Luanda - A Igreja é parceira do Estado e não parceira de qualquer partido. O Estado está acima (deve estar) dos partidos e consequentemente a Igreja também está acima dos partidos políticos. Mas a missão da Igreja (do sacerdote) é promover a glória de Deus e não promover o rei nem o estado. É por isso que o sacerdote enquanto responsável pela condução da Igreja de Jesus Cristo, não deveria se envolver nas querelas partidárias mas, como árbitro, apontar caminhos que regulem a conduta dos actores sociopolíticos do ponto de vista ético e moral. Se 95% da população angolana se declara cristã e os cristãos devem ser leais à pátria mas fieis a Deus; e se o Estado também se considera parceiro da Igreja, então na elaboração de leis de grande impacto moral com aborto, pena de morte, reabilitação de infratores e sua reinserção social, deontologia profissional nas áreas de saúde e educação e não só, a Igreja deveria ter um voto de qualidade. Os sacerdotes não devem vender a sua consciência nem se deixar instrumentalizar, fazendo pronunciamentos que vinculem a Igreja para ‘legitimar’ decisões ou acções nada éticas e pouco ortodoxas. A exemplo de 1 Reis 22 e Actos 5:29, o dever de obediência ao rei termina quando choca com a obediência ao Rei dos reis pois “mais importa obedecer a Deus do que aos homens”. Os sacerdotes (a menos que sejam mercenários) são ministros do Rei dos reis e, no exercício da sua missão, estão acima dos reis embora submissos a eles como cidadãos. A sua autoridade moral deve estar acima de quaisquer suspeitas.

Fonte: Club-k.net


Liberdade ou segurança? Este é o dilema manipulado pelos partidos políticos.

 

Os partidos no poder escravizam em nome da segurança. Em democracia os 3 poderes são (devem ser) interdependentes mas autónomos, nenhum deveria manipular os outros.

 

Os partidos da oposição se opõem em nome da liberdade mas chegados ao poder, também oprimem em nome da segurança.


O cidadão precisa tanto da liberdade quanto da segurança pois são dois lados da moeda da felicidade. O problema é que a liberdade mal usada atrai a desordem, o caos, e a insegurança enquanto a segurança fora de uma ética humanizante atrai a opressão, a repressão e o controle excessivos. Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, “nunca ninguém encontrou a fórmula de ouro que equilibre os dois elementos essenciais para a felicidade humana.”


Os que têm liberdade são infelizes por viverem com o medo da insegurança. O ser humano, ao contrário do que a Bíblia ensina, usa a liberdade para manipular as situações a seu favor. “Gal. 5:13 Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Mas não useis da liberdade para dar ocasião à carne, antes pelo amor servi-vos uns aos outros. 1Pedro 5:15 Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo o bem, façais emudecer a ignorância dos homens insensatos, 16 como livres, e não tendo a liberdade como capa da malícia, mas como servos de Deus. 17 Honrai a todos. Amai aos irmãos. Temei a Deus. Honrai ao rei.”


Os que têm segurança são infelizes porque a sua liberdade é cerceada, perdem a independência, a privacidade e a individualidade.


Acredito que na perspectiva egocêntrica e pecaminosa do ser humano estamos entre a espada e a parede, entretanto o dilema se resolveria com a transformação da natureza humana que só Cristo oferece. Se a transformação não ocorrer nos indivíduos, a alternância pode até trazer melhorias mas nunca vai resolver o problema na sua essência. Aqui entra o poder da Palavra de Deus quando aceite e obedecida incondicionalmente; quando a integridade dos líderes (políticos e sacerdotes) é inquestionável e o seu testemunho é ilibado; quando os líderes terão experimentado a transformação decorrente do ‘novo nascimento’.


É aqui onde o papel do sacerdote é fundamental. O sacerdote precisa manter-se isento e equidistante dos protagonistas políticos. Ele tem a tarefa de ensinar a palavra apresentando tanto a liberdade quanto a segurança na perspectiva equilibrada das Escrituras. É livre para proclamar a liberdade responsável; é livre para chamar atenção aos políticos (no poder e na oposição) no quadro de uma cidadania responsável; é livre para louvar e encorajar acções que engrandeçam a nação e o bem-estar do cidadão. Entretanto, perde a relevância, a isenção e a autoridade quando se posiciona em um dos lados, passando então de árbitro a jogador. Mesmo o silêncio diante de imoralidade e injustiças o transforma em cúmplice.


Gosto da definição de liberdade como “o fazer o que a lei não proíbe, quando isto não atenta contra a dignidade humana”. De contrário, como dizia Martin Luther King, “É um dever de cidadania desobedecer à leis injustas” e eu acrescentaria que é um dever de cidadania manifestar repulsa contra o (ab)uso da autoridade legal para, em benefício próprio ou de um sistema, prejudicar os oponentes nossos ou do sistema.


Nesta perspectiva, os nossos par(a)lamentares deveriam usar a filosofia de que “as leis são como o relógio que, de vez enquanto precisa ser limpo e colocado no horário certo”; a sociedade deveria entender o princípio de que “os políticos são como as fraldas que, de vez enquanto precisam ser trocados, pelas mesmas razões”.


