Luanda - Enchentes e filas intermináveis marcam o penúltimo dia do registo eleitoral oficioso em Luanda, onde a procura pelos serviços do Balcão Único de Atendimento (BUAP) mais do que triplicou com os cidadãos a queixarem-se de “morosidade e falta de logística”.

Fonte: Lusa

O registo eleitoral oficioso, processo que teve início em 23 de setembro de 2021, termina já na quinta-feira, 31 de março, e os BUAP nas últimas semanas registam uma procura considerável, tal como constatou hoje a Lusa, em Luanda.

Jovens, adultos, gestantes e mães com bebés ao colo e até idosos madrugam à entrada dos balcões de atendimento espalhados por Luanda para verem atualizado o seu registo eleitoral, que os habilitará a votar nas eleições gerais de agosto próximo.

Apontam a preguiça e desleixo como razões para não acorrerem anteriormente aos BUAP e, nas filas, queixam-se da morosidade no atendimento e da falta de logística e de mais técnicos para responderem à demanda.

O cenário de enchente e impaciência dos munícipes foi verificado no BUAP do distrito urbano do Ngola Kiluanje, onde Júlio Alexandre, 29 anos, disse ter chegado por volta das 05:45 da manhã e cinco horas depois ainda não havia sido atendido.



“Não fui atendido, porque aqui tem muita enchente e nós estamos a falar de um sistema que está muito lento, o porquê não sei, estão a tirar apenas duas pessoas e parece que há uma incapacidade de senhas para poder atender toda essa população”, disse à Lusa.

Com a senha n.º 79 na mão, o jovem estudante relatou que venceu o “desleixo” acreditando que a quarta tentativa para efetuar o registo eleitoral oficioso naquele balcão deve acontecer nesta quinta-feira, após esperar por uma fila com mais de 100 pessoas à frente.

Pedro Silva, 45 anos, que resolveu faltar ao serviço para efetuar o seu registo eleitoral, disse que acordou hoje as 04:00 da manhã, após falhar a primeira tentativa na terça-feira, e vai aguentar a fila, num processo que disse estar “muito lento”.

“Estava aqui ontem (terça-feira) às 19:00 locais e não consegui mesmo e tive de vir hoje as 04:00 e faltar ao serviço por causa desta situação, também há poucos BUAP aqui no distrito e essa é também a razão da enchente e é um sacrifício”, referiu.

A responsável do BUAP do Ngola Kiluanje e chefe da repartição de Registos e Modernização Administrativa da circunscrição, Edeltrudes de Oliveira, deu a conhecer que o balcão está a trabalhar, entre as 08:00 e as 21:00 locais, com quatro técnicos.

Edeltrudes de Oliveira negou morosidade e disse que a considerável adesão resulta da ansiedade dos últimos dias do processo, dando conta que aquele BUAP do Ngola Kiluanje está a atender desde a última semana uma média de 1.000 munícipes/dia contra os anteriores 200.

“Nestas últimas semanas há uma enchente considerável, há bastante adesão, infelizmente temos um horário de entrada e saída, entre as 08:00 e as 21:00, e muitos regressam a casa porque a adesão é muita”, explicou.

Um grande cordão humano preenche a parte frontal da administração do distrito do Sambizanga, na rua Ndunduma, município de Luanda, enquanto várias pessoas cansadas de esperar em pé acomodam-se nos passeios aguardando pela sua vez.

No meio de dezenas de pessoas ávidas pelo registo oficioso no BUAP do distrito do Sambizanga encontramos a senhora Nilsa Dias Azevedo, que, com a ficha n.º 248, aguardava pelo atendimento cinco horas após chegar ao balcão.

“Cheguei aqui às seis da manhã e ainda não fui atendida [perto das 11:00], porque o atendimento está muito lento. Estou na fila, a fila é longa e vou apenas esperar, não vim antes por preguiça”, contou à Lusa.

Para Gelson António Domingos, chefe de repartição de Registos e Modernização Administrativa do distrito urbano do Sambizanga, o processo caminha a bom ritmo e a atual adesão dos munícipes aos BUAP era expectável.

“Visto que estamos já nos últimos dias, a adesão do pessoal é essa que já esperávamos, temos os nossos munícipes que gostam de deixar tudo à última da hora e aqui estamos com essa enchente, mas estamos aqui prontos para dar resposta”, assegurou.

Pelo menos 700 munícipes são atendidos diariamente no balcão do Sambizanga, números que mais do que triplicaram, uma vez que aquele BUAP tinha anteriormente o registo diário de 50 a 100 munícipes.

“Há condições logísticas, técnicas e humanas e estamos aqui para dar resposta. Não há morosidade, aqui apenas o pessoal entra e sai, mas devemos passar também a mensagem que aquele munícipe que não mudou de residência não tem necessidade de vir para o balcão”, concluiu Gelson António Domingos.

A atualização do registo eleitoral oficioso, processo que teve início em 23 de setembro de 2021 e decorre até 31 de março de 2022, segundo o cronograma das autoridades, é feita nos BUAP com a emissão de um cartão de munícipe, após apresentação do cartão de eleitor ou do Bilhete de Identidade (BUAP).

O processo, extensivo aos angolanos residentes no exterior de Angola, é gerido pelo Ministério da Administração do Território angolano.