Huambo - Fernando Garcia Miala, o Presidente José Eduardo dos Santos, seu mentor, o arrancou de soldado escalando patentes e postos intermédios até a tenente-general e que João Lourenço o coroou General de 3 estrelas.

Fonte: Club-k.net

É um militar angolano, que se destacou nas inteligências. Já chegou a ser considerado, no tempo do José Eduardo dos Santos como o “ verdadeiro presidente-sombra de Angola” e voltou a ribalta agora, trabalhando a todo vapor ao lado do João Lourenço.

Depois de quase 12 anos de interregno provocado pela cadeia em que José Eduardo dos Santos o colocou, com acusação de estar a preparar um golpe de Estado contra si. Evidentemente, eu acompanhei o cenário com entusiasmo político nessa altura, conclui triste, que não havia sinais de Golpe de Estado directamente em Angola. As suspeitas desse Golpe advinham do facto de, Garcia Miala a nível de alguns dos importantes presidentes de Africa teria mais fama do que José Eduardo dos Santos; sua dinâmica de trabalho diminuía a visibilidade do Mestre: “Não ofusque o brilho do mestre” Lei do Poder nº1, como tê-lo-ei abordado mais adiante…

EFICÁCIA DE UM GOLPE DE ESTADO (opinião Académica)

Garcia Miala nunca foi General operativo a nível das FAA nos últimos 25 anos. Trabalhando no sector das inteligências precisaria boas alianças na esfera operacional das FAA e da Polícia Nacional para executar um Golpe de Estado com sucesso. Para tal precisaria de aliança fortíssima e cumplicidade com oficiais operativos e comandantes da polícia igualmente operativos, aqueles que dão ordens directas aos soldados e agentes e são obedecidos na hora…, que por sua vez os soldados e agentes só parariam de operar o teatro militar se recebessem ordem dos mesmos para parar e que de contrário continuariam o caos cirúrgico ou relâmpago, neste caso incluiria “amarrar o comandante geral da polícia nacional e o chefe de estado-maior general das FAA, se manifestassem sinais contrários ao golpe. Em substituição, trabalhariam as fidelidades intermédias e de base, que eu chamo operacionais. É por isso que nos exércitos, são mais temíveis os capitães, majores e coronéis que lidam directamente com a tropa em campo, do que os generais que lidam com ordens e burocracia militar…


Por questão preparativa e combativa precisaria também conhecer todo o sector subversivo (comunicação social e propaganda) e o sector de protecção civil (paramilitar), porque algumas empresas de protecção civil são de faixada; e escondem verdadeiro exército, reaproveitando os veteranos de guerra, grandes comandos disfarçados, que muitos deles foram para a reforma carregando suas magias de guerra, seus feitiços e sua bravura e guardando verdadeiros paióis que podem ser acionados e abortar um possível golpe de estado; para além de que, os veteranos de guerra escondem engenheiros de explosivos, sapadores de minas, mecânicos de blindados e aviões militares, bem como equipamentos e técnicas de comunicação. Então devem ser conhecidos, inventariados e controlados... Também no plano político-civil precisa-se já definir os vultos da política que poderiam substituir com sucesso o “golpeado executivo” porque depois da queda do regime por golpe, não deve haver vazio institucional que seja preenchido pelos derrotados que podem boicotar a revolução futura através de sabotagem das agendas revolucionárias…Como aqui se demonstra, um golpe de estado é uma conspiração e por definição, a conspiração só acontece quando há grandes alianças e muitas inteligências operacionais eficazes e eficientes. O golpe de estado não se materializa na base de pagamentos em dinheiro, não existe “saco azul” para financiar um golpe; existe sim motivação, esperança e sonho de uma situação melhor e é esse sonho que torna os golpistas em suicidas e muito corajosos mas acima de tudo isto, está no sangue do golpista a verdadeira e mais pura paixão pela Pátria… Ninguém consegue colher sucesso, na conspiração contando apenas com uma “grandeza isolada” precisa alianças fortíssimas…


O Golpe de Estado não é estratégico, tem um pouco de táctico mas é fundamentalmente operacional. É um relâmpago da hora e depois é que o estratégico e o tático atuam. Ele (golpe de estado) ocorre no movimento contrário à gestão estratégica do País. Os que gerem a estratégia do País é que trazem situação que o Golpe quer resolver; daí que o movimento do golpe deve ser contrário ao status quo que pretende mudar.


