Luanda - Em Maio de 1937, a força aérea alemã bombardeou Guernica, a cidade espanhola que inspirou Pablo Picasso, a pintar a sua maior obra de arte, mas também o seu protesto – em forma de arte - ilustrando a carga de violência, sofrimento, e pânico. Neste dia 12 de Julho, completaram-se 87 anos, data em que Picasso exibiu a sua enorme tela em paris, quando um general alemão fascinado com a obra aproximou se para perguntar se ele havia sido o autor do quadro. Picasso respondeu “não, foram vocês”.

Fonte: Club-k.net

Picasso respondeu de forma irônica como se quiser dizer que foi a “Luftwaffe” de Hitler, a responsável pelo genocídio de Guernica, e que ele apenas transferiu para a sua tela com as cores preto e branco que simboliza o luto. Ilustrou o touro do lado esquerdo que representa a barbaridade da cena, e a lâmpada na parte superior que simboliza o sol radiante que fazia quando aconteceu o ataque.


Se um dia destes em Barcelona, o Juiz responsável pelo processo do corpo de JES, confrontar o PGR angolano, general Pita Gros, com “umas paginas de documentos” sobre a ausência de separação de poderes em Angola, provavelmente que o procurador irá também colocar a mesma questão que há 87 anos, o general alemão colocou a Picasso em Paris. A resposta do Juiz do espanhol, deverá ser a mesma a de Picasso. “foram vocês os responsáveis do conteúdo destas paginas”.


Estamos a falar do acórdão n.º 147/21, produzido a 12 de Julho de 2021, pelo Tribunal Constitucional Espanhol, justificando que a Procuradoria-Geral da República de Angola recebe instruções directas do Presidente da República. O acórdão de decisão de extradição do antigo assessor presidencial Carlos Panzo.


Com este acórdão n.º 147/21, produzido pela justiça espanhola, os advogados das filhas de JES, podem usar para refrescar ao Juiz espanhol que o general Pita Gros, recebe ordens do Presidente de Angola. Os advogados podem alegar que a presença de Pita Gros, não é em busca de justiça mas sim priorizar o interesse político do Presidente João Lourenço em ter o corpo do seu antecessor o mais breve possível em Angola, de preferencia, antes das eleições de 24 de Agosto, para não prejudicar a campanha eleitoral do MPLA.


É que na acção que tramita no Tribunal de Primeira Instância nº 59 de Barcelona, a defesa de Tchizé dos Santos, invoca interesses políticos por parte do Chefe de Estado angolano, para com o corpo do seu pai.


Já que o acórdão faz jurisprudência, é provável que os advogados possam usa-lo para rebater a qualidade do “voto” dos filhos de Ana Paula (Danilo, Joseane e Breno) que defendem a entrega do corpo do pai ao governo angolano. Podem alegar que na cultura angolana os filhos nunca se opõem a mãe, e que a posição dos meninos, é mais do interesse do regime do que deles próprios.


Se Luanda não pedisse, no ano passado a cabeça de Carlos Panzo, o Tribunal de Espanha, não produziria, o referido acórdão que denuncia ausência de separação de poderes em Angola. Como dirá, o Jair Rangel , “Outra maka +”.

José Gama