Luanda - A informação foi avançada em entrevista exclusiva ao portal Club-K pelo soberano e porta-voz do “Reinado Thumba Kalunga – Lunda Tchokwe”, Mário Katapi, que, segundo aquela autoridade tradicional, o objectivo do conselho criado a 27 de Setembro de 2021, após a entronização e reconfirmação do Rei “Thumba Kalunga” e sua Rainha Eunice Albertina Dumba Tembo, visa congregar ao Reinado todos os extratos sociais do país e unificar todos os Reis da etnia Ngola Kiluanji.

*Óscar Ganga & Daniel Samosse
Fonte: Club-k.net

Durante a entrevista, o membro da Corte Real –Tchokwe, Mário Katapi fez saber igualmente que com base na acta nº 001/2021, saída da última reunião da Corte, sob testemunha de entidades governamentais, tradicionais, religiosas, políticas e distintos representantes da sociedade civil, delibera que foi instinto o nome de “Muatxissengue Wa Tembo”, como autoridade máxima dos povos Lunda-Tchokwe, visto que não possui o “Lucano” como símbolo do poder do Reinado da linhagem familiar, que somente o actual Rei o tem por legitimidade tradicional dos seus ancestrais.

Porém, convidamos a caro leitor a seguir a entrevista na íntegra.


Club-K: Como se pode classificar o Reinado de Thumba Kalunga como autoridade máxima dos povos Lunda-Tchokwe?

Mário Katapi: O actual Reinado Thumba Kalunga já existiu deste os primórdios (Antes de Cristo). Entretanto, aqui o termo não é bem entronização, mas sim a reconfirmação e o reconhecimento que aconteceu no dia 27 de Setembro de 2021. Augusto Baptista Salumbo (Rei Thumba Kalunga) é o único soberano que possui o Lukano, que é um símbolo do trono de poder que se dá a um Rei. Lukano não se usa na mão, mas é a pulseira do poder, que significa “Luenji Ya Nkonda” o “Lukano”. Luenji, é o poder do Rei, e não é pessoa física como tal. Nós temos este “Luenji Ya Nkonda” conosco bem guardado assim como os nosso antepassados deixaram. Somos os únicos que o temos, mais ninguém pode pegar. Entretanto, o rei Muatxissegue Wa Tembo não tem este poder.


CK: Como está dividido o reinado do ponto de vista da sua linhagem e qual é a sua expansão no território angolano?

MK: Começamos por falar Antes de Cristo. A linhagem de todos reis vem de Kanhika que é o Phango, actualmente conhecido como Ngola Kiluaji Kia Samba. Este dividiu as terras aos seus irmãos e sobrinhos. Kanhika (Ngola Nkiluanji), teve como irmãos o Mbumba, Ndumba, Muamdumba, Moxico, este que é o Tchikua, depois veio Huatembo, que é a rainha. A nível da África naquela altura, Antes de Cristo, a única rainha que nós tínhamos era a Nthembo. Esta é a verdadeira linhagem do Reinado.


Quanto a sua expansão, para responder a sua pergunta, caro jornalista. Houve uma divisão entre os irmãos por consequência da morte da irmã Rainha Thembo pelo próprio filho (.....), que para eles era sobrinho. Chateados com a atitude do sobrinho, houve uma divisão. Nesta divisão, os quarto irmãos o Kanhika, que hoje é conhecido como Ngola Kiluanji, o Mbumba, o actual Rei, Thumba Kalunga, o Tchikua e Ndumba, eles que tinham mandado buscar a irmã Thembo, esta que foi degolada por se atrasar a responder a chamada dos irmãos, partem para o centro de destacamento no Zimbábue.


CK: Como vieram parar ao território de Angola, particularmente nas Lundas?

MK: No Zimbábue encontraram Malanga e deixam-no ficar a ocupar aquela região e eles continuaram o percurso até aqui na região do Luma Cassai, município do Dala, província da Lunda Sul. Ali, o nosso irmão Ngola Kiluanji, que se chamava Kanhika, achou melhor continuar até Luanda, actual capital de Angola, e fixou residência no actual Museu das Forças Armadas. Aquele museu é do nosso irmão Ngola Kiluajni/Kanhika. Então nesta altura, o Ngola dividiu as parcelas de terra aos seus sobrinhos.


CK: Actualmente que terras são estas no território Angolano?

O Ngunza Kapalo, com o seu território, Matamba e sua irmã Mujinga Mumbandi (conhecida como Nzinga Mbandi) com o território de Malanji, o Vunongue ficou no Cuando Cubango, o Ngombe casado com sua prima Yambi no território do Sul de Angola, Bié, Muana Uta Kabamba, na região Norte, Uíge. Entretanto, todos estes se conhecem como a mesma família de Thumba Kalunga, actual Rei das Lundas, porque quem dá poder de Reinado a todos estes é o nosso irmão e tio Ngola Kiluanji/Kanhika. História que actualmente a sociedade angolana desconhece. Nós em Angola somos a mesma família. Mas ninguém sabia a essência de onde terão partido essa gente toda.


CK: Com esta incursão histórica que faz, Antes de Cristo, qual é o actual objectivo da criação do conselho do Reinado Lunda Tchokwe?