Naquela fase, Garcia Miala não tinha efetivos dependentes de si que em menos de 24 horas desse ordem de Golpe e fosse executado com sucesso. Naquele tempo havia boato de que o aludido golpe teria lugar na marginal de Luanda durante a apresentação de Carnaval, até com medo, naquele ano JES não assistiu ao carnaval directamente e pediu ao  “Nandó” como 1º Ministro para o representar. Nós, em nossas tertúlias académico-militar dizíamos que “o golpe mais fácil para José Eduardo dos Santos seria, nas viagens dele ao exterior do País ou nas províncias, portanto ou no acto de levantar voo ou no acto de aterragem…Outras hipóteses seriam no “cumprimento de fim de anos” ou durante os discursos sobre o Estado da Nação…ou nos funerais de seus entes queridos mais nos planos informais…
Agora se o Garcia Miala tivesse que dinamizar um golpe de Estado que contasse com toda a estrutura das FAA e da polícia nacional (que seria um golpe mais pesado e ineficaz quase impossível devido a contrainteligência militar) teria que depender do Chefe de Estado-Maior das FAA e o Comandante Geral da Polícia Nacional e isto é literalmente impossível. Porque as altas chefias militares no geral são beneficiárias das ditaduras que eles defendem e portanto protegem-nas por isso. Não é com eles que se deve contar para Golpe de Estado e sim fazer aliança surpreendente com certos operativos a fim de que o golpe também derruba o EMGFAA e o Comandante Geral da Polícia Nacional contando com a cooperação de comandantes intermédios destemidos, rápidos, corajosos e inteligentes…aqueles que demonstram uma subordinação consciente e nunca deveria incluir os fanáticos e os apáticos “yés men”…para construir o que eu chamo de “simpatia conspirativa conjunta”. Então, naquele tempo, não havia elementos operacionais bastante, que produzissem hipótese de sucesso de um golpe de estado em Angola, liderado pelo Tenente General Garcia Miala, dai que aquilo não passou mesmo de especulação e intrigas palacianas.


Depois de uma análise minuciosa daquilo que a Ciência Política, as estratégias de guerra e as experiências vividas nos ensinam sobre Golpes de Estados no mundo cheguei a conclusão que Angola nunca reuniu condições militares para um possível golpe de estado; tem havido, obviamente, algumas alucinações dos líderes do MPLA sobre existência de tais intenções…até a loucura do General José Maria, Kopelipa e José Eduardo dos Santos já me obrigou a ir depor no Tribunal de Luanda, na presença daquele Juiz Januário Domingos, porque dizem que o meu nome figurava na lista de um suposto Governo de Salvação de Angola com mais outros 40 angolanos…. a maluca PGR disse que nós eramos os tais “Governo de Salvação de Angola” que mandamos os 15+2 a ler o livro para depois executarem o Golpe e nós tomarmos posse como o tal executivo…Mas na realidade em Angola nunca houve tentativa de golpe de Estado…


Muitos angolanos não conhecem e nunca ouviram falar do General Miala. Outros angolanos mais esclarecidos têm medo de falar do General Garcia Miala porque o acusam, às escondidas, de ter sido algum dos grandes arquitectos das perseguições e mortes de figuras da oposição e da sociedade civil. Outros ainda o temem porque acreditam que dele depende quem pode ou não estar vivo em Angola. Ainda outros dizem que é a ele que compete a última palavra na política quem, em Angola, pode subir ou descer, não importa que esteja na Oposição ou no Poder. Até dizem que tem Poderes de definir quem fica Juiz de estrutura superior, quem fica Procurador da mesma estrutura, quem fica na CNE, quem fica ministro ou Governador. Até decide que partido pode ser aprovado pelo TC ou ser arquivado… Pode decidir sobre a estabilidade ou não de partidos existentes…Quanto a mim, eu o vejo, simplesmente como meu compatriota, com quem tenho direito cidadão de disputar o espaço territorial do nosso Belo País e o usufruto de nossos direitos cumprindo nossos deveres de cidadania, que deve estar impregnada para o bem-comum, que nos termos da lei somos iguais e apenas com funções e visões diferentes. Se eu temesse qualquer angolano que fosse, eu fugiria para o exterior do País, mas fico cá no meu Belo País, na minha bonita província do Huambo, lutando dentro, morrendo a tentar e disputar as arenas da nossa doente democracia porque todos somos iguais independentemente de que alguns tenham mais poder sobre as armas e o dinheiro do que outros. Porém, nós sabemos… e o saber também é Poder!


