Luanda - Albert Camus dizia, intertextualizando Descarte: “revolto-me, logo existo”.
Fonte: Club-k.net
Luanda ontem foi palco de violentos protestos de centenas de motoqueiros que se dirigiram à zona do Palácio Presidencial da Cidade Alta para exigir, segundo alguns relatos disponíveis nas redes sociais, o pagamento de akz 10 000, 00 (dez mil kwanzas) para cada um deles pela participação dos mesmos no acto público que marcou o início da campanha eleitoral do MPLA.
Este acontecimento merece três observações.
A primeira diz respeito a natureza violenta das reivindicações e da reação musculada das autoridades.
Quando os ânimos estão exaltados as manifestações tornam-se violentas e por isso transformam-se em actos ilegais e condenáveis.
O que assistimos ontem roça ao vandalismo e supera a mera intolerância política para resvalar em desmandos — condutas inadmissíveis, Independentemente das razões e direitos que eventualmente assistam aos manifestantes.
Como sabemos, as manifestações devem ser programadas, pacíficas e ordeiras, sob pena de quem optar pela violência “perder a razão”, colocando -se assim à margem da lei.
Do lado das autoridades deixamos o apelo para estas tenham maior contenção no controlo este tipo de eventos.
Devem as autoridades usar apenas a força nos casos estritamente necessários para evitar danos materiais e humanos, em homenagem ao princípio da proporcionalidade.
A segunda observação vai para as organizações políticas — que não devem prometer aquilo que não podem dar.
Já é de todo deplorável o facto de um partido político pagar as pessoas que participam nas suas actividades, pior se torna quando os mesmos não cumprem com o pagamento dos valores acertado.
Na política não vale tudo e muito menos vale prometer na campanha eleitoral e falhar no decurso da mesma.
É dar “ tiro nos próprios pés” no início de uma maratona.
A actividade política é na sua essência voluntária e benevolente.
Os políticos são altruísticas por natureza e defensores das causas mais nobres ligadas ao interesse público.
Por isso, devem ter a capacidade de mobilizar os seus apoiantes de forma honesta sem contrapartida que não seja a realização do interesse colectivo.
Pagar pessoas para participar nas actividades políticas de massas é subverter a lógica política; é uma tentativa ineficaz de compra de votos; é a corrupção de pacotilha.
Devem os partidos políticos absterem -se de desenvolver este tipo de actividade e os cidadãos não devem deixarem - se seduzir por quem as pratica.
A terceira observação está ligada aos sinais dos tempos.
Da primavera árabe aos dias de hoje assistimos pelo mundo fora várias revoltas populares, sendo a mais recente a ocorrida no Sri Lanka — onde os manifestantes invadiram o palácio presidencial, forçando à fuga e demissão do Presidente da República.
Em Angola esta-se a formar a “tempestade perfeita” que pode propiciar a ocorrência de um evento semelhante.
A “revolta dos motoqueiros com dois mortos e vários feridos nas cercanias do poder é um sério aviso à navegação.
Por isso, vale apena lembrar J.F. Kennedy que disse e passo a citar: “
Aqueles que tornaram impossível uma revolução pacífica tornam inevitável uma revolução violenta”.