Luanda - O complexo de superioridade é um «preconceito» bastante prejudicial que se manifesta em diversas formas tais como na intolerância, na discriminação, no racismo, no sexismo, no etnocentrismo, no chauvinismo e na xenofobia. O Nazismo, do Adolfo Hitler, na Guerra-mundial II, defendia a teoria do Arianismo, segundo a qual: «os descendentes do antigo povo ariano (supostamente europeus de raça pura) são superiores que as outras raças, e por isso, deve preservá-la e deve impor a sua supremacia». Historicamente, o Arianismo é a doutrina defendida pelo Ario (Séc. IV), Sacerdote de Alexandria (256 – 336), que praticamente negava a Trindade, a divindade de Cristo e a Redenção. Mais tarde essa «doutrina ariana» foi condenada no Concilio de Niceia. 

Fonte: Club-k.net

Para dizer que, o «holocausto», levado a cabo pelos Nazis, foi feito a cobertura da doutrina ariana. Por sua vez, o genocídio de Ruanda (7/04/1994-15/07/1994) contra os Tutsis, perpetrado pelo Governo Hútu, foi uma manifestação evidente da intolerância e do etnocentrismo. Outro exemplo concreto, neste momento a Nigéria está dilacerada pelo conflito interno atroz, de carácter social, económico, cultural, étnico e religioso, que é uma consequência da Guerra Civil de Biafra (06/07/1967 – 01/15/1970), em que após a guerra-civil a distribuição da riqueza (petróleo) não tem sido justa e criou as assimetrias sociais e geográficas muito profundas.


Nesta senda, quando olhamos ao Continente Africano podemos constatar numerosos focos de conflitos internos que têm as mesmas características suprarreferidas. A maior parte desses conflitos internos são frutos da corrupção, da má-gestão de recursos, da distribuição desigual da riqueza, da fome, da pobreza extrema, da cleptocracia e da autocracia. Os Países Ocidentais, como a Europa, tiveram a capacidade de corrigir os conceitos errados, que causaram os conflitos internos e as guerras intraestatais. Eles compreenderam que, na construção das Nações modernas, multirraciais, multiculturais e multiétnicas, a teoria da grandeza era contraproducente.

Como tal, assumiram a postura positiva de harmonizar e unificar os seus povos e de apostar-se na cultura democrática, na edificação de instituições fortes, na boa governação, na projeção de lideranças competentes, na valorização dos recursos humanos, no avanço tecnológico, na industrialização das economias e na promoção do bem-estar do povo.


Nesta base, Alemanha que perdeu as duas Guerras Mundiais emergiu como a maior economia da Europa, servindo-se de alavanca, o motor, das economias dos países membros da União Europeia. Indiscutivelmente, a Alemanha é tida hoje como Líder da União Europeia. Por isso, em pleno Século XXI, torna-se descabido, absurdo e ridículo apostar-se no racismo como instrumento de alcançar ou de manter o poder político. Importa afirmar que, o fluxo migratório, a miscigenação e a cosmopolização são três fenómenos intrínsecos que caracterizam a globalização, sendo irreversíveis e ditarão o futuro da Humanidade.


Olhei para a História de Gana, o primeiro país da África Negra que conquistou a independência nacional no dia 06 de Março de 1957. Este país do Golfo da Guiné foi igualmente o primeiro país da África subsariana a ter o Secretário-Geral das Nações Unidas, o Kofi Annan. Veja que, Gana foi o primeiro país da Africa Negra a eleger por duas vezes o Presidente mestiço, Jerry John Rawlings, filho de James Ramsey John, um britânico da Escócia. Jerry Rawlings permaneceu no poder de 1981 até 2001. Foi ele que introduziu no país a democracia plural e alternante; acabou com os Golpes de Estados sucessivos; combateu a corrupção galopante; introduziu a economia do mercado; defendeu as classes desfavorecidas; combateu a pobreza; e promoveu a educação e a saúde de qualidade.


