Luena - O objetivo da manifestação era chegar até à sede do Governo da província do Moxico para entregar ao representante do Executivo angolano, Gonçalves Muandumba, um documento contendo as preocupações dos manifestantes, o que não foi possível por causa dos bloqueios impostos pelas forças militarizadas.

Fonte: DW

A manifestação terminou com a detenção de 17 jovens que foram levados ao Comando Municipal e, cerca de meia hora depois, sob o clamor da população, libertados.


A marcha pacífica foi convocada e organizada pela sociedade civil e parcialmente realizada no sábado (21.08). Segundo os organizadores, foi consentida e autorizada, documentalmente nos termos da Constituição da República de Angola, pela Polícia Nacional. Mas já no início do protesto, o aparato militar cercou o local, impedindo o avanço dos manifestantes.


O comandante da Polícia Nacional no Moxico, Dias do Nascimento, disse ter-se baseado no decreto presidencial para impedir a manifestação:


"O decreto presidencial número 189 sobre o estado de calamidade pública, no seu artigo 25º, proíbe ações cívicas e morais de manifestações de forma ambulatória ou de forma ambulante. Evitem entrar em conflito com a Polícia Nacional de Angola", disse.


Já Conga Franca, um dos organizadores, lamentou: "Ontem conversámos com a polícia, felizmente tivemos acordo. Mas hoje chegamos no local, barraram-nos todas as vias que havíamos negociado".


"A sociedade civil entendeu ir à rua para exigirmos uma Justiça clara e transparente, sensibilizamo-nos e unimos as forças para exigirmos uma Justiça democrática e liberdade para os angolanos quando querem juntar-se efetivamente à uma força política", acrescentou.


O jovem Ernesto Massoxi, outro dos organizadores da marcha, estava inconformado com a situação.


"Isso chama-se monarquia e ditadura autêntica. Não dão espaço aos jovens pacíficos sem armas e só usando a voz. A polícia usa barras, bastões, polícias de chumbo, tudo isso para que se está tudo plasmado na Constituição e formalizado por escrito", questionou.


"O voto custa caro, não tenhamos medo de nada. O país não é de um partido político, o país é do povo e o povo é que manda", acrescentou.

Demandas dos manifestantes


Entretanto, os manifestantes enfrentaram o cordão policial bradando: "a polícia é do povo, não é do MPLA, abaixo a ditadura do MPLA, abaixo o [Presidente] João Lourenço, viva a democracia".


A manifestante Júlia Rodrigues disse que há mais medo de se morrer à fome do que por Covid-19.


"Neste país, as coisas estão muito difíceis: há falta de escolas, a cesta básica está a subir muito. Ao invés de sentirmos medo da Covid-19, estamos a sentir medo de morrer à fome. Os hospitais não prestam bom atendimento ao cidadão, há muito desprezo. É necessário que o Governo trabalhe, veja o povo como ser humano que merece bom tratamento. Se não há boa governação, melhor que coloque outro que vai poder trabalhar", argumentou.

Para Helena Cuvanga, o cidadão perdeu importância na sociedade angolana.


"O direito à manifestação não quer dizer que estamos contra a lei. Nós estamos a mostrar ao Governo corrupto do MPLA que estamos cansados. Não é justo num Estado democrático e de direito onde o cidadão não é ouvido, o cidadão não tem voz, o cidadão é ignorado como qualquer coisa", disse.


"Nós estamos chateados mesmo e dizer que nós vamos persistir. Se eles quiserem tocar em nós que toquem, mas nós vamos manifestar até ao fim", concluiu.