O então pároco da Catedral da Diocese de Cabinda, Assunção Sevo Agostinho, foi impedido de abandonar o país por pesar contra si um alegado processo judicial cujo conteúdo e autor são até agora desconhecidos.


A devolução do passaporte foi feita pelas mesmas entidades que o interditaram se seguir viagem à Espanha sem que lhe fossem dadas informações adicionais sobre as motivações do processo contra a sua pessoa e respectivos autores.


O levantamento da interdição não foi anunciado pelas autoridades, mas sabe-se que as autoridades angolanas foram forçados a mudar de posição sobre o sacerdote na sequência dos anúncios recentes de uma alegada suspensão total das eucaristias na Diocese, prometido pelo clero de autóctones em solidariedade com o sacerdote.


Os acontecimentos vividos pelo sacerdote são, para o clero local, segundo o antigo vigário geral da diocese de Cabinda, Raul Tati, um alerta de como devem estar prontos sobre o precedente que se abriu em Cabinda, logo após a nomeação e consequente rejeição de Filomeno Vieira Dias como Bispo do enclave.


«Isto abre para nós um pressuposto de arbitrariedade do poder onde os deuses da terra têm veleidade de fazerem o que querem com as pessoas. Quando dizem que não podes sair, não sais. Eles é que têm a chave para abrir e fechar, de tal modo que estamos a mercê da arbitrariedade de um poder que se esconde sob as ordens superiores e que nunca têm um rosto e um nome.»


«Se são actos do estado é preciso que sejam assumidos por quem está no poder e é grave que não haja figura do estado que deve responder por tais actos», afirmou Raul Tati, que considera o impedimento e a apreensão do passaporte ao sacerdote como um alerta para todo o clero, pois em Cabinda tudo é possível e todos devem estar preparados para o pior.


O sacerdote encara ainda o problema com alguma apreensão na perspectiva de um estigma que se vai criando em relação aos cabindas.


«Padre Sevo é um padre cabinda e este caso não é isolado. Já tivemos o caso do padre Casimiro Congo aquém foi também apreendido o passaporte, não sabemos se já lho foi devolvido ou não. Temos o caso do engenheiro Agostinho Chicaia e do Dr. Marcos Mavungo que em 2006 foi impedido de viajar para Lisboa, onde tomaria parte de um encontro internacional. Isto para mim, indicia um estigma por força do problema de Cabinda que persiste».


Raul Tati afirmou não saber se essas medidas têm uma natureza de retaliação em relação em relação às vozes que se levantam sobre a autodeterminação do enclave ou se são aplicadas a todos aqueles que alegadamente têm culpa no cartório.


«O que dizemos é que há um estigma qualquer que pesa sobre os Cabindas», assegurou. Para ele o facto de ser cabinda é hoje um problema.


Entretanto, o bispo da Diocese, Dom Filomeno Vieira Dias e a Conferencia Episcopal de Angola e S.Tomé( CEAST), ainda não fizeram nenhum pronunciamento sobre a interdição havida contra o sacerdote.


Fonte: VOA