Lisboa - Vovô chegou, a fome acabou. Até rima. Foi exactamente assim que João Lourenço, na qualidade de Presidente e Candidato do MPLA, começou por se dirigir à população e aos Militantes do maioritário este sábado, 4 de Junho em Mbanza Kongo, capital da província do Zaíre.

Fonte: Club-k.net

A semelhança do que vem acontecendo nos últimos dias, a presença de JLO na cidade Património da Humanidade, surge na sequência do lançamento da pré-campanha do MPLA.


Durante a sua alocução em Mbanza Kongo, o Presidente do MPLA, anunciou uma série de projectos estruturantes para à província do Zaíre, com maior destaque para os municípios sede de Mbanza Kongo e Soyo.


Ao anunciar o “fim da fome” no Zaíre, João Lourenço foi efusivamente ovacionado pela população e militantes do MPLA presentes no referido Acto de massas.


Realmente a população do Zaíre está(va) com muita fome. Fome de emprego para a juventude, fome de habitação, fome de boas escolas, fome projectos de infraestruras que realmente dignifiquem a província na dimensão daquilo que é a sua contribuição no PIB do País.


Estamos todos conscientes que não é possível fazer tudo ao mesmo tempo porque o País é enorme e certamente que é necessário manter o equilíbrio em termos das políticas locais, mas é preciso fazer referência que depois dos eufóricos aplausos que JLO “arrecadou” do seio da população a quando do anúncio da construção das duas centralidades em Mbanza Kongo e no Soyo. Constata-se que ainda há “fome” em alguns municípios da província do Zaíre.


Em alguns municípios da província do Zaíre existe a ideia de que, quando se tratam de projectos estruturantes a nivel da província do Zaíre a tendência é sempre os dois municipios: Soyo e Mbanza Kongo.


Nos últimos anos Mbanza kongo foi contemplado com um novo aeroporto, um novo hospital central, vias terciárias, um centro logístico para o armazenamento de combustível no Luvo, de acordo com o recente anúncio do Presidente do MPLA, ganha mais uma centralidade. Soyo, foi igualmente contemplado com a construção de uma nova refinaria, um terminal marítimo de passageiros, um centro logístico para o armazenamento de combustível etc. A semelhança de Mbanza Kongo, Soyo, volta também a ser contemplado com a construção de uma Centralidade.


Faço esta referência para dizer que, apesar do Vovô ter chegado ao Zaíre, ainda há “fome” no Nzeto. O Nzeto também precisa de projectos que possam absorver a mão de obra local principlamente a juventude que diariamente enfrenta várias dificuldade de emprego para a resolução dos seus problemas.


É verdade que Mbanza Kongo para além de capital da província do Zaíre, ostenta o estatuto de património da humanidade e merece realmente uma atenção especial, até porque é a capital provincial que regista maior atraso em termos de desenvolvimento, comparando com as demais capitais do nosso País.


Mas também, é igualmente verdade que o Soyo tem merecido maior atenção por dispôr de infraestruturas de apoio a actividade petrolifera. Mas o que se ouve no seio da população do Nzeto é que esta atenção dedicada ao Soyo reside do facto de “eles” terem petróleo e o Nzeto não.


Se realmente a existência do Ouro Negro faz toda a diferença para a definição de critérios para as prioridades entre o Soyo e o Nzeto, é preciso elucidar as populações do Nzeto que também há petroléo no Nzeto sim. A título de exemplos, temos o bloco 17 (girassol) que está situado entre o Ambriz e o Nzeto, o bloco 16 (explorado pela Sonangol) que se situa nas águas profundas do Nzeto, o bloco 3 (também explorado pela sonangol) está situado no Nzeto e o bloco 15 (que está localizado entre o Nzeto e o Tomboco (Kinzau).


Portanto, a ideia de que apenas o Soyo tem petróleo a nível da província do Zaíre, não corresponde verdade.


Sem qualquer intenção de assumir posturas regionalistas (até porque desde cedo aprendi na OPA que Angola é de Cabinda ao Cunene e do Mar ao Leste), é preciso dizer que o Nzeto também carece de projectos estruturantes. O Nzeto regista um atraso considerável em termos de desenvolvimento.
Hoje no Nzeto há energia 24/24 horas, há uma boa estrada do Nzeto a capital do País, há um hospital de campanha. Recentemente o Presidente João Lourenço anunciou a conclusão das obras de ligação entre a ponte sobre o rio Mbrindge e a zona dos Mangais. No seio da população do Nzeto e conforme pronunciamento de um dos munícipes que passo a citar – “só temos boa energia e boa estrada porque estamos a apanhar a boleia do Soyo, porque para a luz do ciclo combinado chegar a Luanda tem que passar pelo Nzeto”. Ainda de acordo com o habitante do Nzeto, “a preocupação em relação a zona dos mangais é porque precisam chegar até o Soyo porque o Nzeto nunca é tido nem achado para os grandes projectos”.


