Luanda - Nos últimos dias ressurgiu uma expressão no léxico político nacional que é muito cara aos angolanos — “transição política”.

Fonte: Club-k.net


Não sendo inaudita, a referida colocação traz consigo, desta vez, um significado participar— a iminência do fim de um longo ciclo de governação.


Mas nem todos estão de acordo com o seu significado, como é expectável em democracia. E ainda bem que assim é.


Para uma ala afecta ao partido que governa Angola desde 1975 nestas eleições não está em causa nenhuma transição política. Convictos da victória do seu partido no dia 24 de Agosto, os “conservadores do MPLA” afirmam que o poder “não se negoceia”.


Do outro lado, há vozes que, acreditando numa eventual victória da oposição, advogam uma “transição política” pacífica depois do anúncio dos resultados eleitorais.


Neste imbróglio linguístico há duas questões que precisam ser analisadas.


A primeira questão é geral e está ancorada nas regras básicas de democracia — o modo como o poder é conquistado. E em Angola, como em qualquer estado que possui um regime constitucional democrático, o poder conquista-se mediante o consentimento do povo nas urnas. Isto não se negoceia. Estamos de acordo neste ponto.


A segunda questão é específica e radica no facto do nosso país estar a ser governado desde a sua independência por apenas um partido político. E mais: a história recente de Angola, com longa guerra fraticida, aconselha o recurso à prudência nos períodos eleitorais.


Neste sentido, e na iminência de uma eventual mudança de partido no poder, falar de “transição política” não só faz sentido como é recuperável, quanto mais não seja para que não haja sobressaltos no day after.


Nesta medida, a negociação da transição política” deve ocorrer para acautelar aspectos sensíveis da longa governação do MPLA que não estão suficientemente resolvidos, bem como para busca de consensos sobre os grandes temas nacionais.


E, no nosso ponto de vista, estas negociações devem ser realizadas antes das eleições. Antes de qualquer facto consumado que pode prejudicar equilíbrio entre as partes.


Por isso, dizemos sem pestanejar que em democracia “o poder não se negoceia, mas a transição política é negociável” em determinadas situações como a que vivemos em Angola.