Eu desde que nasci, os piores momentos que vivi em Angola são 3: 2012 aquando da fraude eleitoral do MPLA que obteve os falsos mais de 70% de votos expressos, a fraude eleitoral de 2017 que ofereceu o lugar de Presidente ao João Lourenço. Esses dois momentos, o Garcia Miala “é filho alheio” não participou. Foi obra-prima do Hélder Vieira Kopelipa, José Maria e Manuel Vicente, coadjuvados com uma enorme lista de que lamentamos conhecer bem, todos os arquitectos das fraudes eleitorais em Angola. Principalmente aqueles dois generais e um executivo da Sonangol.

O primeiro feito que mais feriu a minha sensibilidade que é de facto a autoria do Garcia Miala é a anulação do XIII Congresso da UNITA. Só isto bastaria para se entender o quanto eu valorizo a Democracia e o Estado de Direito que não coincide necessariamente com o legalismo. Quer dizer, eu só apologista de que “se houver disputa entre a lei e a justiça, deveria prevalecer a Justiça em detrimento da lei. Porque nem todas as leis defendem e protegem a justiça e muitas vezes são as leis que votam as ditaduras, aliás o apartheid na África do Sul foi votado pela lei, protegido pela lei e defendido no Conselho de Ministros…

Voltando ao General Garcia Fernando Miala do pós-guerra civil, o essencial do meu artigo de hoje, entre 2002 à 2007 houve dentro do MPLA um debate aceso com dinheiro à mistura para se definir 4 pilares fundamentais na altura; tais 4 pilares eram: a)-Reconstrução Nacional, b)-Gestão de uma UNITA fragilizada, vulnerável mas sensível o bastante para ser suicida depois da perda do seu Líder Fundador, c)-Afirmação de uma Angola que se pretende Potência Regional em Africa e d)-Gestão do Boom do Petróleo numa era pós-guerra. Estes 4 pontos eram cruciais em 2002-2007 na mesa das “inteligências”. Tinham a responsabilidade de drenar soluções eficazes e eficientes para os operativos das políticas públicas.

1-Reconstrução Nacional, na altura em que a comunidade Internacional sobretudo a União Europeia e os EUA negaram realizar a Mesa-Redonda Internacional de Doadores para a Reconstrução de Angola. Alegaram que Angola, um país não-transparente e com elevado índice de corrupção não garante segurança financeira para introduzirmos o dinheiro para a reconstrução nacional. Angola rapidamente socorreu-se da China. Nessa altura, o foco de Angola por vingança correram para a China buscar os petro-dólares chineses para provocar ciúme a Europa e América bem como reconstruir Angola. Houve uma sabedoria flagrante do General Miala, ele próprio trouxe sucesso em Angola. E provocou muito ciúme no General Kopelipa e Zé-Maria. General Miala era Director Geral dos Serviços de Inteligência Externa de Angola (SIE) esse sector tem muito a ver com sucesso ou insucesso das relações internacionais e da política internacional bem como com a escolha criteriosa dos instrumentos jurídicos internacionais que devem ser ratificados em Angola para terem força da lei nacional, numa palavra Director dos SIE é chefe dos chefes de toda a diplomacia do País na sua relação com outros Governos, corporações transnacionais, direito internacional etc tinha que ser o mais polivalente possível.

