Lisboa - Estando tão perto das eleições presidenciais, que se realizam a 24 de agosto, seria recomendável que os vários intervenientes não radicalizassem os seus argumentos, dando azo as extremismos que podem descambar em violência física.

Fonte: Jorna IN

Tudo o que se está a passar com a morte de José Eduardo dos Santos é altamente preocupante para os angolanos e não só - entre Portugal e Angola existe muito mais do que relações comerciais, havendo milhares de famílias ‘mistas’ em ambos os países. Nas redes sociais e na comunicação social todos os dias a ‘guerra’ sobe de tom e já não envolve só alguns dos familiares do ex-Presidente e o atual Governo angolano. Estando tão perto das eleições presidenciais, que se realizam a 24 de agosto, seria recomendável que os vários intervenientes não radicalizassem os seus argumentos, dando azo as extremismos que podem descambar em violência física.

Dando de barato que a guerra não vai voltar a Angola, apesar da agressividade e das acusações de violações dos direitos políticos mais básicos, é provável que as denúncias de Tchizé dos Santos, envolvendo vários delfins do pai, não permitam que o país regresse tão cedo a um clima de paz. Um país fustigado por uma guerra civil de tantos anos, que ainda não conseguiu reerguer-se em campos tão fundamentais como a educação, saúde e habitação, é sempre um barril de pólvora pronto a explodir. Há cerca de 10 anos, quando por lá andei, estranhava que os jornalistas escrevessem artigos sobre hospitais fora de Luanda e não falassem de médicos, mas a resposta era pronta: “Não há!”. Quando se falava em água canalizada, respondiam-me: “Não há”. Quando se falava nas novas centralidades, autênticas cidades construídas de raiz, maioritariamente por chineses, ouvia-os discutirem, porque quem tinha o cartão do MPLA tinha preferência na nova habitação. Ouvia também falarem de zonas escolhidas para o realojamento que, na prática, funcionavam como casas comunitárias - quando estava previsto que cada família teria direito à sua.

Com esta guerra entre alguns filhos de José Eduardo dos Santos e o Presidente João Lourenço estou em crer que a UNITA terá a melhor oportunidade de sempre, desde que as eleições sejam devidamente fiscalizadas, de alcançar a presidência de Angola. Mas manter a paz não será fácil...