Luanda — Crimes passionais sobem de tom em Angola e é na capital do país onde se concentra o maior número das ocorrências.

Fonte: VOA

Dados obtidos pela VOA em Luanda a partir de casos relatados na imprensa indicam mais de 10 só nos últimos três meses.

As autoridades reconhecem o aumento de actos criminais com motivação amorosa e por isso apelam o diálogo entre os casais.


Especialistas olham para o problema com preocupação, apontando entre as várias causas o desequilíbrio sócio emocional e factores sociais como o desemprego, o consequente consumo excessivo de bebidas alcoólicas e de estupefacientes.

A infidelidade conjugal é outra causa na base deste fenómeno e especialistas apelam a uma atenção redobrada seja das autoridades, seja da sociedade civil e dos parceiros do Estado.

A psicóloga Joana Ramos lamenta o facto do problema afectar maioritariamente as mulheres e, por isso, entende que deve haver estratégias sociais baseadas em estudos para garantir aos cidadãos condições para terem equilíbrio emocional e social.

“O equilíbrio é um ponto crucial para mediação dos impulsos”, afirma.

O psicólogo clínico Etelvino Dias dos Santos, fazendo um enquadramento científico do problema, revela que as acções indecorosas cometidas por cidadãos motivados por questões amorosas têm como base transtornos psicóticos.


No entanto, entende, por outro lado, que podem tais comportamentos antissociais ser influenciados pela sociedade.

“Do mesmo que o comportamento de uma sociedade influencia um homem, o comportamento e um homem pode influenciar uma sociedade”, explica aquele especialista para quem, por outro lado, o aumento de crimes mortais com motivações amorosas reflecte a desvalorização da vida humana em Angola.

“Há necessidade de se fazer um estudo profundo na nossa sociedade para se dar resposta a este fenómeno que vai crescendo de modo proporcional. É notório que há uma anormalidade no comportamento das pessoas”, sublinha Santos.

A situação em Angola começa a ser alarmante, na óptica do também psicólogo Simão Kaianga, quem enumera factores impulsionadores como a incompatibilidade económica e financeira, os desequilíbrios sociais emocionais e afectivos para além das crenças religiosas e o consumo de drogas.

O problema tem sido amplamente relatado pela imprensa daí que aquele especialista entende que para mudança do quadro é importante que nenhum agressor escape da penalização prevista no ordenamento jurídico angolano de acordo com tipo de crime cometido.

Os parceiros sociais do Governo, como as organizações da sociedade civil e principalmente as igrejas, podem exercer um papel activo para reduzir significativamente a incidência destes casos, diz Santos, alertando que “não bastam”.

O Estado, por meio das escolas e com um programa de formação do cidadão para vida e para os problemas que dela resultam, deve estar atento a estes fenómenos.