MK: Esta é a razão que faz com que o actual Rei Thumba Kalunga congregue este conselho. Os irmãos, sobrinho que são os reais autóctones. Queremos congregar e chamar todos soberanos de todos territórios para junto do Reinado Lunda, sob coordenação do Rei Thumba Kalunga, falarmos a mesma língua para que não haja essa divisão, nem exclusão social de cada povo. Há quem diga que quando alguém sai de Luanda ou de outra província para as Lundas, e vice-versa, é mucakuisa, este termo pejorativo que significa proveniente de uma outra localidade. Queremos acabar com este sentimento de exclusão e tribalismo entre os povos angolanos e africanos, no seu todo. Afinal, Angola, particularmente, e África tem uma única essência, origem dos nossos ancestrais que o colonizador há milhares de anos procurou dividir e separar os povos com objectivo de melhor reinar com as suas políticas.


CK: Nesta altura qual é a principal preocupação do Reinado e quem deve fazer parte como membro do conselho?

MK: A maior preocupação é a integridade da nossa soberania, ver o povo das Lundas, segundo a vontade dos nossos antepassados, porque a preocupação do Rei é o enquadramento de todos extratos sociais, sem que haja qualquer exclusão social.


CK: Já existe soberanos reis próximo aos princípios de Thumba Kalunga?

MK: Muitos. Mas, uma vez que nós reconhecemos o Reinado de Thumba Kalunga como sendo muito extenso, podemos contar com Matamba que está em Malanje, a Munjinga que é a própria Rainha Nzinga Mbandi, também Lunda, e Matamba é sobrinha do actual Rei Thumba Kalunga. Então, o que o Reino quer neste preciso momento é o enquadramento, coesão interna, vivermos com espirito de irmandade e dignidade porque afinal somos todos angolanos.

 

CK: Cita África no seu discurso de unificação dos povos angolanos ainda divididos em etnias, tribos, linhagem e clãs. Qual é a ramificação do Reinado Lunda Tchokwe por África a dentro?

MK: Teremos que viver na mesma harmonia, porque embora cada um falar um dialeto diferente do outro, somo uma família única com as mesmas origens. Razão pela qual o reconhecimento do Reinado de Thumba Kalunga reúne consenso a nível de todas autoridades tradicionais em Angola e não só, assim como autoridades de distintos extratos sociais, religiosos, políticos e demais. Falando sobre África, devo aqui afirmar que já estamos a manter contactos com vários autoridades de países vizinhos com a mesma linhagem do Reinado Lunda Tchokwe. Temos muitos sobrinhos em vários países.

 

CK: Que países são esses cujos seus reinados têm linhagem na etnia Thumba Kalunga ou Ngola Kiluanji?

MK: Há sim em muitos países africanos e todos estão justamente alinhados na visão do Rei. Quando o Rei constituir um conselho com sede em Angola, todos estes reis poderão pertencer ao mesmo conselho. A missão do Reinado não é apenas para o povo Tchokwe, porque todos esses a essência partiu do Luma Cassai, município do Dala, província da Lunda Sul. O Ngungu Nhanga, que está no Moçambique, é o tio deste Rei Thumba Kalunga. O Zulu que está na África do Sul é também família deste Rei. O Kazembe que está na Tanzânia até Zâmbia é família biológico do actual Rei. O Tchombo que está no Gabão, também é família do actual Rei, assim como tantos outros. Nós queremos que o Reinado, tanto os que estão em Angola como noutros países, devemos nos reconhecer como irmãos da mesma família.

Aliás, antes da conferência de Berlim, entre 15 de Novembro de 1884 a 26 de Fevereiro de 1885, que dividiu a África para que muitos povos emigrassem para outros territórios, África era um única território, sem divisão ou limitações geográficas. É isso que nós queremos recuperar agora. Somos a mesma família, vamos “falar a mesma língua” para ajudar a África a crescer. Este é a missão do actual Rei.


CK: Quer com isso dizer que o reinado de Muatxissengue Wa Tembo já não tem poderes sobre o Reinado Lunda Tchokwe como autoridade máxima tradicional das terras ricas em Diamantes?

MK: Atenção: Quando se fala sobre Reinado Lunda Tchokwe não é apenas a Lunda Norte. Inclui a Lunda Sul, e outros territórios que acima mencionei. Entretanto, Alberto Ndumba/Muatxissengue fica ali como um povo qualquer porque ele não é da linhagem do reinado, não tem o Lukano como símbolo máximo de um Rei com poder tradicional entronizado. Repito, o actual Rei Thumba Kalunga é a única autoridade máxima do Reinado Lunda Tchokwe, e nós desafiamos todos que quiserem provar contrário. Ele é o Soberano. Muatxissengue tinha sido imposto. Eu falo como irmão do Rei e porta-voz do Reinado e ninguém reagiu contrário quer dos paridos políticos como do Governo, depois da entronização e reconhecimento do actual Rei. Houve uma tentativa de aldrabar e manipulação das coisas, porque na província da Lunda Sul onde está a casa do Rei eles aldrabaram ao Governo Central. Colocaram um impostor.


CK: O poder tradicional local está bem representado nas Lundas, falando de sobas?

MK: Temos muitos sobas em Angola que não representam os ideia legítimos da tradição local. O Ministério da Cultura controla 41 mil sobas em todo território nacional. Muitos destes sobas eram aqueles que foram comité de acção, ODP. Em 1991 estes passaram a identificação de sobas, que não têm aldeia, não têm a cultura. Um soba ou muanangana, nós por exemplo, lá no leste de Angola falamos de muene ou muanangana, e não soba. Mas um muanangana deve ter consigo três princípios fundamentais, povo, terra e a cultura”, mas nestes 41 mil que o Ministério da Cultura tem sob seu controlo, muitos só estão ali por dinheiro. Quando falamos de etnia, ali está o Rei Thumba Kalunga como dono destes grupos todos que eu citei.