Luanda - No próximo dia 8 de Junho, faz vinte anos que foi para o ar a primeira edição do programa televisivo Jovemania, de que fui co-apresentador com Rossana Miranda e tendo como DJ Álvaro Fernandes, com os quais partilho uma amizade fraterna e solidária. A dupla de realizadores era composta pelos magníficos Isaac Kay e Euzélia Gonçalves. O grande padrinho do programa foi o então director de programas da TPA, Casimiro Alfredo, que infelizmente já não se encontra no nosso convívio.

Fonte: JA

O jovemania nasceu de uma conversa inspiradora que tive, na altura, com o Gilberto Luther e o Picas Araújo, quando saíamos de uma formação que então frequentávamos para escrita de guiões para ficção, um projecto que a então direcção da TPA, especialmente o director-geral Carlos Cunha e o seu director de programas apoiavam com forte entusiasmo.

O director Casimiro Alfredo engendrou naquele ano uma alteração profunda na grelha de programas com a introdução de alguns projectos novos e a reformulação de outros, para além da forte aposta em ficção teledramatúrgica, procurando colocar a TPA num outro patamar. Contou na altura com o envolvimento de profissionais de grande gabarito vindos de Cuba e Brasil. De resto, enquanto participante deste projecto, orgulho-me do Jovemania, mas igualmente de ter participado com o Gilberto Luther e a guionista brasileira Margareth Boury na criação da história original, desenvolvimento das personagens e no guião de mais de cem capítulos da primeira telenovela angolana, Reviravolta. O título da novela é uma provocação que um dia desvendarei. Houve momentos de tensão, outros de alegria e acima de tudo a expectativa de um projecto que tinha tudo para ser… não foi, mas deixou muitos frutos seja entre actores, como até mesmo entre jornalistas, operadores e outros profissionais que nasceram ou se afirmaram ali.

Mas a intenção deste lembrete é exaltar o trabalho extraordinário que o Jovemania fez. Falo dos seis anos em que estive na co-apresentação do programa, isto é, até 2008, mas também dos anos subsequentes. Das viagens por cerca de 14 províncias com o objectivo de levarmos o sonho de uma Angola nova, de angolanos para angolanos e onde os jovens seriam e são determinantes. Era um tempo em que sonhávamos com um acima das expectativas e limitações técnicas de então. Imagine-se o quão rudimentar eram os nossos cenários, conclusão que tirei após visitar a Globo e a SIC… rubricas que não conseguimos implementar ou manter por culpa dos constrangimentos de então. Mas era um tempo em que acreditávamos piamente que poderíamos criar um programa que juntasse entretenimento e formação. Acredito que conseguimos alcançar esse objectivo. E é por isso que ainda hoje, cerca de 14 anos depois de deixar o Jovemania, sou regularmente interpelado na rua por alguns telespectadores, de todas as idades, revivendo cenas e cobrando um regresso aos écrans.

Portanto, eu acredito que a televisão e a comunicação social podem manter uma certa elevação cultural sem ser snob. Acredito também que não podemos aceitar e tolerar o nivelamento por baixo, com doses de sensacionalismo, para perseguir audiências, quando estas devem ser a consequência de um trabalho com excelência e que agregue valor às pessoas, não só agastadas mas com uma panóplia cada vez maior de opções que passam pelo acesso a mais canais bem como outras plataformas de streaming que retiram espaço à televisão globalmente falando.

Não posso deixar de me congratular com o salto tecnológico que a TPA acaba de nos proporcionar. Só peca por tardio.

Mais feliz fiquei com a linda homenagem do actual Conselho de Administração ao baptizar o Centro de produção de conteúdos com o nome de Ernesto Bartolomeu, que é a maior lenda da televisão em Angola e que ainda hoje está no activo.

Francisco Mendes, presidente do Conselho de Administração, reconheceu e muito bem a necessidade de se apostar na formação contínua dos quadros de modo que o avanço tecnológico se traduza numa melhoria dos conteúdos seja ao nível da informação como dos programas, para que a TPA seja mesmo a Televisão de todos nós. Fazer uma televisão melhor é a tarefa que recaí agora aos meus "compagnon de route”.