Contrariamente ao preconceito racial, o Kofi Annan, Secretário-Geral das Nações Unidas, estava casado com uma mulher branca – da Suíça. O primeiro Presidente do Senegal, Léopold Sédar Senghor, estava casado com uma branca – francesa. O primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, estava casado com uma branca – portuguesa. O segundo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, estava casado com uma branca – russa. Enfim, muitos dirigentes actuais do regime angolano estão casados com brancas e com mestiças. Repare que, o Barack Obama, filho do negro (de Quénia), casado com uma negra, a Michelle Obama, foi eleito por dois mandatos (2009-2017) pela maioria branca dos Estados Unidos da América, o país mais poderoso do Mundo. Nessas circunstâncias, se fosse na base de raça nunca um afro-americano (da minoria constituída apenas por 14% da população) havia de alcançar a Casa Branca.


Em síntese, gostaria de chamar a atenção a todos nós para prestar maior atenção ao fenómeno da intolerância, da discriminação e do racismo que se manifestam actualmente no nosso país. Em nenhuma parte do mundo moderno e civilizado o racismo é considerado como factor construtivo e estabilizador. Pois, o racismo cria desconfiança profunda, as rivalidades inter-raciais no seio das comunidades e provoca o sentimento de exclusão, de repulsa, de insegurança e de humilhação. O racismo afugenta os investidores estrangeiros e viabiliza o fundamentalismo religioso que é o veículo principal do terrorismo internacional.


Repare que, o racismo corrói a unidade nacional e o sentimento de pertença a uma Nação inclusiva, de todos, e igual para todos. É interessante notar que em Angola não existe nenhuma família angolana cujo sangue não esteja misturado com o povo português. Acima de tudo, não devemos ignorar que o racismo está intrinsecamente ligado ao etnocentrismo que prevaleceu em Angola desde o tempo colonial e que ainda faz-se sentir no seio de alguns sectores da nossa sociedade. Por isso, o ataque virulento contra o Presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, na base da sua cor, da sua personalidade, da sua visão e da sua inteligência se enquadra na política colonial portuguesa de olhar para os povos do Sul como matumbos, gentios, atrasados e gente do mato, sob a designação de “Bailundos.” Neste momento isso esta sendo feito de forma subtil para ludibriar as pessoas e desviar a atenção da opinião pública.


Além disso, não se deve subestimar o seu impacto nefasto sobre os angolanos das comunidades mestiça e branca, cuja dignidade humana e a integridade física e moral estão fortemente ameaçadas. A intuição humana é movida pela subconsciência de pertencer à mesma família, ao mesmo clã, ao mesmo grupo étnico, à mesma raça, à mesma cultura, à mesma língua e ao mesmo território, que inspiram nele o espirito de solidariedade e do destino comum. Nesta óptica, mesmo Portugal não deve estar confortável e seguro em relação à idoneidade do governo actual angolano em promover uma sociedade democrática, multirracial, multiétnica e multicultural.


Quando aconteceu o genocídio de Ruanda, contra o povo Tutsis, os sinais estavam evidentes. Porém, a comunidade internacional desleixou-se, sem tomar medidas preventivas. Logo, os massacres do Monte Sumi (Huambo) e do Canfunfu (Lunda Norte) são sinais evidentes e preocupantes. Mas a comunidade internacional faz vista grossa. Para dizer que, a campanha actual do racismo dirigida contra o Presidente da UNITA está sendo conduzida aos níveis mais altos dos órgãos de soberania do Estado, com a instrumentalização do Poder Judicial e da Média Estatal.


Todavia, eu acredito que no seio da Direcção do MPLA existe patriotas, nacionalistas e personalidades idóneas com a força moral de poder por cobro a este fenómeno negativo que ameaça a coesão nacional, a estabilidade sociopolítica e a construção do Estado Democrático e de Direito. A manutenção do poder político deve passar necessariamente pela vontade dos eleitores, num processo eleitoral transparente, justo, livre e credível. E nunca deve ser feita através de manobras de diversão, de promover o racismo subtil, com fim de provocar a instabilidade no país, que permita o uso de força – como estratégia política.
Luanda, 27 de Agosto de 2021.