Luanda - O presidente da comissão executiva (CEO, na sigla em inglês), do “Grupo Ferreira Educador”, empresa virada à educação e prestação de consultoria, César Ferreira Mateus José, terá burlado cerca de 400 pessoas convencidas pela sua publicidade enganosa nas redes sociais - no entender dos queixosos -, através da qual centenas de jovens pagaram cinco mil kwanzas (5.000,00), cada um, para um suposto curso de recrutamento em “Consultoria de Negócios”, em Luanda, segundo os lesados.

Fonte: Club-k.net

Conforme os denunciantes, o acusado já esteve detido na esquadra da Polícia Nacional na Samba, em Luanda, transferido da esquadra policial “Pardal Multiperfil”, aonde teria sido levado à força no dia 3 de setembro, pelas 12h, por jovens burlados da turma que o mesmo havia formado no dia 3 de julho do corrente ano, quando este tentou uma suposta fuga ao se deparar com os lesados, no bairro Morro Bento, numa altura em que já estava a ser “caçado” pelos descontentes desde o mês de agosto.


Presente ao Serviço de Investigação Criminal (SIC) local, ficou detido dia 3 de setembro, constituído arguido sob processo número 4197/21-8 2200/21-M.P, e posto em liberdade no dia 14 do mesmo mês, mas sem que, no entanto, houvesse de sua parte garantias aos lesados de que iria devolver os cerca de dois milhões de kwanzas que terá burlado.


“Ele é um burlador com classe. Enganou-nos a todos nós. Começamos a desconfiar quando ele não aceitava mostrar o escritório da empresa Net Business pela qual nos inscrevemos. Ele fugiu e bloqueou todas contas das redes sociais e os números de telemóveis. Para lhe trazermos aqui na polícia, vimos nas redes sociais o Grupo Ferreira Educador a promover a mesma formação da Net Business com todas políticas iguais, com diferença apenas no preço de inscrição que já era 12 mil kwanzas. Fizemo-nos passar por clientes para consultoria de negócios e só assim lhe apanhamos para lhe trazer aqui na esquadra”, revelou uma das jovens que chegou a levar mais de 70 candidatos, mas nunca ter recebido um tostão como recompensa.


O acusado encontra-se a responder em liberdade, o que, no entender dos lesados, não há garantia alguma que prove a devolução do dinheiro aos mesmos, porquanto César não terá negociado com ninguém para um prazo e modos de pagamento. Por isso, apelam aos órgãos de justiça a resolverem o caso com maior transparência.


Como funcionava o esquema

A investigação Club-K apurou que César Ferreira, como é vulgarmente conhecido, criou nas redes sociais uma falsa empresa denominada “Net Business – Consultoria de Negócios”, que nas suas publicações anunciava uma formação intensiva de um dia por apenas cinco mil kwanzas (com direito a certificado em consultoria de negócios), garantindo emprego na sua empresa com um salário mínimo de 50 mil kwanzas.


De acordo com as nossas fontes, maioritariamente jovens – desesperados pelo desemprego -, viram neste jogo como uma oportunidade para trabalhar e ganhar algum dinheiro. Porém, dezenas de jovens não hesitaram em aderir, mesmo com as exigências, pois as propostas salariais eram aliciantes pela lei de menor esforço. Pois, bastava levar 20 pessoas ou mais.


O suposto empresário César impôs aos candidatos, como condição para atingir o primeiro nível com salário de 50 mil kwanzas mês, que levassem cada um deles 20 candidatos e estes, por sua vez, também teriam de levar igual número de pessoas e assim sucessivamente, com um custo de inscrição de cinco mil kwanzas para ter o certificado da formação por si ministrada em um único dia.


A formação começou no mês de julho último, pouco menos de 30 dias, acusam os lesados, César Ferreira teria atingido um elevado número acima de 200 candidatos inscritos, aos quais começou a ministrar supostas aulas de “Consultoria de Negócios” nas instalações da “Pro-center”, algures por Luanda, onde o mesmo teria aliciado aos seus (pseudo) futuros funcionários 25 mil kwanzas de subsídios para aqueles que fossem admitidos como estagiários, caso cumprissem com as exigências.
“As suas políticas de marketing enganosa funcionaram perfeitamente”, dizem as vítimas, acrescentando que a mensagem foi chegando a centenas de jovens, “mergulhados no desemprego”, estes que inocentemente caíram nas graças de quem é hoje acusado de burlador somando cerca de 400 pessoas inscritas por cinco mil kwanzas, equivalente a dois milhões de kwanzas no total (2.000.000,00), em menos de dois meses, em Luanda. O negócio do jovem começava a prosperar à custa de quem procurava trabalho para sobreviver.


