Luanda - O músico angolano Mário Rui Silva fará dois concertos em setembro no Reino Unido, à boleia da edição recente de uma compilação inglesa de canções do autor, anunciou esta quinta-feira a editora londrina Time Capsule.

Fonte: Lusa

“Guitarrista, cantor e compositor angolano, Mário Rui Silva vai ter finalmente o reconhecimento que merece”, afirma o editor da Time Capsule, Kay Suzuki, em comunicado, a propósito dos concertos que estão previstos para 11 e 12 de setembro, em Margate e Londres, respetivamente.

 

Nestas duas datas, Mário Rui Silva estará acompanhado pelos músicos Mário Garnacho (teclados), Nelson Oliveira (baixo), Tello Morgado (percussão) e Elias Kakomanolis (bateria).

 

Em junho, a Time Capsule lançou uma compilação intitulada “Stories From Another Time 1982-1988”, e que se centra em três discos gravados por Mário Rui Silva em Angola nos anos 1980: “Sung’Ali” (1982), “Tunapenda Afrika” (1985) e “Koizas dum Outru Tempu” (1988).

 

Eu sinto que o Mário é uma espécie de lenda escondida, que ninguém conhece, mas quando se olha para o seu trabalho, vê-se o quão lindo e bem feito é”, contou Kay Suzuki à agência Lusa, pouco antes da edição da compilação.


A edição procura documentar a viagem do músico até ao âmago da música tradicional angolana, ao mesmo tempo que a cruza com linguagens do jazz, instrumentação clássica ou ritmos de vários pontos da África Ocidental.

 

Com a guitarra no centro, como de resto sempre tem estado na carreira de Mário Rui Silva, as músicas refletem também o trabalho meticuloso do artista enquanto estudioso da cultura do seu país, seja do semba enquanto linguagem musical, seja da língua, como é exemplo a edição de um ensaio seu para uma gramática comparativa entre o quimbundu e o português.

 

Nascido em Luanda em 1953, Mário Rui Silva foi discípulo de Liceu Vieira Dias, considerado um dos “pais” da música popular angolana e cofundador do N’Gola Ritmos, grupo musical que assumiu na música uma forma de resistência ao colonialismo português.


Foi a partir dos ensinamentos de Liceu Vieira Dias que Mário Rui Silva “ganhou uma compreensão técnica, política e espiritual da cultura musical de Angola”, nota a editora Time Capsule.

 

“É um músico muito humilde, mas que, tecnicamente, o que faz com a guitarra é impressionante e depois as mensagens que transmite nas canções quase que gravitam na tradição do blues”, salienta Kay Suzuki.

 

As músicas cruzam também diversas influências da África Ocidental, contando até com a integração de uma kora, construída pelo próprio Mário Rui Silva, sublinhou.

 

A compilação surgiu depois de um dos curadores do disco, Sam Jacob, ter descoberto o álbum “Koizas dum Outru Tempu” numa loja em Londres. Sam Jacob e Kay Suzuki acabaram por ir à procura da restante obra de Mário Rui Silva, contactaram o artista e decidiram avançar com a edição.


“O conceito da editora é de que toda a música tem uma boa história por trás e pode captar-se esse momento, como numa cápsula do tempo. Este álbum é muito experimental, parece que não tem quase fronteiras, que ele estava a fazer uma viagem por ele próprio, mas centra-se neste estudo do semba, das suas raízes”, aclarou.

 

Apesar de não ter tido um “grande impacto em Angola ou em Portugal, é um artista impressionante”, cuja história “merece ser contada”, frisou o editor.