Luanda - O Serviço de Inteligência e Segurança de Estado (SINSE) está ser acusado de usurpação de um terreno de 10 hectares já vedado com muro projectado para um condomínio habitacional com 52 moradias de diferentes tipologias, avançadas a cerca de 70 por cento para a sua conclusão, localizado na zona do Zango 0, município de Viana, em Luanda.

Fonte:  Club-k.net/NA MIRA DO CRIME

Um oficial do SINSE identificado por Bonifácio Jerónimo (Kabilá) é citado como testa de ferro de um dos oficiais superiores do SINSE, conhecido apenas por  Nicassio  , e do antigo chefe da fiscalização municipal de Viana, Paulo Vaz Contreiras Simões, para que a todo custo o (operativo) Bonifácio Gerónimo, também apelidado por (Gato), assegure em nome do SINSE o esbulho do terreno registado em nome de Alfredo Faustino, esclareceu a fonte.


A investigação Club-K confirmou as acusações que pesam sobre o SINSE através do seu oficial Bonifácio Jerónimo (Kabilá/Gato), quando na manhã desta quarta-feira (11), o referido agente da secreta angolana surpreendeu um grupo de jornalistas que se encontrava no mesmo espaço a reportar o caso, fruto de uma denúncia, na presença do proprietário Alfredo Faustino e familiares.


“Quem são os senhores e o que estão aqui a fazer? Eu conheço apenas este mais velho e ele também já nos conhece. Este terreno tem problemas entre o Estado e o mais velho. Já ninguém pode vir aqui”, começou por dizer com tom de intimidação, o suposto operativo do SINSE, trajado à paisana, quando se dirigia a cerca de dez jornalistas, fazendo-se transportar numa viatura civil de marca Toyota, modelo Land Cruiser, cor branca, acompanhado de um agente fardado de Polícia Nacional exibindo uma arma de fogo do tipo AKM-47.


De forma menos republicana, o operativo Gato, o nome conhecido até antes da sua chegada ao local, identificou-se da seguinte forma: “Eu sou operativo do SINSE. Eu recebi um telefonema a dizer que há invasores neste terreno”, justificou a sua presença, exigindo de todos identificação, com exceção ao (mais velho) Alfredo Faustino – que o mesmo oficial dos serviços reconheceu como sendo o único que defende o terreno como seu-, mas já fora da sua viatura, enquanto o seu acompanhante se mantinha há cerca de três metros de distância de arma em punho.


Após a identificação de todos os jornalistas, o suposto “testa de ferro, representante e porta-voz do SINSE na disputa daquele terreno” revelou-se mais simpático para com os profissionais da comunicação.


Questionado sobre a sua legitimidade para defender o terreno em nome do SINSE, uma vez que o terreno tinha apenas um proprietário com documentos, e estava presente no local naquele exacto momento, Gato identificou-se como oficial do SINSE com o nome Bonifácio Jerónimo (Kabilá) e estava mandatado pelos seus superiores hierárquicos para controlar e defender o espaço, mesmo sem nunca ter provado a titularidade em nome do SINSE/Estado, com qualquer um documento que fosse.


“Epa, este terreno é do SINSE, ou seja, é do Estado. O SINSE comprou na mão de uma outra pessoa. Agora, quem vendeu eu também não sei”, disse Kabilá aos jornalistas em defesa dos seus superiores, minutos antes de ter efectuado um telefonema para o seu comandante, como ele dizia, tendo de seguida, por orientação do seu interlocutor do outro lado da linha, abandonado o espaço imediatamente pelas interrogações da classe jornalística ali presente.


História do terreno e rapto

Segundo o cidadão Alfredo Faustino, acima de 50 anos de idade, alega ser o legítimo proprietário do terreno desde os anos de 1980, numa altura em que o imóvel encontra-se devidamente legalizado em seu nome junto da administração municipal de Viana e do Gabinete de Desenvolvimento e Aproveitamento Hidráulico do Kikuxi (GADAHAKI).


