Luanda - A fuga ou ausência de cidadãos em momentos importantes do seu País, é um claro sinal de descrença ou descaso. São desmerecedores do papel que nos confere a cidadania e dos benefícios e feitos que uma nação oferece naturalmente aos seus.

Fonte: NJ

Em 1994, milhares de sul-africanos fugiram de mala e cuia para a Austrália, Canadá e Grã-Bretanha com medo do governo liderado por Nelson Mandela. Magnânimo em atitude, Madiba disse, na ocasião, numa entrevista que não temia o exílio dos seus compatriotas pois o momento serviria de facto para mostrar quem eram os verdadeiros sul-africanos.


As quintas eleições gerais em Angola, estão a mostrar quem são os angolanos que estão a votar com os pés, conforme teoria do americano Charles Tiebout, quem aqui está para perpetuar as suas gerações, quem acredita e quem está de passagem numa very nice.


Embora o artigo 13º da Declaração Universal dos Direitos Humanos indique que todas as pessoas têm o direito de deixar qualquer País, inclusive o seu, e retornar, há situações únicas e marcantes a que somos chamados a estar presentes.


A classe média deixa evidente, que nem todos querem ser parte da estatística dos mais de 14 milhões de eleitores. Férias marcadas e reclusão em casa é o cenário de quem anulou o momento perante o que não concorda.


Certamente muitos não veem que o processo em curso com génese em 1992, é um crescendo de maturidade, de civismo e uma ferramenta da liberdade política. Para um País que viveu um dos piores conflitos de sempre e uma descolonização desastrosa, devemos sim ter orgulho do que está a acontecer. Um orgulho que não é necessariamente sinónimo de satisfação, de concretização ou conquistas assimiladas, ou ainda que nos leve a olhar para o nosso redor sem reparar que nem tudo é poesia, como escreveu David Mestre.


As mais participativas eleições de sempre, em número e em expectativa, ocorreram num contexto repleto de renhidos argumentos e numa antevisão de que transformar é preciso.


Assistiram-se os festejos e o aporte da democracia com serenidade e tranquilidade.


As Assembleias de Voto registaram grande afluência durante a manhã, as ruas das grandes cidades estiveram voltadas à calmaria própria de um dia de tolerância de ponto, os angolanos na diáspora expressaram a sua vontade de forma mais ou menos efusiva, mas o que de facto foi bom ver nas pessoas, foi o sentido de dever cumprido.


A conversa nesta quarta-feira ficou presa no “já votaste?”, o que revela efectivamente que estamos prontos para metamorfosear a nova cronologia dos tempos. Contemple ela quem contemplar, a unanimidade é para um governo forte, voltado para pluralidade, para a diversidade, um governo MAIS ANGOLA.


Por isso tenho pena dos que bazaram sem ter votado. Tenho pena dos que andam aqui às cegas, sem sentimento de pertença, dos que nada querem edificar para deixar aos seus quanto mais não seja um legado de esperança. Tenho dó dos que alimentam a imundice desalinhada pelos estrangeiros, dos conluios para se desacreditar o País, dos que não se reveem em lado algum, dos que estão aqui em vão e acima de tudo, tenho fúria do oportunismo e do antipatriotismo.


Sem prazo para a divulgação de resultados, como afirmou o porta-voz da CNE, os dias que se seguem são de análise das sondagens, considerando que real, mesmo, é o que for publicado por eles (CNE).

 


Será um período de reflexão generalista, inclusive da cólera emanada durante a campanha eleitoral que de certa forma baralhou as cabeças e incendiou as redes sociais com revelações de toda a ordem desde a votação antecipada no Namibe, corte geral da internet e o carrossel da retórica de mortos e alternância.


Cabe-nos continuar a acreditar que é possível fazer deste País o melhor lugar do mundo, que é possível alicerçar o futuro sobre uma base verdadeiramente democrática, é possível começar do zero e deixar para trás o que não é mais valia.


Somos uma nação nova, em Novembro celebraremos 47 anos de independência, estamos em fase de aprendizado de toda a ordem, superamos as consequências da guerra fria, terminamos uma guerra civil aterradora e temos mostrado ao mundo que o passado apesar de continuar a ser honrado não é o que nos define. Que fique claro que quem faz um País, são as pessoas e que a força para renascer Angola deve sair de cada um de nós.


Independentemente de qualquer coisa o meu País é certeza e como cantou Gilberto Gil: “O melhor lugar do mundo, é aqui e agora”.


Rossana Miranda
24/08/2022