O Nzeto, para além do petróleo, peixe e fosfato apresenta também um grande potencial agricola. A comuna do Kindege (ex – Bessa Monteiro) na era colonial foi considerada uma das maiores regiões agricolas do País. A reabilitação da estrada Nzeto – Kindege deve ser encarada como prioritária.
Uma vez reabilitada a estrada que liga o Nzeto ao Kindege, é possível pensar na construção de uma indústria transformadora no Nzeto para absorver os produtos provenientes do Tomboco, Kindege e até mesmo de Mbanza Kongo, tirando assim melhor proveito da proximidade do Nzeto e com a capital do País.


Em Mbanza Kongo o Presidente da República nas vestes de Presidente e candidato do MPLA às eleições de Agosto, anunciou igualmente a construção de uma fábrica de fertilizantes mas tudo indica que é mais um projecto que está direccionado para o Soyo.


Nos anos 80 no Nzeto, tive o “previlégio” de ter tido como vizinhos, búlgaros da ex – Fosfang que trabalhavam na prospecção e exploração do fosfato sob coordenação do falecido Engº Canga. Então, se o fosfato está no Nzeto faz todo sentido que o projecto anunciado pelo mais alto mandatário da nação seja implementado no Nzeto.


O Presidente da República em Mbanza Kongo deixou igualmente em aberto a questão do local para a construção do futuro Instituto Superior Politécnico do Zaíre. No meu ponto de vista faz todo sentido que esta infraestrutura seja erguida no município do Nzeto por duas razões: a primeira é que o Nzeto não dispõe de nenhuma instituição de ensino superior (facto que tem contribuído para a migração dos jovens do Nzeto para outros pontos do País em busca de formação superior). A outra razão é sem dúvidas proximidade com a capital do País.


A juventude do Nzeto não dispõe de actividades de lazer e como consequências disso, a probalidade de “desvio” para as chamadas más condutas é grande. Acrescenta-se a isso o grande número de gravidez précoce por isso, aproveito esta ocasião para deixar como sugestão a criação de um projecto para a construção de estruturas desportivas a nível do município e da província para ajudar na massificação do desporto. De recordar que o Nzeto já foi um grande celeiro desportivo do País.


A semelhança do que será feito no Huambo com a construção de um estádio provincial, este projecto pode ser replicado também para o Zaíre. Relativamente a sua localização, a minha sugestão recai para Mbanza Kongo ou Nzeto por duas razões: a proximidade de Mbanza Kongo com a fronteira com a RDC (aproveitando as equipas da RDC que, até está bem a nível do Basquetebol e Andebol em África) ou Nzeto, pela proximidade com Luanda e as lindas praias que dispõe.


A população do Nzeto pede maior atenção das estruturas centrais do País uma vez que a nível local e provincial têm sido feito um certo esforço tanto pelo Governador, Pedro Makita Júlia quer por parte do Administrador do Nzeto, Augusto Tiago, que é um jovem com muito dinamismo e muita vontade de trabalhar em prol da província e do Zaíre.


Enquanto filho do Zaíre e do Nzeto em particular, sempre preocupado com o futuro da província, tive a oportunidade de privar com os três últimos governadores do Zaíre e a minha opinião foi sempre a mesma para os três: querem desenvolver o Zaíre, comecem pelo Nzeto porque é o Nzeto que está mais próximo da capital e isso pode servir de chamariz para atrair investidores e turistas. Não será facil desenvolver o Zaíre sem começar pelo Nzeto. Infelizmente, até agora ninguém ainda me deu ouvidos. Espero que um dia o futuro diga que estou errado.


Deixar de olhar para Nzeto unicamente como um local de passagem “obrigatória” e o Zaíre como Mbanza Kongo e Soyo é uma empreitada, para qual todos somos chamados a reflectir.


Nzeto é simplesmente o município da província do Zaíre que é menos desenvolvido mesmo tendo petróleo. Portanto, Vovô, por favor chegue também ao Nzeto para acabar com a fome deste povo que também merece comer.

Bem haja....
*Mestre em Governação e Gestão Pública
Docente Universitário
Militante do MPLA