Porém, avança Alfredo Faustino, após a legalização do espaço de 10 hectares, criou parceria com um antigo oficial do exército, que viria a falecer anos depois, de nome Gaspar Miguel Capita, que se tinha encarregado pela empreiteira que projetam no espaço para 200 vivendas habitacionais, sendo que, até a morte do parceiro, foram apenas erguidas 52 casas por concluir.


De acordo com o lesado, as obras começaram em 2012, mas com a morte de Gaspar Miguel Capita, seu sócio, tudo ficou paralisado, até que por circunstâncias de amizades e outros membros testemunhas do então malogrado, apareceram vários indivíduos encabeçados por Afonso Paulo, tido como empresário, interessado no negócio para conclusão e posterior venda dos imóveis.


Afonso Paulo que a princípio assumiu dar continuidade das obras em parceria com Alfredo Faustino, proprietário do terreno, segundo apurou o Club-K, envolveu-se supostamente em dívidas avultadas com muitas pessoas, dando como garantia as casas já erguidas e terrenos, sendo que do dinheiro recebido, sem o consentimento do legítimo dono do imóvel, nem revelar o valor, apenas terá construído um muro frontal com menos de dois metros de altura e menos de 100 de comprimento.


“Afonso Paulo foi pedindo dinheiro às senhoras sem eu saber. Apenas tomei conhecimento da dívida dele quando elas vinham fazer confusão por causa da obra que tinha sido embargada pela fiscalização de Viana”, disse Alfredo Faustino, assegurando que o terreno não está em litígio porque não tem segundo titular. “Querem nos receber o terreno a força e abuso de puder”, disse um membro da família.

Motivos do rapto


De acordo com Alfredo Faustino, o lesado, a tentativa de rapto ocorreu no dia 27 do mês de dezembro de 2020, quando Afonso Paulo, por consequência da pressão pela cobrança da dívida por parte de credores a quem havia recebido dinheiro, pretendia eliminá-lo para ficar com todo terreno de 10 hectares e já erguidas 52 residências.


Afonso Paulo, que se intitulava como sendo empresário para dar continuidade do projecto habitacional, disse a fonte, contratou um suposto oficial do Serviço de Investigação Criminal (SIC) de nome Raimundo, em conluio com antigo chefe da fiscalização municipal de Viana, Paulo Vaz Contreiras Simões, que neste dia simularam manter uma negociação sobre o projecto com o próprio dono, Alfredo Faustino, quando se encontrava com uma das suas crianças internada em um dos hospitais algures pelo Zango, Viana.


“O senhor Paulo Afonso ligou para mim quando eu estava internado com uma criança no hospital. Eu abandonei a criança e saí para ter com eles. Afinal estava tudo montado, pediram-me para subir na viatura e simularam ir levantar dinheiro, mas acabamos por ir parar em zonas isoladas nas matas do Kikuxi. Enviei mensagem para o meu filho que interveio ligando para lhe chamar atenção de qualquer mal contra mim, e assim fui fui conduzido à uma esquadra policial de Viana onde fiquei três dias”, acusado de burlar 13 milhões de kwanzas, clamou Alfredo Faustino.


Para melhor defenderem o terreno para fins pessoais, confirma a fonte, é nestas circunstâncias que usam o nome do administrador municipal de Viana, Manuel Fernandes, para assumir que teria sido ele a lançar a primeira pedra naquele projecto habitacional, atribuído a titularidade do espaço ao SINSE, “quando na verdade nunca conseguiram provar com documentos”.


A resistência (do mais velho contra os burladores) fez com que  o comandante do SINSE conhecido por Nicassio, da unidade nos arredores do Kilamba, movesse a sua tropa para controlar o espaço, sob vigilância total de Bonifácio Jerónimo (Kabilá/Gato).