Luanda - Eleitores com deficiência auditiva sentem-se excluídos do processo eleitoral em Angola. Dizem desconhecer os programas de governação dos partidos concorrentes às eleições devido à falta de intérpretes de língua gestual.


Fonte: DW

A campanha eleitoral já vai na segunda semana e os partidos concorrentes percorrem o país à caça dos votos dos eleitores angolanos. Mas a mensagem não chega ao grupo de eleitores com deficiência auditiva.


Nos atos de massas e nos tempos de antena, espaço em que os partidos apresentam os programas de governação, faltam intérpretes de língua gestual.


Os partidos concorrentes, o Governo e a Comissão Nacional Eleitoral não estão a comunicar para esta franja da sociedade, denuncia o secretário-geral da Associação Nacional de Surdos de Angola (ANSA), Osvaldo Zita.

"Quando não há um intérprete de linguagem gestual, é complicado", diz Zita. "Por exemplo, na província de Benguela, o maior partido da oposição, a UNITA, tinha um intérprete no seu comício, e os surdos que viram
por meio da televisão ficaram satisfeitos."


ANSA oferece-se para colaborar

O secretário-geral da ANSA diz que a falta de intérpretes de língua gestual representa uma injustiça para com os deficientes auditivos e manifestou a disponibilidade da associação para colaborar com os partidos políticos e com a Comissão Nacional Eleitoral, disponibilizando profissionais.


"A Comissão Nacional Eleitoral devia dialogar connosco. Eles passam a informação apenas para pessoas que ouvem, mas, para os surdos, é necessário que haja um intérprete."


Alves Fernandes, outro membro da ANSA, defende também a colocação de especialistas em língua gestual nas assembleias de voto no dia das eleições gerais.


"Porque muitos deficientes auditivos não sabem o que são as eleições. Nas eleições de 2017, na hora do voto, alguns marcaram o x em todos os candidatos", lembra Alves Fernandes.

Algumas exceções


Dos oito partidos políticos concorrentes às eleições de 24 de agosto, apenas a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) recorre a língua gestual durante os tempos de antena disponibilizados pela televisão pública de Angola.


O porta-voz João Nazaré disse em entrevista à DW que a coligação está comprometida com a inclusão social das minorias no país: "Não fazemos parte do grande grupo de concorrentes às eleições gerais que não têm prestado atenção a este elemento importante no quadro da inclusão", comenta.


Já a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que tem recorrido a intérpretes apenas nos atos de massa, começou a usar a comunicação gestual no seu tempo de antena nesta segunda-feira (01.08), dias depois de a DW ter pedido esclarecimentos ao partido sobre o assunto.


O secretário-geral da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), Aguiar Laurindo, reconhece que o partido "falhou" ao não incluir os eleitores com deficiência auditiva no seu plano de comunicação, mas promete reverter o quadro nas próximas edições.