Luanda - A ideia de que Luanda não foi fundada por Paulo Dias de Novais no dia 25 de 1576, exposta no jornal de Angola por Ruis Ramos, alegando uma suposta “controvérsia histórica” inexistente, e pelo movimento Afrocrata, na pagina de Facebood do Isidro Fortunato ou em entrevistas a TPA pelo Historiador Felipe Vidal, esta simplesmente errada, sendo que este texto vai fazer a síntese e refutação de seus argumentos, para afastar mais uma ideia nociva, para a inteligência nacional.


Os argumentos contra a fundação Portuguesa se resumem a afirmar:


1. Existência de uma população Africana em Luanda.
2. Existência de uma cidade Africana em Luanda.
3. Que celebrar a fundação de Luanda constitui uma apologia ao colonialismo.

Existiu uma população Africana em Luanda?


Sim, existia uma população Africana na zona de Luanda, atestada em textos Portugueses, que vivia em uma aldeia na ilha de Luanda, que estava dedicada a colheta dos Zimbos sob a supervisão de uma guarnição do Rei do Congo. O erro dos Afrocratas esta na sua premissa oculta de que uma cidade só pode apenas ser fundada em uma zona sem população, como aconteceu por exemplo com Alexandria no Egipto quando foi fundada por Alexandre Megas, porem existem casos como Roma, criada pela amalgamação das aldeias pré-existentes nas suas famosas sete colinas, e as diversas aldeias e fortalezas que foram ampliadas ao longo do tempo para se transformar em cidades.


A origem Africana do nome “Luanda” e vários bairros da cidade é apresentada como prova da “Africanidade” de Luanda pelos Afrocratas, como se tratasse de uma informação oculta, porem acaba sendo mais um sintoma de sua tendência a síntese confusa, de amontoar informações irrelevantes para dar a impressão de erudição e cansar o leitor. Na verdade, os Portugueses nunca pretenderam fazer passar a palavra “Luanda” por portuguesa, até porque a cidade foi fundada com o nome de “São Paulo da Assunção de Luanda”, sendo da “São Paulo da Assunção” o nome da cidade e de “Luanda” um adjetivo referente a zona em que estava localizada, provavelmente perguntaram a um africano ao chegar a baía qual era o nome do lugar. Cidades com nomes compósitos tem uma longa tradição no Ocidente, como as varias Alexandrias fundadas por Alexandre o Grande. A forma curta Luanda foi talvez consagrada pelo uso talvez para evitar confusão com a mais famosa São Paulo no Brasil.


Existiu uma cidade Africana em Luanda?


Não existiu, nem segundo os padrões europeus e nem segundo os padrões dos Africanos Bakongos, que viam diferença entre uma Mbanza e as aldeias, sendo que nunca mencionaram qualquer Mbanza na zona de Luanda. Diante destes simples fatos os Afrocratas recuam para o relativismo e viram sofismo, fingindo demência, alegam alternativamente que os Africanos não tinham conceito de cidade naquela altura, argumento desmentido pela existência de Mbanza Kongo, ou que não existiam para os Africanos diferença entre uma aldeia e uma cidade, sendo que existia uma cidade de Luanda Africana pois existiu uma aldeia Africana na ilha de Luanda. Seria o equivalente a dizer que os “povoamentos” do Sumbe, Caputo e Ngangula sao igualmente cidades.


Outro ate alegam como prova a localização de Luanda no território do Reino do Ndongo … como se cada metro quadrado de um reino ou pais esta coberto por uma cidade, coisa inusitada que acontece apenas em cidades-estados como Singapura ou Hong Kong.


Vamos aceitar, para fins argumentativos, a existência de uma aldeia/cidade Africana na ilha de Luanda e nos perguntar quais de suas características organizam a actual cidade de Luanda?


Se existiu, seu impacto esta longe de casos como de Istambul, que conserva até hoje o arruamento e centenas de edifícios da Antiga Constantinopla, alem de ainda ter as mesmas funções administrativas, comerciais e culturais, apesar de ser ao serviço de uma nova bandeira. Que parte da Cidade da Luanda actual reflecte a suposta “cidade originaria Africana”?