Tenho observado (no nosso contexto desde 1991) que no ano que antecede as eleições muita coisa melhora (com soluções paliativas). Depois das eleições tudo se degrada e o povo tem 4 anos para comer o pão que o diabo amassou. Isto é cíclico e previsível! Também tenho observado que se despende mais recursos e energia para atacar oponentes políticos do que para resolver problemas das sofridas populações. Ainda tenho observado que a liberdade dos órgãos públicos de comunicação é sectária e só oferece o microfone selectivamente e com informações privilegiadas a quem promove o partido no poder e ataca a oposição.


Quando estamos numa certa posição e (ab)usamos, o poder para nosso benefício e prejuízo dos outros, ficaremos com medo de ser substituídos por eles, receosos de represálias. A democracia torna-se perniciosa quando funciona como ditadura da maioria. Nem sempre a maioria tem razão. A voz do povo NÃO É a voz de Deus. Há profetas como Elias, Jeremias e mesmo Jesus que, em nome da verdade foram martirizados ou ficaram quase sozinhos.


Em África parece que as lutas de libertação só libertaram os políticos no poder. O povo só muda de carrasco. Se a memória não me trai, o colono usava o sipaio nativo, para punir e maniatar os seus próprios irmãos. Para isso dava-lhe algum poder e certos privilégios que o colocavam acima dos outros.


Hoje a colonização é económica e tecnológica. As potências (ex-coloniais) usam os nossos irmãos governantes com as mesmas táticas. Daí a dificuldade de se reconhecer e honrar os heróis que foram mais partidários do que patriotas; Daí que, o desaparecimento físico ou político de muitos suscita mais alívio do que saudade.


É o dinheiro dos países do terceiro mundo “roubado” pelos seus próprios governantes que sustém e movimenta as economias dos países desenvolvidos. A título de exemplo, desde a segunda guerra mundial, os paraísos fiscais acumulam bilhões de dólares não reclamados. Hoje quando um governante morre não se chora tanto pelo seu desaparecimento físico mas mais pela perda dos dinheiros em contas anónimas e fantasmas que só ele sabia. Nem mesmo a sua própria família consanguínea beneficia dele.


Segundo Étienne de la Boétie, humanista e filósofo francês do Séc. XVI, citado por Leandro Karnal, “o fogo do poder só arde porque há quem jogue lenha na fogueira. Pare de se pôr lenha e o fogo se extingue por si. Os tiranos em Roma se perpetuavam através de festas, espetáculos, jogos e diversão, oferecendo pão e circo. O povo odiava o imperador mas adorava as suas festas”. A situação no mundo de hoje não muda muito porque a natureza humana não mudou.


Entretanto, a história demostra que, para qualquer povo oprimido, sempre chega o dia em que o mesmo se levanta para dizer que “é melhor morrer de pé do que viver de joelhos”. Viver na mendicidade e na mediocridade não dignifica o ser humano, é degradante principalmente quando não divisamos uma luz no fundo do túnel.


Isto não é incitação à violência mas sim tentativa de alertar e prevenir as autoridades para manutenção e preservação da paz.


A terra se conquista com exércitos e armas mas a liberdade se conquista educação e a paz se mantém com justiça.


As grandes centralidades, uma iniciativa louvável que deveria trazer dignidade ao cidadão, estão abandonadas se degradando, mesmo com milhares de ‘sem tecto’ povoando as favelas das nossas urbes, porque se usam ou se espera que a distribuição de casas (na véspera das eleições) traga dividendos políticos.


Os novos governantes não deveriam ser simplesmente substitutos dos seus algozes do passado. O povo não deveria confundir liberdade com libertinagem. Cada um deveria saber os limites da sua atuação, respeitar e promover a liberdade, a dignidade e a segurança do próximo. A lei deveria ser aplicada com equidade para estabelecimento da paz social que é o garante do bem-estar de todos; a justiça deveria ser mais justa e menos política.


Israel foi exortado a não construir em Canã um novo Egipto onde Deus substitui a Faraó e a idolatria, egocentrismo, a opressão e a escravidão predominem. Angola independente era a nossa Canã, só que o leite e o mel da terra não passaram de uma miragem para a grande maioria, enquanto uns poucos privatizaram as colmeias e as tetas da vaca! Se os últimos episódios “do arroz do Lobito” não podem ser justificados (só explicados) pela fome e pela miséria pois as imagens mostram pessoas que não parecem estar na extrema miséria, convenhamos dizer que “a ocasião não faz o ladrão, só o revela”!


A comunicação social e a advocacia não deveriam se comportar como prostitutas que vão com quem paga mais. Deveriam informar com verdade e advogar com isenção. A nobreza da sua missão não deveria vinculá-los como comités de especialidade em partidos políticos. Aliás, todos profissionais, no exercício da sua função deveriam agir com consciência cidadã e não partidária.


Se continuarmos a regar a árvore da injustiça e do ódio; Se a “chuva” selectivamente cair só na lavra de alguns; Se rotularmos como inimigo qualquer que tenha opinião contrária e alimentarmos o ódio; Se o amor não superar o ódio e continuarmos a maquiar a realidade com bajulação e inverdades; Se o amor pelo poder não for substituído pelo poder do amor; Se a nossa lealdade à pátria não for embasada no temor e fidelidade a Deus; Receio não haver esperança de dias melhores.
Então lembremos que “ Somos livres para escolher nosso destino mas prisioneiros das consequências de nossas escolhas.”


“ Sou pessimista pela inteligência e optimista pelo desejo”


Pastor José Evaristo Abias