Com a demanda de candidatos, lembram as nossas fontes, facto confirmado pelo próprio acusado, ouvido pelo Club-K, César Ferreira teve de abandonar as instalações da (Pro-center) para arrendar uma das salas da Mediateca de Luanda, de modos a acomodar em melhores condições os seus formandos, mas, alegam, o pior estava por acontecer com a fuga de César, sem que desconfiasse dele, porque, confirmam, até no dia 2 de agosto o (pseudo) empregador ainda recebeu vários candidatos.


Já na Mediateca de Luanda, onde foram todos transferidos, César apresentou novas propostas salariais por mês equivalente a “Consultor Júnior - 50 mil kwanzas; Consultor Sénior -100 mil e Consultor Safira - 160 mil Kwanzas respectivamente, isso no dia 2 de agosto ao receber novos candidatos.


Segundo os denunciantes, para o espanto de todos, no dia 5 de agosto, pelas 17h, César Ferreira comunicou a todos os funcionários, como ele já os considerava, por via de mensagem telefónica, suspendendo as aulas por 28 dias até que terminassem as obras do seu suposto “Center Business – central da empresa”, para estariam a trabalhar definitivamente, justificando de que já não haveria acordos com a direcção da Mediateca de Luanda.


Por conseguinte, até o dia da sua detenção, César Ferreira Mateus José tinha desativado todas as contas das redes sociais e manteve os telemóveis desligados, sendo que até a presente data nenhum dos 400 candidatos foi beneficiado com qualquer subsídio pelo trabalho prestado.


Por sua vez, contactado pela investigação Club-K, César Ferreira admitiu as acusações de que é alvo, como protagonista do que os lesados consideram de burla, minimizando dizendo que não se trata de Burla, mas sim de um desentendimento entre os seus colegas, por consequência da rescisão de contrato de uma das salas na Mediateca de Luanda, onde ministrava as formações, bem como desmente o número de candidatos.


Contudo, garante devolver o dinheiro aos lesados, seguindo as orientações do Ministério Público, no encalço do processo judicial contra si, sobre o qual deve fazer-se presente todas as quartas-feiras para assinar um procedimento judicial acrescido de algum dinheiro para ir devolvendo aos queixosos.


“Na verdade não foi bem assim. Tanto é que o caso foi até ao Ministério Público procuraram-me ouvir exatamente aquilo que aconteceu. Em função de que muitas pessoas que trabalham comigo estavam a ser muito agressivas, o Ministério Público preferiu meter-me sob protecção. Pediu que eu devolvesse o dinheiro das pessoas que pagaram e não fizeram a formação, porque a maior parte das pessoas já tinham feito a formação e estavam simplesmente à espera do certificado... São no total 300 pessoas. Todos pagaram mas só 250 fizeram a formação porque o espaço onde estávamos a trabalhar era pequeno. Por conta disso, eu dei 28 dias até conseguir um espaço maior e reiniciar a formação, mas os colegas fizeram confusão na porta do Grupo Ferreira Educador onde eu sou sócio maioritário, porque a empresa Net Business era um projecto que eu tinha criado há três meses para este fim e estava a render bem. Era um modelo de trabalho com formação multinível marketing de rede em que as pessoas que estavam a trabalhar conosco poderiam trazer 20 pessoas e estas pessoas por sua vez pagam 5 mil kwanzas.


A pessoa que levar as 20 ganha uma comissão de 5 mil se já for efectivo, e se for estagiário então ganha um subsídio de 25 mil kwanzas com oportunidade de fazer carreira onde em cada nível é exigido um número considerável de pessoas a levar. Foram na minha empresa a fazer confusão, foi desta forma que fomos parar na polícia...”, esclareceu o acusado César Ferreira, como é mais conhecido.