Huambo - O sermão do Bispo de Cabinda, Belmiro Chissengueti sobre mentes pobres está a ser partilhado avidamente na redes sócias.. Muitos Angolanos entendem exatamente o que ele quer dizer quando fala de políticos mais interessados em dar nas vistas do que fazer as coisas acontecer.

Fonte: Club-k.net


A crítica do Bispo Chissengueti ja foi feita nos anos sessentas, pelo grande psiquiatra e filósofo Martiniquês Frantz Fanon, cuja obras analisam, entre várias coisas, a tendência da elite pós-colonial Africana tentar ganhar importância perante os seus antigos colonos imitando os mesmo ou às vezes fazer uma exposição teatral do poder.


Dois anos atrás, no Katchiungo, perto do Chinguar, terra natal do Bispo Chissengueti, eu vi a governadora do Huambo com uma frota de vinte viaturas que incluía uma ambulância!


Na altura eu estava em frente do hospital municipal do Katchiungo onde os parentes tinham que dar o dinheiro para comprar o combustível do gerador do pequeno necrotério.


Infelizmente, nas nossas culturas Africanas, existe a noção de que ser chefe é ter privilégios que devem ser exibidos.


O grande colunista Britânico, Bernard Levin, escreveu que era muito difícil entender como é que países tão pobres, onde as populações tinham dificuldades em obter água potável, tinham que suportar jactos privados para os seus presidentes.


O Réi da Suazilândia até tem um jacto privado com um sistema especial para lidar com mísseis terra-ar…


Estou a ler um livro intitulado “Conspicuous Consumption in Africa” ou “O Consumo Conspícuo em África.” que têm um capítulo dedicado à elite Angolana. É triste que a elite política do nosso país seja hoje tida como um exemplo de Africanos endinheirados que gastam impensadamente milhões de dólares em bugigangas do Ocidente.


Estima-se que a um certo momento trinta por cento dos produtos de luxo em Portugal eram comprados pela elite Angolana. Existem condôminos luxuosos em Lisboa só para a elite Angolana. Há restaurantes em Lisboa, adorados pela elite Angolana, em que os clientes pagam gorjetas incríveis só para impressionar.


A obsessão que a elite Angolana têm por Lisboa é igual a obsessão que os sheiks Árabes tinham pelo o sul da Espanha; lá, eles gastavam milhões em casas matulonas, prostitutas, vinhos caríssimos, relógios que custavam milhares de dólares etc.


Só que surgiu uma nova elite Árabe, com mais formação e mais sofisticada, que rejeitou isto e optou por investir nos seus próprios países.


O Bispo Chissengueti não deve ser crucificado quando fala de mentes pobres que viajam para o Ocidente com batalhões de assessores para depois darem discursos em salas vazias.


Há livros e documentários sobre a obsessão que o Mobutu tinha por coisas ocidentais. O Mobutu tinha várias casas na Bélgica e colecionava vinho só para impressionar os antigos colonos que ele tanto admirava.


Nas elites africanas, o estado é a fonte de riquezas; a noção de que deve existir uma distinção entre os fundos do estado e o detentor do poder político ainda não está enraizada.


E quem tem o poder não deve distinguir-se de quem não tem — mas deve fazer isto de uma forma notável. O antigo presidente da Zâmbia, Frederick Chiluba, é lembrado principalmente pelos seus sapatos e fatos de duplo peito.


Chiluba tinha centenas de sapatos feitos de pele de crocodilo, lagarto etc. Nem todos os Zambianos discordavam com os excessos do presidente Chiluba; o presidente tinha que se trajar em vestes com que eles só podiam sonhar.


Mas na Zâmbia houve cada vez mais gente formada, economistas com a noção de custo de oportunidade — as outras formas como o dinheiro que estava a ser gasto na compra de sapatos poderia ser gasto.


Depois havia, também, a diáspora Zambiana, altamente sofisticada, para quem o exibicionismo dos políticos era uma vergonha.


A Zâmbia tem hoje um presidente multimilionário, Hakainde Hichilema, cuja modéstia é notável; o homem calça sapatos baratíssimos mas ninguém lhe dá fintas quando se trata de um balancete e quando está numa mesa frente a frente com os Ocidentais ele é levado muito a sério.


Durante o reinado do Chiluba, membros da função pública faziam tudo para terem fatos com peito duplo e sapatos Italianos; hoje o que conta mais são os seus currículos vitae e capacidade de produzir.


Em sociedades onde as aparências contam muito, as ideias, criatividade, disciplina e integridade passam a ter menos valor. Devemos agradecer ao Bispo de Cabinda por nos fazer lembrar que as mentes sérias não gastam o seu tempo com frivolidades.