«Sei que sou um homem procurado por Angola. Tentam muitas armadilhas contra mim, tentam aliciar-me, mas ninguém sabe onde vivo. Só sabem que estou nas matas», disse Estanislau Miguel Boma, uma das figuras mais carismáticas da resistência cabindesa, Chefe de Estado-maior General das FAC (Forças Armadas Cabindesas), braço armado da FLEC.

Contrariando as declarações de António Bento Bembe, e de «todos aqueles que afirmam que já não há guerra em Cabinda», Estanislau Boma afirma que os «negacionistas» calculam a «intensidade da guerra» com base na actividade da guerrilha e não têm «consideração por aqueles que estão a morrer» porque acham «insignificante a morte de três ou 10 pessoas».

«Nós estamos em guerra e a guerra vai continuar a ceifar vidas humanas» alerta o CEMG que critica a comunidade internacional «que põe em risco vidas humanas» quando defende a «informação do inimigo» sobre a pacificação do território.

Situações como a «morte do brasileiro e do português que foi ferido» ainda podem voltar a acontecer, avisa o chefe militar, «porque uma guerra não faz escolhas das vítimas e atinge todos aqueles que sustentam e fortalecem o inimigo». Para Estanislau Boma a resistência tem dois alvos em Cabinda, aqueles «tem arma na mão» e os «alvos económicos». O mesmo militar lamenta que a única preocupação das empresas estrangeiras que chegam a Cabinda é a assinatura de contratos e «já nem temem a morte».

Estanislau Miguel Boma minimiza, qualificando como uma «história antiga de diversão angolana», as «incessantes» declarações de António Bento Bembe, ministro sem pasta do Governo de Angola, ex líder da extinta FLEC Renovada, quando afirma que «já não há guerra em Cabinda».

Para o CEMG da FLEC, Bento Bembe e Maurício Zulu, actual vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Angola (FAA) para a área Social, ex quadro da FLEC Renovada, nunca conheceram as bases da FLEC/FAC em Cabinda nem os seus efectivos.

Após a fusão dos dois movimentos armados da resistência cabindesa, FLEC/FAC e FLEC Renovada, em 2004 na Holanda, os efectivos militares deveriam também transformar-se num corpo único. «Misturamos tudo o que tínhamos para entrar na dança», conta Estanislau Boma, mas a FLEC Renovada «não apresentou sequer uma munição, nem um combatente, daí que nunca trabalhamos com material da FLEC Renovada ou com um soldado deles».

Com os acordos da Holanda, Maurício Zulu foi nomeado com Chefe de Estado-maior da FLEC unificada, e o primeiro passo a dar seria conhecer o conjunto das tropas, «mas Zulu não visitou nenhuma base da FLEC/FAC e nós nunca visitamos nenhuma base da FLEC Renovada porque eles não dispunham de bases e estavam apenas baseados no campo de refugiados de Kimbianga (RD Congo)» afirma Estanislau Boma.

As relações entre os dois movimentos «complicaram» quando, numa reunião no exterior de Cabinda, «exigimos conhecer as bases em Cabinda da FLEC Renovada, eles não tinham nenhumas» conta o chefe militar da resistência. «Bento e Zulu não conhecem os segredos da FLEC/FAC nem conviveram com os nossos combatentes» sublinha.

Todavia, a situação militar de Cabinda não é nova, explica Estanislau Boma, desde 2002 o «inimigo» empenhou-se numa grande ofensiva que desalojou a resistência das suas posições habituais. «Perdemos algumas posições mas a guerra não, e continuamos a enfrentar esta ofensiva até hoje» explica o chefe militar, «perante a táctica do inimigo adaptamos a nossa estratégia militar. Em vez de estarmos posicionados num único lugar optamos por posições tácticas».

Estanislau Boma afirma também que desde as eleições em Angola, 05 de Setembro, as FAA reforçaram o seu dispositivo militar, e garante que «60 por cento dos efectivos militares angolanos estão em Cabinda», permanecem discretos na capital mas no norte, a partir do Dinje, no interior das matas, «os efectivos das FAA dentro são imensos».

Segundo o CEMG a FLEC continua receptiva a negociações mas condena as tentativas isoladas de aliciamento que tem sido alvo, assim como outros comandantes da guerrilha. «O MPLA pretende sempre estabelecer acordos usando armadilhas. Eles querem resolver o problema tentando comprar, um a um, os comandantes da FLEC», acusa.

O chefe militar da resistência conta que recentemente Zenga Mambo, da segurança angolana, próximo do grupo do Maurício Zulu, usando as relações familiares que tem com o comandante da FLEC da região do Miconje, Sabata, tentou, sem sucesso, aliciar este militar a integrar as FAA com a patente de general. «Sabata é um homem preparado e não cai nessas armadilhas» afirma Estanislau Boma.

Para o CEMG da FLEC os resultados das eleições em Angola «não têm qualquer validade em Cabinda» e apenas vão piorar a situação, dado que o MPLA ressurge como partido único e prosseguirá com a estratégia de enviar «os homens da UNITA para morrerem nas matas de Cabinda, como forma de calar completamente a UNITA».

Por fim Estanislau Miguel Boma lembra que a FLEC nunca teve apoios exteriores. «O nosso segredo está nas matas, só se Deus decidir fazer desaparecer a mata é que a FLEC pára».

*Rui Neumann
Fonte: PNN