2.Reintegração Nacional dos Antigos Militares da UNITA (gerir seu estado psico-emocional fragilizado). Nessa altura do auge das “Inteligências” do General Garcia Miala, o MPLA do José Eduardo dos Santos estava a debater séria e fortemente a melhor maneira de acomodar as chefias e os soldados militares da UNITA depois de eles (MPLA) assassinarem o Presidente da UNITA no mato e alegar morte em combate. Nessa altura o MPLA estava consciente de que a UNITA militarmente falando estava forte, só a coluna do Presidente da UNITA e do Vice-Presidente estavam fragilizadas em termos logísticos mas estratégia e tacticamente estavam de saúde. Só a nível operacional havia fraqueza. Mas a UNITA noutras frentes como Cunene, Uíge, mesmo no Huambo e Huila respiravam saúde e motivação de continuidade. No plano internacional havia logística que sobrasse não obstante as sanções impostas (de forma insólita) pela ONU a UNITA tinha apoio em toda CDEAO e em outras regiões. Nesse contexto, (ad intra) o Memorandum do Luena não visava a Paz. Isto não era nem é do interesse do MPLA. O Memorandum do Luena visava fundamentalmente usar a paz como álibi para confiscar todas as armas que estavam ainda com a UNITA. Daí a necessidade de acantonar toda a tropa da UNITA e voltar a mobilizar, desarmar e registar de forma exaustiva. Porque um general relativamente jovem e motivado se assumisse as rédeas da UNITA, poderia haver desfecho imprevisível tendo em conta que de todos, os generais provenientes da UNITA são os melhores que Angola tem” por isso depois de eliminação do seu Líder rapidamente o MPLA entendeu difundir em Angola e no exterior a mensagem de paz, reconciliação, reencontro de famílias desavindas, e para isto e com chantagem rubricou-se acordos. Essa mensagem, à semelhança da Reconstrução Nacional captou muitos milhões do Banco Mundial e doutras entidades internacionais criando projecto de reintegrar os antigos militares da UNITA na esfera social a fim de não terem motivação para retorno à guerra de gerrilha. A inteligência e sabedoria do Garcia Miala também se destacou nesses pontos e o outro cérebro que muito derramou sua massa-cinzenta nisto foi o luminoso falecido Osvaldo de Jesus Serra-Ván-Dúnem. Neste ponto também a rivalidade do Kopelipa e José Maria teve ascendente contra o Garcia Miala.

3-A concorrência em termos de protagonismo em Africa entre Angola, a Africa- do-Sul e a Nigéria. Não sei se o General Miala sabe disso mas ele (Garcia Miala) era muito apreciado na Africa do Sul pela ala do Thabo Mbeki, Presidente que substituiu no cargo, o lendário Nelson Mandela. Pelo contrário Mbeki era inimigo de estimação do José Eduardo dos Santos. A dada altura José Eduardo dos Santos assediava seriamente o ANC para promover Jacob Zuma a Presidente da Africa do Sul e esse sonho se concretizou mais tarde quando Garcia Miala estava a atravessar o “mar vermelho”. Jacob Zuma quase idolatrava JES e com o Dinheiro dos Kopelipas e outros o polígamo e semi-analfabeto Jacob Zuma veio a ser presidente da Africa do Sul em detrimento do intelectual Thabo Mbeki, que caiu por força da “Monção de Censura do ANC” coadjuvado com a Justiça. Tendo em conta que Garcia Miala, “às escondidas” creio que sabia da admiração que ele infundia no Thabo Mbeki, e nessa altura, Mbeki era um dos líderes da NEPAD-Nova Parceria para o Desenvolvimento da Africa, incluindo outros 3 presidentes nomeadamente Abdelaziz Bouteflika da Argélia, Muammar Khadaffi da Líbia e Abdoulaye Wade do Senegal, por extensão o Líder da Nigéria, Olossengu Obassanjo também nutria simpatia particular com o General angolano. Se tivéssemos que classificar, diríamos que nos 5 líderes havia Dinheiro, Armas, Conhecimento Científico e Estratégico sobre a Africa toda. Eram literalmente os presidentes mais importantes e reais da Africa. Todos esses nutriam simpatia pelo General Miala e manifestavam repulsa ao José Eduardo dos Santos. Advogavam a União Africana (Estados Unidos da Africa) para arrancar o continente da pobreza em que se encontra e não encontravam nem simpatia nem interesse de aproximação por parte do José Eduardo dos Santos e era do seu interesse que dentro de Angola encontrassem um aliado jovem, inteligente, flexível e familiar com a coisa internacional e outro não poderia ser senão o jovem tenente General que no plano regional está por dentro dos assuntos do continente. A esses vultos da NEPAD se simpatizando com Garcia Miala havia também uma admiração particularíssima da parte do Olossengu Obassanju, presidente da Nigéria, que não poupava elogios a Garcia Miala e considerava-o um dos melhores inteligentes da esfera policial em Africa. Olossengu Obassanju vinha da esfera militar aquando das Independências da Africa. Porém, passou pela cadeia na era do Presidente nigeriano, General Sani Abacha e quando saiu da cadeia se tornou herói da democracia nigeriana e pregava a transição para as democracias modernas em Africa. Daí  sua repulsa pelo ditador angolano José Eduardo dos Santos e sonhava com outras lideranças angolanas e sondava Garcia Miala …

A Nigéria sempre disputou espaço e protagonismo com Angola na esfera do sector energético sobretudo na distribuição do petróleo a sul do Sahara. A Nigéria sempre se opôs a pretensão angolana de controlar o Golfo da Guiné, na verdade toda a CEDEAO nunca olhou com bons olhos as ambições do José Eduardo dos Santos que com sua soberba se isolava dos outros. Acusavam José Eduardo dos Santos de querer dominar a Africa Austral e retardar a paz na RDC e na Região dos Grandes Lagos, para ganhar protagonismo e aspirar a ser uma potência regional militar.

