Luanda - A política à angolana evoluiu da fase em que alguns actores eram diariamente trucidados na praça pública, em nome do combate à corrupção, para uma clarificação. Aos poucos a realidade impôs-se à propaganda e hoje é mais difícil condenar seja quem for nas câmaras da TPA ou outros órgãos públicos da comunicação social. Em alguns casos, o feitiço virou-se contra os feiticeiros. Uma empresária, perseguida pela Justiça, denunciou publicamente que as provas contra si tinham sido forjadas, nomeadamente “um memorando não assinado e não datado”, anexado a uma carta oficial dos serviços do general Miala.

Fonte: Club-k.net

O empresário Carlos São Vicente foi pronunciado por um juiz, com base num papelito falso e anónimo, “descoberto” por Aguinaldo Jaime, seu concorrente. O Procurador-Geral da República, Hélder Pita Grós, anunciou triunfalmente que o processo contra o general Higino Carneiro está no Tribunal pronto para julgamento.


Nos corredores da sede do MPLA já se diz abertamente que a PGR está a forjar provas contra Álvaro Boavida Neto, para levarem este dirigente do partido a Tribunal. O processo kafkiano arrancou quando começaram a circular informações que o davam como candidato à liderança do partido, no próximo congresso.


Entre provas forjadas, manobras de diversão e lançamento de notícias falsas, o Presidente João Lourenço continua a cavalgar a onda do combate à corrupção. Aparentemente ainda não compreendeu que esse truque caiu por terra quando serviços secretos estrangeiros alertaram para graves acções de corrupção, atribuídas à sua Casa de Segurança e Militar. Arranjaram um bode expiatório, puseram a circular que foi o general Miala que descobriu as golpadas, mas um campeão da luta contra a corrupção não pode estar cercado de corruptos e muito menos viver com eles no mesmo palácio.


O descontentamento no seio do MPLA começa a extravasar para fora das paredes das sedes e comités do partido. Um alto dirigente que já vem da Luta Armada de Libertação Nacional disse-me que é preciso regressar urgentemente aos valores e princípios do MPLA: “Não somos e nunca fomos um partido de direita. Um amplo movimento popular não exclui ninguém e muito menos faz processos de intenção a camaradas no activo ou retirados”.


Outra questão que causa grande apreensão entre alguns membros do Bureau Político tem a ver com as políticas actuais: “Somos um partido que sempre somou e uniu. Hoje estamos a dividir e segregar. Somos poucos e estamos a fazer tudo por sermos ainda menos”.


O MPLA como membro da Internacionalista Socialista tem de regressar “aos valores do socialismo democrático, à integração, ao princípio que nos norteia desde o primeiro dia da República Popular de Angola: Temos de resolver os problemas do Povo, em primeiro lugar. Perdemos quatro anos a dividir para reinar, condenar sem provas, dividir os militantes e apoiantes, escorraçar ou abandalhar dirigentes e militantes valiosos”.


Neste quadro dantesco surgiu na direcção do MPLA um novo dado que caiu como uma bomba. Um grupo de “notáveis” do partido decidiu convidar a médica Irene Neto a apresentar no Congresso de Dezembro uma moção de estratégia e a sua candidatura à liderança. Porquê a filha de Agostinho Neto?


Eis a resposta: “Ela é do MPLA desde pequenina e hoje é avó. Nasceu e cresceu nas nossas fileiras. Teve um gesto que mostra a sua fidelidade aos princípios e valores do movimento. Quando concluiu a sua especialidade médica criou uma clínica. quando a sua vida pessoal e profissional estabilizou, fez saber ao líder do MPLA, José Eduardo dos Santos, que estava disponível para desempenhar qualquer missão, no partido ou no Estado”.


O Presidente José Eduardo dos Santos incluiu Irene Neto na lista dos deputados do MPLA. Enquanto desempenhou a missão de deputada mostrou ser uma política exímia, promotora de relações cordiais com todos os grupos parlamentares e cultora da estabilidade. Mais tarde foi para o Executivo e cumpriu as missões de que foi incumbida. Em 2017 deu lugar aos novos e já não fez parte das listas de deputados do MPLA. Regressou à sua vida profissional. Hoje é apontada pelos que apoiam a sua candidatura, como a única que pode “acabar com as políticas divisionistas, que destruíram a unidade interna e nacional.”


Irene Neto não fechou a porta aos seus apoiantes. Nem à apresentação de uma moção de estratégia nem a encabeçar uma lista para a liderança do MPLA: “Uma mulher na Presidência da República da dimensão da Dra. Irene Neto dá-nos a garantia do regresso à estabilidade política e ao primado da camaradagem. Não podemos aceitar um líder que faz tudo para destruir o MPLA. Ela é a dirigente certa para repor o velho princípio o MPLA é o Povo o Povo é o MPLA”.


Se o general Miala não forjar provas contra ela, como parece estar a fazer com Álvaro Boavida Neto, pode ser que os delegados ao Congresso do MPLA decidam mudar de líder e, ao mesmo tempo, quem encabeça de lista nas próximas eleições. Um líder que para ganhar dimensão política está a destruir o seu partido e o país, quanto mais cedo sair do Poder, melhor.


Irene Neto tem sabedoria e experiência política para devolver ao MPLA o seu papel insubstituível na sociedade angolana. Desde logo, respeitando todas e todos os construtores da Angola que hoje temos e não surgiu de geração espontânea. Uma mulher na Presidência da República pode devolver aos angolanos a dignidade que lhes foge desde 2017. O desafio está lançado. Em Dezembro se verá se triunfam as falsidades ou as novidades.