Luanda - A história repete-se passados 30 anos. Não com os mesmos protagonistas, mas o pomo da discórdia continua a ser o mesmo: a intolerância política. Um áudio que circula desde as primeiras horas deste sábado, 20, ajuda a compreender o clima de crispação que tomou de assalto alguns membros da família do músico e compositor angolano Eduardo Paim, após a sua actuação na cerimónia de lançamento da campanha eleitoral de Adalberto Costa Júnior, que se recandidata a presidente da UNITA.

*Nok Nogueira
Fonte: IstoENoticia

O conteúdo do áudio em causa deixa poucas margens para a dúvida. Membros da família de Eduardo Paim afectos ao grupo do WhatsApp não viram com bons olhos a actuação daquele que é considerado o progenitor do género musical kizomba num evento que não se revestia da mesma cor político-partidária de que a maior parte deles comunga.

A resposta do músico, ou pelo menos a reacção, também é categórica, talvez proporcional a intensidade das críticas que foi forçado a ouvir e a ler naquela rede social.

“Apercebi-me que o clima é de confusão. Respeito as pessoas que, de algum modo, mostraram bastante ponderação na análise desta questão. Mas, também registei a atitude das pessoas que estão do outro lado. Sendo assim, com sinceridade e honestidade, anuncio a minha retirada do grupo”, ouve-se no áudio o músico, que, segundo explicações na mesma gravação, já havia prometido gravar um áudio para esclarecer os seus familiares do porquê da sua actuação no lançamento da campanha do líder destituído da UNITA.

Se a cronologia do áudio for a mesma dos acontecimentos, ao que tudo indica, Eduardo Paim nem tempo teve para fazer a referida gravação, porque o clima, como o próprio faz crer no áudio, era de extrema virulência e de cortar à faca, o que o levou, igualmente, a puxar dos galões:

“Se eu sou do MPLA, ou se sou da UNITA, se fui cantar na FNLA, se fui cantar no aniversário do sicrano, eh pá, isso é um problema meu! Que fique bem claro nas vossas mentes. Porque eu canto em cadeias onde estão marginais perigosos e eles aplaudem-me, e eu, na nesta proporção, tenho também a minha gratidão para com eles. Eu canto em hospitais, onde há pessoas boas e se calhar não tão boas… quando eu faço um espectáculo público, nas pessoas que me estão a assistir não está escrito aquele é do MPLA, aquele é da UNITA”.

No mesmo áudio, Eduardo Paim aproveita para esclarecer o que a avalanche de críticas familiares não lhe permitiu fazer: “A minha participação naquele evento foi meramente profissional, para quem quiser acreditar. Quem não quiser, como dizia o meu pai — mas não vou dizer, vocês sabem o que é que ele dizia —, ‘Berda’ e o resto cada um põe a palavra que quiser”, atirou, escusando-se de chegar mais longe na alusão às palavras do falecido pai.

Sem nunca perder as ‘estribeiras’, o autor da famosa canção ‘Rosa Baila’, o também conhecido ‘general Kambuengo’, não quis deixar nada por esclarecer, tendo recorrido à árvore genealógica familiar para explicar as razões do tom crítico com que respondia às críticas de que tinha acabado de ser alvo.

“Como repararam, dentro do Eduardo tem Paim e tem Fernandes da Silva. Neste momento, o temperamento do Fernandes da Silva está a falar mais alto. Certo? Não vos compete julgarem-me. Se acham que têm esse direito, é um problema vosso, isso não me afecta em nada. Sendo assim, manos, continuamos família, sim senhor, mas não tenho tempo para ouvir e ler balelas”, frisou.

Para o artista, mais do que as críticas escritas e deixadas gravadas no referido grupo, esperava que os membros da sua família o contactassem para abordar o assunto e não tal como a maior parte optou por fazer, tendo havido inclusive, nesses registos de áudio e texto, a promessa de queimarem os seus discos.

“Todos vocês têm o meu contacto, podiam me ter ligado para se esclarecem e saber realmente o que é que se passa. Mas não… Já uns porque ‘vão queimar, já não vão mais ouvir’. Por acaso, se isso acontecer, eu deixo de viver? Conforme vêem, é pão-pão, queijo-queijo. Trigo limpo, farinha, amparo. Falei. Quem quiser ficar bem comigo fica, quem quiser ficar mal comigo também problema é seu. Eu fui, tchau!”, concluiu o artista.