A simpatia dos líderes da NEPAD pelo General Garcia Miala, passava a mensagem a José Eduardo dos Santos de que se GM conseguisse buscar apoio das verdadeiras potências militares, económicas e científicas como Africa do Sul, Nigéria, Líbia, Argélia e Senegal então Garcia Miala teria na palma da sua mão-jovem a Africa toda a seu favor e se um dia se desentendesse com José Eduardo dos Santos esse iria cair num golpe de estado de manhã, e de tarde Garcia Miala poderia reorganizar o País com sucesso e apoio abundante viria das verdadeiras potências africanas… Aqui ao lado era a Zâmbia de Levi Mwanawassa que se simpatizava com Garcia Miala e pelo Contrário Levi Mwanawassa abominava José Eduardo dos Santos à semelhança da Nigéria. Ele detestava tanto o José Eduardo dos Santos que entendia que era o obstáculo nº 1 à democratização total da SADC. Levi Mwanawassa descarregava sua indignação contra o vizinho Zimbabwé, atolado na ditadura do Robert Mugabe que bem aprendera com José Eduardo dos Santos. Infelizmente, teve morte prematura aos 59 anos, depois da cimeira da OUA no Egipto, teve paragem cardíaca…pelo contrário a linha dos Kopelipas eram admirados no vizinho Zimbabwé do Robert Grabriel Mugab, na RDC dos Kabilas e mais para lá do Uganda… até Angola de José Eduardo dos Santos, financiava a autocracia do Zimbábwe.

4-O Boom do petróleo avolumou as rivalidades internas no MPLA: quem deveria ter mais protagonismo na gestão dos milhões e quem ganharia mais atenção do Presidente José Eduardo dos Santos que a atribuição das licenças de exploração do petróleo eram da competência pessoal do Presidente JES. Os triliões em dinheiro poderiam permitir grandes famílias acumular primitivamente o capital e quem seriam essas famílias? Esses quatro elementos não jogaram a favor do Garcia Miala. Para agravar este 4º ponto saliente-se que, internamente Garcia Miala tinha feito “inconsciente” ou por descuido ou propositadamente alianças pequenas mas muito preocupantes para o José Eduardo dos Santos que quase fugia à sua própria sombra: Garcia Miala desencadeou uma campanha subliminar assediando positivamente os cantores mais famosos do momento em Angola incluindo o Big Nelo, o Walter Ananás, a Yola Semedo, o Dodó Miranda etc, Garcia Miala chegou de oferecer carros aos cantores e jornalistas. O que deu nas vistas e provocou inveja… também fez alianças com jornalistas de renome com destaque para o Ernesto Bartolomeu. No plano económico Garcia Miala se tornou amicíssimo do Empresário de craveira internacional, naquele tempo, o Valentim Amões, que era militante convicto da UNITA mas que em 2004 foi convidado pelo Presidente José Eduardo dos Santos a ser membro do Comité Central do MPLA sem nunca ter sido pertencente a nenhum CAP (ele disse-me isto, pessoalmente, em Agosto de 2005, num jantar em casa dele pois que também era meu amigo e disse em suas próprias palavras: “o MPLA gosta de quem trabalha muito e como eu sou trabalhador incansável fui convidado a ser membro do CC e nem sei o que me espera lá…” em Janeiro de 2008 foi morto em “atentado” de nevoeiro no seu avião: dizem que devido às nuvens do Huambo, o jactinho do empresário chocou contra a Montanha do Mbave região que por ironia do destino se liga a terra natal do mesmo. Então ficamos com a informação oficial de que os factores climáticos fizeram cair o voo do Valentim Amões, na altura amigo do General Garcia Miala…

A aliança que Garcia Miala fez com jornalistas, cantores e empresário do momento, bem como a tentativa de criar um projecto de índole social “CRIANÇA-FUTURO” mostrou que Garcia Miala está a extrapolar a ética das “inteligências” e está muito exposto o que revelava que parece pretender mover de esfera secreta para a campanha política de visibilidade. Tudo isto constituiu os antecedentes da acusação do Golpe de Estado.

