Madrid - O Executivo do nosso país, a cada dia que passa, não deixa de surpreender-nos. Ele tem movimentado todas as peças do xadrez com o intuito de assegurar, ab hoc et ab hac, a sua permanência no poder. Em contramão aos seus desígnios, está a realidade, crua e nua, marcada pela sua governação desastrada e nefasta, de mais de quarenta anos, que clama desesperadamente por uma mudança.

Fonte: Club-k.net

UMA PERSPECTIVA DE GÉNERO

Seguramente, muitas mulheres tenham-se alegrado pela nomeação, da Sra. Advogada Laurinda Cardoso, a um cargo tão importante como o de Juíza Presidente do Tribunal Constitucional. Por acaso, eu também jubilei. A nomeação da Sra. Laurinda Cardoso rompe claramente o famoso tecto de cristal, aquele que normalmente só os homens têm podido trespassar. Este que as mulheres, por vezes, nem sequer tocamos, única e simplesmente, pelo facto de sermos mulheres em uma sociedade machista como a nossa. Nós as mulheres ficamos sempre a um passo atrás em relação aos homens na corrida ao êxito profissional, social e económico. A falta de políticas de mainstreaming sérias e activas, em boa parte dos países africanos, não ajuda a que avancemos em matéria de igualdade de género. Portanto, quando uma de nós alcança postos desta índole é indubitavelmente motivo de exultação, porque quando uma de nós avança, AVANÇAMOS TODAS.

 

É minha convicção que a emancipação da mulher não deve ser uma oferta dos homens. Do tipo tomem lá esse “ka-cargo” até porque vocês se comportaram bem (leia-se fizeram-nos as nossas vontades e desejos como vos mandamos). A emancipação da mulher tem de ser uma CONQUISTA MERITOCRÁTICA.

 

A nomeação da Sra. Laurinda Cardoso que é, por certo, membro do bureau político do partido no poder (suspender a militância não significa desvincular-se), testa de ferro ou empresária com negócios de duvidosa legalidade e comadre do chefe da Casa Civil da Presidência do país, o Sr. Adão de Almeida. Resumindo, nada nesta nomeação é legal. Tudo é impugnável e inconstitucional. Um atropelo completo ao Estado Democrático e de Direito.

 

Deixa em mau lugar e indigna a luta das mulheres feministas. Esta luta que busca a igualdade de oportunidades, a paridade em postos de direcção, a rotura do tecto de cristal, a intercessionalidade (conseguir romper todas as barreiras que afectam as mulheres pelo facto de ser mulheres, mulheres com incapacidade física, cognitiva ou outros handicapes) e a sororidade (significa que todas as vitórias e todas as derrotas de uma única mulher, afectam a todas). Esta luta que diariamente enfrentam muitas mulheres e com bastante seriedade é duramente violada quando se oferecem a mulheres postos desta magnitude, única e simplesmente, por compadrio e não por mérito próprio.

 

Não queremos, esta falsa meritocracia, esta que o sociólogo Michael Young na sua obra satírica sobre a meritocracia “The rise of Meritocracy” nos anos 1958 a 1961, falou de que é um risco, aquela que se baseia em um sistema que unicamente premia a inteligência daqueles indíviduos e indíviduas dotados de certa capacidade, supostamente superiores a média, através de um sistema escolar, social, económico exclusivos. Aquela meritocracia atribuída apenas a certa elite privilegiada, de um círculo fechado e que nunca abre as portas a novos talentos e degrada o sistema saudável das competências individuais que permite a igualdade de oportunidades.

 

Tudo da-nos a entender que a nomeação da comadre mais famosa de Angola (permitam-me uma pitada de humor) é outra monobra do xadregista-mor. Posicionou o rei no tabuleiro de xadrez com vista a dar mais um xeque-mate eleitoral e garantir a permanência no poder. Hoko, o xadregista-mor tem muito jeito! Porque se assim não fosse procuraria colocar nestes postos, pessoas com um grande background na esfera judicial, com trajectórias profissionais impolutas(diga-se em abono da verdade, achar alguém impoluto no MPLA é igual a achar uma agulha num palheiro). O Presidente da República podia nomear um garante da neutralidade, alguém com sentido de Estado e de democracia e não uma pessoa que tudo que se sabe sobre a mesma é que servirá de marionete dos famosos marimbondos que delapidaram o erário público através dos seus esquemas criminosos.

Quo vadis minha Angola? Quo vadis?