Luanda - Luzolo – que também podes ser chamada Chissola;
 
Eu queria ser poeta. Daqueles que falam mambos bwé bonitos. Dos que falam que os teus olhos são tão lindos como o Sol. E o teu coração – gostaria de dizer – doce muxima é o teu coração, igualzinho ao mel silvestre das colmeias do Moxico.

Fonte: LAC

Eu queria ser poeta que nem o meu amigo José Luís Mendonça. Para neste Jissábu de Fevereiro... dizer que contigo os meus dias são como a corrente tranquila e cristalina do ribeiro do bosque de Malanje. O ribeiro que murmura sussurros de amor suspirados debaixo da sombra compíscua das mulembas abraçadas. Poeta fora eu, interpretaria para ti o segredo do jissábu do ribeiro. A jura de amor da água límpida declarando-se na poesia etérea ao bosque magestoso. Como no Musselegi, a água segredando eternas juras de amor, que gostaria de repetir para ti, Chissola yami, poeta fora eu.
 

Poeta eu seria para ser o teu namorado, nem que fosse só por um dia. Esse dia que seria feito de todos os meses e os meses de todos os anos. Não apenas um 14 de Fevereiro fosse de que ano calhasse ser. Eu –  o Poeta –  seria então o teu eterno namorado e murmuraria com a corrente do ribeiro a doçura do teu coração. Eu – Poeta –  recolheria numa taça de diamante o doce e perfumado mel que dimana do teu coração. Ergueria essa taça diante do altar do meu amor eterno – de Poeta – e tocaria nela os lábios no ritual místico, quantas vezes esquecido, das paixões que apenas se alimentam e sobrevivem da esperança.
Eu queria mesmo ser Poeta!
 

Falaria então de um amor que não tivesse nada de proibido. Amor liberto das fronteiras, dos limites, das convenções, dos tabús. Soltando todas as palavras, na minha inspiração de Poeta descreveria todas as viagens que faríamos pelo reino da Paixão e da Fantasia. Como percorreríamos juntos os detalhes e relevos dos nossos corpos, o fogo ardente dos nossos olhos se beijando ao luar, o batuque frenético dos nossos corações batendo em uníssono, os requebros desenfreados dos nossos corpos ao compasso do ritmo dos nossos corações batucando lascívias proibidas. Depois seria a libertação total, vulcânica das nossas almas em êxtase final. Na nova e libertária condição de Poeta, voaria depois ao encontro do paraíso do teu Pensamento, e nele viveria para sempre, feliz parasita da doçura eterna do teu carinho.
 

Mas, Luzolo – que também é Chissola. Eu não sou Poeta, não consigo ser Poeta. Desconsigo ser Poeta, até tenho medo dos Poetas. Não entendo nada de sussurros das águas falando juras de amor aos bosques de Malanje – ou entendo? E agora como faço, Oh! Luzolos e Chissolas desta minha imensa Angola. No Dia dos Namorados faço o quê?
 

Ah! Já sei! Faço então este Jissábu, ó Chissolas! Nele farei de contas que sou mesmo o tal Poeta. Falarei outra vez todas as coisas que falei há pouco –  tipo de kaxêxe –  e fico a ver se o barro pega.
 

Se pegar... graças ao Jissábu... na esquindiva do jissábu viro então Poeta mesmo, Oh! Luzolos  e Chissolas da minha bela Terra.
Falarei  jissábus de amor todo o dia de todos os dias, não apenas num mes qualquer das nossa kalumbas.