A ACUSAÇÃO DE GOLPE DE ESTADO

Pelos seus detractores, Garcia Miala fora acusado de planear um Golpe de Estado e de Tenente General fora despromovido para soldado e conduzido a reforma compulsiva e ficou civil. Só depois de ser já civil foi convocado para uma parada apenas reservada para militar. Era improcedente que sendo civil se fizesse presente numa parada militar então conhecendo esse particular da esfera militar, Garcia Miala não compareceu na parada militar alegando que sendo agora civil não era digno de estar sob as ordens militares. Ai sim, os Kopelipas e Zé-Maria pressionaram o General Furtado, actual Chefe da Casa de Segurança do Presidente João Lourenço, para acusar Miala de Crime de insubordinação, por ironia de destino agora os dois generais lado-a-lado estão a trabalhar para proteger João Lourenço. Garcia Miala fora condenado a 4 anos de prisão efetiva e esteve mesmo inicialmente no Bloco C da comarca da Viana, e depois esteve na área da enfermaria. Durante a sua prisão não recebeu visitas das figuras do MPLA. Eramos nós, da sociedade civil, líderes religiosos e algumas figuras quase anónimas do Governo a visitar Garcia Miala. Os outros mais dedicados a visitá-los eram os cantores e jornalistas que, na verdade, tinham laços de gratidão económica ao Garcia Miala. Todos os dirigentes de topo do MPLA, como covardes, Ministros, Governadores, generais, comissários… ninguém teve a coragem de visitar o Garcia Miala na cadeia, para não serem conotados. Na verdade, os militantes do MPLA têm tido uma cidadania mais doentia que existe em Angola. Por tudo e por nada são medrosos e recuam à-toa! Nessa altura nós, activistas de direitos humanos fomos instados pelo cordo de seus advogados que organizássemos colóquios internacionais sobre os presos políticos em Angola. Nos desdobramos no Brasil para mobilizarmos mais de 300 activistas ao redor do mundo representando mais de 150 países num colóquio internacional com o tema: “A democracia africana e o perigo da parceria Africa-China” falamos da cadeia de Guantánamo, falamos das cadeias de Angola e o caso Miala etc… em Genebra, à margem de uma das pré-sessões da ONU abordei o Embaixador de Angola naquela instância internacional sobre a prisão do Miala e tentei enfiar-lhe uma petição para encaminhar aos seus colegas estrangeiros e ainda pedi que me fornecesse a lista dos emails dos embaixadores para de noite eu encaminhar alguns materiais da injustiça contra o Miala e o Embaixador do MPLA simplesmente me repeliu depois de me perguntar: “você vive mesmo em Angola? Nunca ouvi falar de ti. Ou és também daqueles jovens escondidos aqui na Europa mas querem falar de uma Angola que mal conhecem? Depois atirou: aqui não se defende golpistas…” depois desse ponto encaminhei com sucesso o dossier através dos corredores. “chamamos corredores, aquelas conversas com os diplomatas durante os lanches, os almoços no jardim ou no corredor, nas sessões de fotos, nas entrevistas paralelas aí canaliza-se informações importantes que por via oficial são barradas pelos Angolanos influentes…O General Miala sabe muito bem disso.

Na altura Angola não fazia parte do Conselho de Direitos Humanos da ONU e portanto não elaborávamos relatórios-sombras mas havia mecanismos especiais onde canalizávamos nossas recomendações e petições que por sua vez os embaixadores do mundo presentes na ONU pressionassem o Governo Angolano para libertar o Garcia Miala e na altura era o único preso político e juntamente com mais outros 3 seus colegas todos das “inteligências”, incluindo a Maria da Conceição que ameaçava entrar em greve de fome na cadeia que depois entrou mesmo… Garcia Miala, provavelmente não tem ideia nem noção do quanto a prisão dele nos preocupou naquela altura e nos consumiu dias e noites produzindo pressão política ao José Eduardo dos Santos…temíamos pela vida dele. Pensávamos que os kopelipas iriam mata-lo na cadeia… e inventariam algum pretexto de a morte ter sido causada por paragem cardíaca ou derrame cerebral ou outras anomalias que eles sabem bem inventar para justificar assassinatos políticos.


