Luanda - A parte as reclamações da UNITA, a “grande notícia” das quintas eleições gerais em Angola, realizadas quarta-feira última, 24, é a copiosa derrota do partido no poder em Luanda, principal círculo eleitoral do país. Globalmente, na capital do país, o “Galo Nero” obteve 62,25% de 1.997.914 votos válidos, contra 33,62% do MPLA. Este resultado confere à formação política liderada por Adalberto da Costa Júnior três deputados pela circunscrição, enquanto o seu mais directo rival fica com dois.

Fonte: Club-k.net

Com excepção de um, em todos os restantes sete municípios que conformam a província de Luanda, a UNITA foi vencedora. O que não deixa de ser perturbador para o MPLA é o facto de inclusive na assembleia de voto em que o presidente João Lourenço exerceu o seu direito também a UNITA ter vencido. É provavelmente lá, onde grande parte do seu staff terá votado. Se foi este o caso, é motivo para colocar as barbas de molho.


Belas, Cacuaco, Cazenga, Icolo e Bengo, Luanda, Kilamba Kiaxi, Viana e até a rica Talatona, onde a arrogante burguesia do MPLA se acomoda faustamente, votaram maioritariamente na UNITA. A excepção foi Quiçama. Este foi o único município da capital do país que depositou em número superior o seu voto de confiança em João Lourenço e no MPLA, creditando-lhes 70,55% de 9.823 votos contra 26,46% da UNITA.

 

O facto de Quiçama ter apostado em maioria no MPLA não deixa de ser intrigante. É que, o município viu um dos seus mais dilectos filhos, Carlos Sumbula, ser afastado do Comité Central, no último congresso do partido, realizado em Dezembro de 2021. Militantes e simpatizantes poderiam ter respondido na mesma moeda à “desfeita”, mas não o fizeram. Na verdade, foi o próprio Carlos Sumbula, na sua qualidade de coordenador do grupo de acompanhamento do partido para a circunscrição, quem esteve à frente da movimentação para a vitória in situ. Ele foi dos que mais se emprenharam para o resultado obtido.


Ao que o nosso site apurou junto de populares no local, além de servir como delegado de lista do MPLA numa das assembleias de voto, também se desdobrou em tarefas adicionais, auxiliando o primeiro secretário municipal do partido, assim como os líderes dos “camaradas” nas comunas de Demba-Chio e de Cabo-Ledo. Anónimos, sem posições relevantes na estrutura do partido, que serviram igualmente de delegados de lista, e outros militantes contribuíram também para o sucesso naquela parcela de Luanda, ajudando Carlos Sumbula em múltiplas tarefas.
O curioso é que, contrariamente a muitos camaradas de partido na sua condição – exonerado de cargo público relevante –, Carlos Sumbula não optou por ir ao estrangeiro, onde estão muitos cidadãos afectos ao MPLA, sendo uns por medo de escaramuças e outros por revolta em virtude de perderem os “tachos” nos quais se serviram fartamente. Ele não só ficou entre os seus correligionários políticos, como também se empenhou no terreno, dizendo, mesmo sem abrir a boca, que, nos bons e nos maus momentos pessoais, o partido está acima de interesses particulares.


Mais significativo ainda é o facto de se ter despido de preconceitos e vãos complexos de superioridade para aguentar, mesmo em estado de saúde pouco recomendável, uma longa jornada no “mato”, das 5h00 às 23h00, ele que já foi uma das figuras mais poderosas do país pelo facto de dirigir por vários anos a segunda maior empresa de Angola, a ENDIAMA. Podia ir tomar banhos de sol no Algarve, como muitos fizeram – possivelmente, razão de grande parte da taxa de abstenção –, mas não o fez, o que revela compromisso com o seu partido.


Em tudo isso tem piada o facto de, após de ser exonerado do cargo de PCA da ENDIAMA e não reconduzido como membro do Comité Central do MPLA, Carlos Sumbula começou a ser olhado de soslaio por muitos camaradas seus do partido, que o tratavam como um “excomungado”. Isto é o MPLA...