Lisboa - O músico e compositor angolano Eduardo Paim foi recentemente tema de um “debate” ordinário, triste e radical, nas Redes Sociais, promovido por jovens (cujos nomes reservo-me ao Direito de não os revelar, por enquanto) alegadamente afectos à JMPLA, organização juvenil do partido no poder. O referido “debate” pôs a nu o sofrível e deplorável nível moral, político e intelectual dos futuros dirigentes do País, bem como a decadência da elegância do debate a nível do MPLA. Tal facto contraria, quanto a mim, a tese segundo a qual a JMPLA é um “viveiro de quadros (sic!)”.

Fonte: Jornal o Kwanza

O grau e a qualidade da argumentação apresentados no decurso do “debate” demonstrou que os jovens em causa não são quadros de quem o País pode esperar muito. São, isto sim, apparatchiks que trabalham para ajudar a denegrir cada vez mais o nome do MPLA e a atiçar a ira do povo contra o partido que governa Angola há quase meio século. São apóstolos da violência apadrinhados pelo truculento “Vento Vento” que, de forma impune, ordenou a eliminação física de activistas políticos (Cassule e Camulingue) e ainda assim foi promovido e acarinhado pelo presidente do MPLA.

Estes jovens, que não agregam valor algum ao MPLA e à Nação, são adeptos fervorosos de uma intolerância política que, por estes dias, quase incendia a pradaria. São prosélitos do partido no poder que, ao que tudo indica, querem que o País volte a ouvir o canto sinistro e assustador da metralha.

Continuando. No sobredito “debate”, os jovens insultaram de todas as maneiras e feitios o músico e compositor Eduardo Paim. Por quê? Por este ter, enquanto profissional, celebrado um contrato com o partido UNITA para abrilhantar a cerimónia de lançamento da campanha de Adalberto Costa Júnior à liderança daquela força política.

Para além de toda a sorte de adjectivos usados para qualificar o músico e compositor Eduardo Paim, os jovens proferiram várias ameaças, chegando ao ponto de quererem mobilizar-se para ir à rua 13, do bairro Cassenda, em Luanda, com o fito de se manifestarem e, como se disse, incendiarem a casa do artista.

Suponho que tal não aconteceu em virtude de um responsável do DIP (MPLA) Luanda ter desencorajado os jovens a não trilharem o caminho da violência verbal ou física e deixarem em paz o músico e compositor Eduardo Paim.

Ora, o que se passou com o músico e compositor Eduardo Paim é, a todos os títulos, inaceitável e condenável. Ele merece a reverência de todos nós, pois deu imensas alegrias ao País quando este sangrava e chorava copiosamente devido a guerra que, de forma transversal, esventrou o seu tecido social e económico. As autoridades devem pôr cobro as ameaças que foram feitas contra a integridade física do músico e compositor Eduardo Paim.

Estou certo e seguro que os jovens que insultaram e proferiram ameaças contra o músico e compositor Eduardo Paim desconhecem que a intolerância política, enquanto ausência de disposição para aceitar pessoas com ponto de vista diferentes ou com opiniões díspares, esteve na base de muitas mortes em Angola. Foi o “combustível” que alimentou a guerra fratricida que terminou recentemente no País.

Tenho a “certeza matemática” que os jovens a quem me refiro nunca ouviram falar dos linchamentos de que muitos angolanos foram alvos por intolerância política. Aconselho-os, por isso, a investigarem o que se passou em Angola nos anos 1975, 1977, 1992 e na “Sexta-feira Sangrenta” em 1993.

O músico e compositor Eduardo Paim, a quem manifesto a minha força total e incondicional solidariedade, merece o respeito de todos nós. É um profissional de se lhe tirar o chapéu. É um servidor público que não olha para bandeiras quando é contratado. Ele é imerecedor de ameaças de quem quer que seja. Eduardo Paim agiu como profissional. Não pode ser crucificado por ter feito o seu trabalho. Foi pago para cantar. Isto não significa dizer ou pensar que o músico e compositor compromisso ideológico com o Galo Negro. Nada disso! Então evitemos os insultos e as ameaças. Mais: Nada de proscreve-lo das actividades socioculturais promovidas pelo Ministério da Cultura ou proibir que as suas músicas não toquem nas estações de rádio e televisão públicas.

Por isso, tomo emprestado o título do dramático poema do malogrado escritor Fernando Costa Andrade (Ndunduma Welepi) intitulado “No Velho Ninguém Toca” para adaptá-lo, aqui e agora, da seguinte forma: No Eduardo Paim ninguém toca!