Num belo dia, um dos nossos parceiros e canais das actualizações sobre a situação carcerária do Garcia Miala, nos ligou e fizemos nossa reunião habitual e desta vez veio-nos uma ameaça. Mandaram “sacudir” a casa do Garcia Miala quase invadida no bairro azul. Depois foram até a cela dele na Comarca da Viana e sem aviso prévio e com ele dentro da Cela, tentaram desinfetar a cela metendo algum produto e ainda nos informaram que queriam pintar a cela com inclino lá dentro o que revelava que pretendiam envenenar o preso. Nós corremos atrás dessas evidências se havia foto, ou coisa parecida mas não conseguimos evidências nenhumas. Contactamos o director da Cadeia, o tal Sr. Quintas, que se recusou prontamente a atender nossas “especulações” disse que todo o preso é propriedade dele e em condições iguais, ainda respondeu que na prisão todos são presos não há nem general e nem soldado. Chefe era só ele mais ninguém. Depois dessas especulações, finalmente tivemos uma informação interessante: O General Garcia Miala teve a visita de um outro General. Na verdade foi o pedido do condenado que aquele General o fosse ver. O tal General que por ética omito o seu nome, visitou primeiro o JES informando que o General preso pediu que o fosse ver. Lá o General Garcia Miala manifestou aborrecimento com a cadeia antes de terminar o gozo da condenação. Disse ao seu visitante que levasse o recado ao Presidente JES de que ele estava mesmo muito agastado e não quer ficar nem mais 48horas na cadeia, porque está a perder paciência. Esse recado escreveu em forma de um bilhetinho com sua caligrafia de que JES conhecia bem e o recado foi levado. Como resposta, simplesmente JES escreveu no mesmo papel no verso e ordenou a soltura do Garcia Miala sem MANDATO JUDICIAL COMPETENTE DE SOLTURA. A nós, sociedade civil, sempre ávido de saber o que lá se passava disseram que Garcia Miala sentiu-se mal e foi evacuado para um atendimento médico numa clínica privada situada no Benfica (Luanda) mas está fora do perigo. Daquela data jamais voltou para cadeia. Como bom especialista do silêncio nunca deu entrevista explicando a história…provavelmente um dia desses nas suas memórias…

A partir da Prisão dele e o estilo de sua soltura, entendi que a Africa não consegue se governar na base da lei e sim no capricho de qualquer tirano que esteja no Poder. O General Garcia Miala, foi abusado, humilhado e não tinha cometido nenhum crime. Daí eu jamais acreditei na Justiça angolana. A justiça angolana era e é falsa, vulnerável à pressão política, manipulável e volúvel ao dinheiro porque facilmente pode ser comprada. Garcia Miala foi pessoalmente vítima de uma justiça corrupta, de uma justiça covarde e politicamente malévola e “judicialmente” nula. Mas o “filho alheio” mamou cadeia.

A dor que Garcia Miala sofreu na cadeia de uma justiça falsa é a mesma dor que a UNITA está a passar actualmente, sofrendo as consequência de uma justiça falsa. “Não faça a outros o que não gostaria que te fizessem a ti”. O Acórdão 700/21 que anulou o XIII Congresso da UNITA e destituiu Adalberto da Costa Júnior é tão malvado quanto aquela sentença que condenou Garcia Miala depois de ser destituído do Cargo que fora nomeado com dignidade e brio militar. É preciso inteligência e sensatez, discernimento e consciência para se escolher os alvos. “Injustiça contra um é injustiça contra todos”. “Sempre haverá um momento em que não teremos acesso a uma “justiça” justa mas nunca faltará um momento em que não possamos protestar contra as injustiças”. Injustiça ontem contra Fernando Garcia Miala é Injustiça hoje contra Adalberto da Costa Júnior. Não interessa em que ângulo você esteja, mais uma vez: “A Injustiça num lugar representa a ameaça a justiça em todo o lugar” Martin Luther King ”; “ a injustiça que se faz a um é uma ameaça que se faz a todos” Charles de Secondat Barão de Montesquieu  

