Luanda - O ex-PM Marcolino Moco afirma que, "se houver transparência eleitoral", haverá alternância de poder em Angola. O político acusa o MPLA de não cumprir as promessas eleitorais e defende um pacto de estabilidade.

Fonte: DW

O antigo primeiro-ministro angolano Marcolino Moco diz em entrevista à DW África que será um "milagre" se o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) ganhar as eleições gerais de 24 de agosto.


No entender do antigo secretário-geral do MPLA, "se houver transparência eleitoral", a oposição angolana ganhará o pleito. Mas, segundo Moco, o que poderá acontecer é uma "vitória fabricada" pelo partido no poder.


O ex-governante, que não exerce cargos políticos há duas décadas, diz que é "visível" a força da oposição, porque o MPLA não cumpriu várias promessas eleitorais feitas nas eleições de 2017. Refere, no entanto, que o atual Presidente do país, João Lourenço, "gosta de ser aplaudido por incompetentes e inexperientes".
Para evitar problemas maiores em Angola depois do escrutínio de agosto, Moco defende a realização de pacto de estabilidade entre os principais atores políticos.

DW África: O programa eleitoral do MPLA apresenta algo de novo?

Marcolino Moco (MC): Não acredito muito [que o MPLA ganhe]. Em 2017, com a eleição do novo Presidente da República, João Lourenço, foram feitas muitas promessas, entre as quais que haveria mais respeito à separação dos três poderes, o que não aconteceu. Pelo contrário, a situação deteriorou-se. Tivemos uma interferência direta nos tribunais.


O MPLA também tinha prometido maior liberdade de imprensa e aconteceu exatamente o contrário. A imprensa hoje é uma pouca-vergonha. Os meios públicos são utilizados perfeitamente como meios do partido que está no poder. Foi prometido um combate cerrado à corrupção – contra as pessoas que realmente tiveram comportamentos corruptos – mas o combate limitou-se à perseguição de algumas pessoas que estavam mais ligadas ao antigo Presidente [José Eduardo dos Santos]. Por isso, é muito difícil acreditar que é agora que as coisas vão mudar.


DW África: Pensando nesse cenário hipotético, que obstáculos poderá enfrentar a oposição caso vença as eleições?

MC: Imaginar que o MPLA vai ganhar [as eleições gerais] é qualquer coisa de miraculoso. Mas pode acontecer uma vitória fabricada e que depois venha a ser aceite por questões pragmáticas. Então, a hipótese da oposição ganhar é muito [maior] se houver transparência.


Mas tanto num caso como no outro, o que estamos a propor – nós, os mais-velhos – é que deveria haver um pacto pré e pós-eleitoral para tranquilizar as partes de que, ganhe quem ganhar, não haverá problemas de maior. Haverá cooperação na passagem de pastas e, sobretudo, a garantia daqueles que estiveram no poder durante muitos anos de que os seus negócios, desde que sejam a favor do país, não serão beliscados.


DW África: Aceitaria fazer parte de um novo Governo formado por partidos que estão atualmente na oposição?
MC: Não, em princípio não. Eu prefiro jogar esse papel de mais-velho e de conselheiro da Nação. Prefiro continuar como nos últimos 20 anos e manter-me fora de cargos políticos. Mas com uma intervenção cívica ou política muito forte, que, de resto, me tem criado problemas – a mim e à minha família, porque estamos perante um regime que é vingativo e que pratica represálias de todo o tipo. No entanto, estou preparado para continuar a jogar esse programa até ao fim da minha vida.


DW África: E sobre o MPLA, o que acha da indicação do nome de uma mulher para a vice-Presidência?
MC: O problema não é a indicação de uma mulher. O problema é que há muitas mulheres dentro do MPLA muito mais conhecidas, com mais experiência. Se o MPLA se agarra à ideia de que é preciso promover as mulheres, então deve promover mulheres competentes.


Neste caso, essa senhora [Esperança Maria Eduardo Francisco da Costa] até pode ser tecnicamente competente, mas é preciso competência política que ela, naturalmente, não deve ter, porque não é conhecida. Faz suspeitar que é a continuação de uma opção do Presidente João Lourenço de trabalhar com pessoas menos experientes, que provavelmente [batem] palmas mais facilmente, aplaudindo tudo o que o chefe disse, igual ao que muitos líderes africanos gostam.