma crónica intitulada: ‘‘Os Episódios da Longa Caminhada.’’ Isso para desafiar aqueles que andam a disseminar mentiras de que, eu sou um discípulo do ‘‘A’’ ou do ‘‘B.’’ Se tivessem dito que, o fulano, sicrano e beltrano todos foram discípulos do Jonas Savimbi; assim sim, seria correcto. Ninguém pode disputar essa verdade inequívoca. Porque, de facto, fomos discípulos dele. E, será sempre assim, quer queiras quer não.


Em suma, gostaria de afirmar que, a política não é uma doutrina dogmática como a religião. Todos sabemos que, o Platão foi o discípulo do Sócrates, e o Aristóteles foi o discípulo do Platão, embora os três foram da mesma escola de pensamento, mas cada um deles teve uma dimensão diferente. Aliás, a teoria do Aristóteles, de forma geral, é uma refutação ao seu Mestre, e além disso, ele foi suficientemente crítico para ir além do seu Mestre – o Platão. Esse processo dinâmico da transformação progressiva da doutrina grega é que colocou a Academia helénica aos patamares mais altos da civilização ocidental. Por outro lado, o papel principal do Estado é garantir o bem-estar e a felicidade dos seus governados. Quando isso não suceder o Poder Político perde a legitimidade e torna-se uma «Ditadura» que subordina os interesses de todos os cidadãos às ambições de uma só pessoa ou de um Clique.


Luanda, 12 de Agosto de 2021.