MOTIVAÇÃO DO GARCIA MIALA PARA SE ALIAR A JOÃO LOURENÇO

Garcia Miala sempre foi um militar “limpo” a rigor do termo. Foi patriota convicto e silencioso. JES o temeu porque em todo o tempo de sua prisão jogou limpo e aceitou a condenação sem vazar segredos de estado. Revelou uma profunda capacidade de uma personalidade estável e demostrou que, militarmente falando, se trata de um homem bem treinado. Seja como for é evidente a ferida cavada pela cadeia que sofreu. Fez disso um inimigo claro do José Eduardo dos Santos. João Loureço é pessoalmente também inimigo do José Eduardo dos Santos pelas razões desconhecidas do público. Miala sim, foi preso por José Eduardo dos Santos e publicamente humilhado mas João Lourenço, o público desconhece o que se terá passado na sua relação com o Presidente José Eduardo dos Santos que os tornasse inimigos. Ora, Garcia Miala nunca foi do nível político-militar do João Lourenço. Garcia Miala tem carreira militar que João Lourenço não tem e jamais teria. Garcia Miala sempre esteve acima de João Lourenço na tomada de decisões estratégicas de Angola e na verdade actuou sempre no plano que de longe João Lourenço esteve; por isso, Garcia Miala não tem necessidade de manchar sua carreira militar invejável para defender o fracasso da governação do Presidente João Lourenço. Esse fracasso é tão irreversível e contagioso que quem tenta limpar sai mais manchado do que qualquer outro. Então volto a me fazer a pergunta: o que motiva o Garcia Miala, a ajudar João Lourenço a destruir a democracia já frágil de Angola? O que ganha Garcia Miala ajudando João Lourenço a destruir o Estado de Direito Angolano. A vingança de Miala pela cadeia que José Eduardo dos Santos o fez passar lhe torna necessariamente aliado do João Lourenço? Isto é uma causa que contém alguma nobreza para fazer tal aliança? Se o presidente João Lourenço fosse dotado de rudimentos mínimos de política saberia que, o fracasso da sua governação, e com ela todas as suas opções no geral fracassaram. Analisando os desvios, analisando os erros desde estratégicos, tácticos e operacionais seria bastante para assacar responsabilidade aos seus conselheiros, os seus estrategas e os seus operativos e concluir-se-ia de se tratar de um Golpe Político mais letal e mais fatal que um golpe militar. Este sim: é o mais flagrante e perigoso golpe político. Por mero exemplo, a anulação do XIII Congresso da UNITA é um verdadeiro e autêntico golpe fatal contra o MPLA. E quem pensou e planificou isso? E consegue de forma ferrenha e convincente defender perante o João Lourenço o que se ganhou, politicamente falando, com o Golpe do Acórdão 700/21? que retirou de forma efémera Adalberto da Costa Júnior da presidência da UNITA? Quem aconselhou João Lourenço a fazer essa opção enterrou bem fundo a carreira política que João Lourenço quereria edificar na história de Angola. Falhou redondamente e todas as opções futuras irão apenas “enfeitar” esse bolo bem envenenado contra João Lourenço. Como “Abismo chama outro abismo” João Lourenço comete erro de promulgar a lei da fraude eleitoral. Ainda João Lourenço irá provavelmente criar fissuras na sua relação com a Igreja Católica e erros atrás de erros vai subsidiar todos os dias a repulsa que o povo tem da Governação do João Lourenço e com ele toda a máquina do MPLA está sujeito a essa consequência deveras nefasta para eles. Não haverá nem guerra nem golpe militar mas os golpes políticos estão a ser rápido e eficazmente executados no dia-a-dia. Mais uma vez, espero que o General Garcia Miala tenha já identificado quais os seus ganhos políticos agora e no futuro trabalhando para o Presidente João Lourenço, na construção de erros de cálculos, erros de previsão e falhas políticas.


EPÍLOGO. O segundo mandato do Presidente João Lourenço ao Lado do General Garcia Miala só servem para salvar o seu ego, a fim de não se juntar ao “morro das lamentações” com JES e os Kopelipas. Para salvar o ufano, Miala e JLO não conseguem se imaginar ao lado do General José Maria. Então fazem das “tripas, coração” para que pelo menos se ficarem em mais um mandato, por sorte até lá JES não estará mais vivo” mas esperar uma governação melhor isto nunca. João Lourenço é a figura mais errada que temos na política angolana. “Está lá para dar ordens e ganhar dinheiro, mas não consegue fazer diferença”. Eu disse isto aquando da tomada dele de posse e repito isto hoje com orgulho de mim ter acertado na minha profecia. Aqui está o link do que eu falava quando JLO tomou posse e volvidos 4 anos me sinto com consciência tranquila porque nunca acreditei no Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço quem assim quiser que confira o link. (https://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=29436:parabens-ao-novo-presidente-e-adeus-ao-velho-presidente-angelo-kapwatcha&catid=17&Itemid=1067&lang=pt


Por: Ângelo Kapwatcha, Defensor dos Direitos Humanos