Luanda - Aprender a viver na diferença é a grande diferença entre os países atrasados e as grandes nações, que muito cedo aprenderam a viver na diversidade de pensamento.

Fonte: Club-k.net

As grandes nações perceberam que a diversidade é mais rica em relação ao pensamento único, enquanto os países atrasados achavam que o pensamento uniforme salvaria a Pátria. Esqueceram-se de que as ideologias partidárias não constroem nações. As nações apenas se desenvolvem com a ciência, a compaixão com os mais fracos, com a aceitação da diferença, com a solidariedade, com o estudo e com o trabalho. Nas ciências e nesses valores acima descritos não há espaço para cores partidárias, muito menos para cartões de militantes ou ainda títulos académicos, adquiridos apressadamente.


As nações tornam-se mais fortes quando os seus povos têm a possibilidade de criar e manifestar os seus pensamentos sem sofrer represálias. Tais nações valorizam a iniciativa privada e promovem o bem-estar comum.


Aprender a viver na diversidade foi o que faltou nos movimentos de libertação e por conseguinte os seus líderes, que, alguns deles, achavam que podiam fazer melhor sozinhos, a fazer acompanhado pelos outros. – A conjuntura na altura ajudou muito na forma de pensar e de agir naquele período pós-colonial. As alianças formaram-se e os enquadramentos em blocos ou esferas de pensamento ideológicos seguiram-se para sobrevivência ou para o controlo imediato do poder.

Estavam em luta dois sistemas: dos comunistas e dos ocidentais. Entre os dois grandes, os dois cabeças de lista: URSS e a USA, não havia guerra explícita entre ambos, a que chamaram de Guerra Fria, pois a Guerra Quente era feita por terceiros, por aqueles que se matavam em nome de ideologias estrangeiras. No fundo, o maior interesse das grandes nações era o comercial. Quem ganhasse a guerra, controlava as riquezas e tinha o controlo dos governos instalados, para, de forma camuflada, continuar a explorar as riquezas desta Angola abençoada em recursos minerais e hídricos.


Com o demoronamento da URSS (União das Repúblicas Socialista Sociéticas) e consequentemente a queda do Muro de Berlim, um dos maiores símbolos da divisão do Mundo em blocos de então, e o fracasso do sistema comunista na Europa de Leste, surgiu a oportunidade do calar das armas, terminando assim uma guerra, das mais mortíferas de África, com um saldo bastante negativo para os angolanos, em que vários valiosos filhos desta terra morreram por causas que deveriam ser evitadas, se o interesse nacional fosse colocado em primeiro lugar – fazendo ir avante e respeitando o postulado dos acordo de Alvor , no lugar de pensarmos que éramos os únicos representantes do povo angolano.


Teoricamente, a guerra terminou com a assinatura do acordo de paz de Bicesse, Portugal, em 1991. Mas, como as mentes continuavam em contradição, de não reconhecimento do contrário, não tardou, o país voltou ao status-quo. A guerra passou a ser muito mais violenta, particularmente entre 1992 e 2002, com mortes de altos dirigentes e de milhares de civis indefesos, por pertencerem a este ou àquele partido.


Como somos todos angolanos, estamos condenados a viver sob o mesmo Teto, e, em 2002, é assinado o Memorando de Entendimento, que pós fim a guerra armada e, tenta, reconciliar os irmãos desavindos, com altos e baixos, mas a realidade, a guerra tinha mesmo terminado e o Protocolo de Lusaka estava a ser implementado, com ou sem atropelos, a confiança começava a ganhar corpo à medida que os anos iam passando e as pessoas perdoavam-se mutuamente.


Passados cerca de vinte anos de paz, podemos afirmar que Angola em paz caminha inevitavelmente para a Paz; a paz que deve ser construída todos os dias; a paz que tem de ser construída por todos os angolanos, independentemente das suas afiliações políticas, religião, cor de pele, estado social.


O que deve ser feito agora é o esforço de passarmos para a outra fase, que considero a mais prioritária para os próximos dois anos, a promoção da CIDADANIA PLENA. Temos de ser cidadãos!


Apenas o cidadão reconhece o outro como sendo também seu irmão. A história dos cartões de militante, a meu ver, deve ser um elemento particular e sem nenhum peso na hora de tomada de decisões. O país sai a perder quando a competência perde em detrimento da mediocridade. Os cargos públicos devem ser ocupados por cidadãos competentes, e não pela confiança política. Desta forma, estaremos a colocar a CIDADANIA em primeiro lugar. De outra forma, vai ser difícil construir uma nação justa e boa para todos os seus filhos. – Quando atingirmos esta etapa da construção da nossa Nação, estaremos muito perto de começar o caminho para o desenvolvimento sustentado do nosso vasto país. Mas tudo tem de obedecer à etapas, porque, para quem já perdeu muito tempo como nós, angolanos, não podemos ter pressa de correr, para não corrermos os riscos de voltar a percorrer o mesmo percurso.

A cidadania é o segredo para o desenvolvimento de qualquer nação.

Luanda, 23 de Setembro de 2021

Gerson Prata