Os Afrocratas insistem nesta aldeia Africana na ilha de Luanda, mencionada como primeiro Abrigo dos Portugueses na Baia de Luanda, pelo valor simbólico e cultural actual, sendo que para muitos precisa se ir a Ilha para se conhecer plenamente Luanda, porem antes da construção da ponte que a liga ao continente a ilha pelos portuguese na década de quarenta, esta esteve a margem da cidade de Luanda, que se definia então pelo pelo seu porto voltado ao comercio transatlântico e para abastecer o interior, as suas fortalezas que a protegiam de ataques vindos do mar, suas casas orientadas a volta da marginal de Luanda, e finalmente pela sua população composta de Europeus, Africanos assimilados a cultural europeia e Africanos de cultura nativa, porem estas duas componentes Africanas nem são vestígios da suposta aldeia/cidade Africana da ilha de Luanda, sendo pelo contrario composta de imigrantes atraídos pelas oportunidades económicas da cidade Europeia, sendo que os primeiros vieram de Cabinda por exemplo.


Esta Luanda que conhecemos, apenas passou a existir com a chegada de Paulo Dias de Novais.
Celebrar a fundação de Luanda constitui uma celebração do colonialismo?


A última fase dos argumentos Afrocentristas, umas vezes refutados os dois primeiros, enveredam por longos argumentos sobre a suposta negação da história dos Africanos e glorificação dos horrores do colonialismo implícito na celebração da fundação da cidade por um “colonialista Português”. Deixando de lado os méritos ou deméritos do colonialismo, estamos diante de uma tentativa de negar os factos históricos que sejam negativos para o “seu povo”, o que corresponde a uma revolta contra a realidade. Que a fundação da cidade de Luanda tenha sido um acto de colonialismo de nada tem a ver com a veracidade histórica do facto, negar o facto por discordar com ele raia ao pensamento magico, como o homem que nega as provas da infidelidade de sua mulher por não suportar a dor. Por mais que seus argumentos sejam fortes e convincentes, o que aconteceu não desaparece da existência. Seria como se os Chineses negassem a sua derrota na Guerra Sino-Japonesa para “não alimentar a narrativa de superioridade Nipónica”, muito pelo contrário, devemos aceitar a historia no seu todo para aprender com os erros e procurar soluções para os desafios do futuro.


O bem e o Mal fazem parte da vida, devemos sempre suspeitar de quem se apresenta como o bem perene e sem nuance.


Os Afrocratas camuflam este intento de manipular a historia sob a desculpa que a história “oficial foi uma narrativa portuguesa para justificar o colonialismo”, porem no final acabam criando uma narrativa de sinal invertido a seu próprio proveito. Ideologia Afrocentrista dos Afrocratas é uma forma de uma forma de “Historiogenesis”, que coloca o “homem Africano”, definido como qualquer pessoa de tom de pele que varia do castanho ao negro, no centro da historia, origem e culminação de todas as realizações e culturas, sendo por isto uma necessidade psicológica e logica negar a fundação Portuguesa de Luanda, pois em um mundo em que todo o bem foi feito pelo homem negro, o homem branco pode fazer apenas o mal. Não basta ser igual, devemos ser superiores.


Parece ser uma ideologia muito inovadora, porem tem muito em comum com atitude dos presidentes Africanos que apagam qualquer vestígio de seus antecessores e fingem que a história de seus países iniciou e culmina com eles, como se o domínio do passado garantisse o domínio do presente e do futuro. Esta atitude se manifesta na cultura Angolana pela luta de narrativas entre os partidos de Libertação Nacional sobre quem foi fundado primeiro ou quem iniciou a guerra colonial primeiro, como se o “primeiro” teria o “direito” natural de exercer o Controle do Estado Angolano, quando na verdade apenas o Capaz pode exercer o Poder, seja ao derrotar seus concorrentes por proezas Política, militar ou Económica. Sendo tragicómico que o MPLA, vencedor de todos os seus inimigos, deve perder tempo reescrevendo a história para justificar o que conquistou por mérito próprio.


Não se trata aqui de “defender os portugueses” ou de ser um “negro assimilado”, como gostam de dizer os Afrocratas, quando se encontram com um Angolano que duvida ou não partilha de suas ideias, trata-se de defender a verdade. Sendo que se o destino dos Povos é determinado pelo seu potencial intelectual, prostituir nossa inteligência para sustentar nossa autoestima ou seu desejo de ascensão social de algum será um preço demasiado alto.


Samuel Amaral, Viana, Luanda.