Lisboa - A antiga Primeira Dama, Ana Paula dos Santos e as filhas de José Eduardo dos Santos encontram-se num “braço de ferro”, na cidade de Barcelona, desta vez, por conta de uma crise de confiança envolvendo o médico da Casa Militar da PR, João Abrão da Conceição Afonso, que há mais de 16 anos assiste o antigo Chefe de Estado.

Fonte: Club-k.net

Divergência pela permanência do médico angolano

Assim  que chegou a Barcelona, no dia 28 de Abril, Ana Paula dos Santos, passou a auxiliar nos cuidados do esposo, como ajudá-lo no momento das refeições e na movimentação entre os aposentos até à sala, onde o ex-estadista passa o dia sentado. Com dificuldades na fala, e não podendo comer sozinho ou escrever, JES tem ficado no seu retiro no maior silêncio possível, uma vez que foi recomendado a não ser perturbado por causa da depressão.

No dia 30 de Maio, já na presença da esposa, o antigo Chefe de Estado foi visto pelo seu médico espanhol Jorge Ruis Garriga. O antigo estadista tinha consultas marcadas para o dia 4 de Maio, outra para o dia 12, o que não aconteceu gerando preocupações por parte das filhas mais velhas, que procuraram por esclarecimentos.


Num áudio que corre nas redes sociais, a filha Tchizé dos Santos acusou o médico angolano João Afonso de ter recebido “orientações superiores” para dispensar o especialista espanhol, ficando a ideia da existência de um “plano macabro” contra o seu pai.

Na passada quinta-feira, 13, a primogénita Isabel dos Santos entrou em campo levando pessoalmente o médico espanhol à casa para ver o pai, tendo exigido exames de avaliação ao antigo Presidente.
O profissional angolano terá se sentido ferido pelas acusações/insinuações das filhas de JES, tendo inclusive ameaçado colocar à disposição o seu cargo de médico pessoal do ex-PR, quando confrontado sobre a autenticidade das orientações dadas para que o médico espanhol interrompesse as consultas ao antigo Chefe de Estado angolano.

Na sequência de acusações sobre alegadas negligências, registou-se um clima tenso na residência em Barcelona. Por um lado, as filhas que manifestam reservas em relação ao médico angolano João Afonso, e, por do outro, a esposa que conta com o apoio do Estado angolano na defesa da permanência do médico da Casa Militar, que a mesma conhece há 16 anos.


Em privado, Ana Paula justifica que apenas foi a Barcelona a pedido da filha Joseana dos Santos, que aí se encontra há mais tempo, a pretexto de querer passar o aniversário ao lado do pai.


Para pôr termo à implicância sobre a alegada falta de confiança do médico angolano, uma das partes desavindas recorreu à mediação de Luanda, que, por sua vez, encontrou uma solução imediata. Foi feita uma carta em nome de José Eduardo dos Santos, manifestando confiança no médico angolano, dando-lhe poderes de ser o único para falar do seu estado de saúde.


A primeira versão foi abortada porque, por descuido, foi colocada a data de “Luanda” ao invés de “Barcelona”. Depois de rectificada, a mesma foi liberada e partilhada (nas redes sociais) por um sobrinho de JES, Edson dos Santos de Sousa, de forma a conferir autenticidade. Os órgãos de comunicação do Estado foram igualmente instruídos a dar destaque ao documento nos seus noticiários para maior “legitimidade”.


Nesta quarta-feira, 18, Danilo dos Santos e a irmã Joseane dos Santos, os filhos de JES do casamento com Ana Paula, aderiram também à “guerra das cartas”, fazendo divulgação da mesma.

“Eu não entendo esse regime do MPLA. Então a carta que José Eduardo dos Santos assinou, de punho e letra — a mesma assinatura que todos os angolanos estavam acostumados a ver em todos os despachos de José Eduardo dos Santos, que fez desde [19]79 até 2017, enquanto foi Presidente da República —, foi invalidada pelo tribunal… não serviu como testemunho, porque diziam que não podiam garantir que o José Eduardo dos Santos é que a assinou. E esta carta com esta assinatura que não é igual… está a ser noticiada na Rádio Nacional?”, questiona a filha de Eduardo dos Santos, num áudio amplamente partilhado nos grupos da rede social WahtsApp, esta terça-feira.

Num outro grupo do WhatsApp, Tchizé dos Santos criticou abertamente o primo pela partilha da carta forjada feita em nome de Eduardo dos Santos. O citado primo é filho de Marta dos Santos, recentemente perdoada pelo governo de João Lourenço, depois de ter ficado algum tempo no exterior por temer as novas autoridades.


De acordo com conhecimento, o médico espanhol foi igualmente orientado a produzir uma outra carta com o mesmo tema semelhante a que foi atribuída a JES, em que manifesta igualmente confiança no colega angolano João Afonso, responsável pelo seu contrato de trabalho como médico de Dos Santos em Barcelona.

Na carta atribuída ao médico espanhol, o mesmo declara que o estado de saúde de JES se agravou depois de ter apanhado Covid-19, no início de 2021, no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e que resultou, na altura, no seu internamento, considerando que de momento “sua excelência está evoluindo lenta e progressivamente de forma satisfatória”.


Segundo leituras pertinentes, a suposta carta do cardiologista espanhol procura indirectamente responsabilizar o estado de saúde de JES às pessoas que com ele estiveram no Dubai.

Fontes do Club-K atestam que, em meios à família de JES, concretamente no seio dos filhos da irmã Marta dos Santos, se alega que o antigo estadista foi ao Dubai por “culpa” de Isabel dos Santos e, com isso, apanhou Covid-19. Uma outra versão sugere que, enquanto JES esteve no Dubai, a filha Joseane dos Santos teria contrariado Covid-19, e ao não se isolar devidamente o teria contaminado.

Também há versões segundo as quais JES chegou a contrair Covid-19 há quase um ano, e que, depois de recuperado, esteve em Luanda, onde assistiu ao pedido de noivado de um filho, Joess, e foi a dois óbitos na capital do país, e que a versão do médico espanhol teria origem em “orientações superiores” para arranjar culpados.

João Abraão da Conceição Afonso, o médico que estará a provocar as contradições entre as senhoras à volta de JES, é um especialista ligado à Clínica Multiperfil, onde chegou a ser administrador não executivo. A nível do regime, é conhecido como filho de um antigo funcionário da segurança de Estado. Foi por influência do pai que conseguiu uma bolsa de estudos da Segurança que o habilitou a formar-se numa escola de medicina na Bielorrússia.


Terminado os estudos e com a reestruturação da Segurança do Estado, foi enquadrado como médico das Forças Armadas Angolanas. É especialista em reanimação nas emergências hospitalares, e terá sido um dos médicos que ajudou JES a recuperar de uma intervenção cirúrgica no Brasil, em 2006, que resultou em complicações da anestesia. Desde então passou a efectivo como médico pessoal do PR.

 

Em 2014, JES assinou a ordem 8/14, promovendo-o ao grau superior de brigadeiro. Em Espanha, onde se encontra desde que JES aí se mudou, o mesmo o tem acompanhado em tempo inteiro, devendo obediência à Casa Militar da PR.


Apesar de João Afonso estar sempre ao lado de JES, o acompanhamento por parte do médico espanhol é indispensável, uma vez que o médico angolano não dispõe de licença para exercer medicina em Espanha, pelo que o seu trabalho se torna limitado ou reduzido a tarefas de fiscalizar a tensão arterial e outras situações menos graves.