Luanda - Osvaldo Caholo, ativista dos 15+2, diz que sociedade civil já tem um plano para protestar nos próximos dias contra as eleições de 24 de agosto, que deram a vitória ao MPLA, aguardando apenas que a UNITA se pronuncie.

Fonte: Lusa

A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que conquistou 90 assentos no Parlamento angolano, admitiu esta segunda-feira (12.09) que pondera tomar posse, considerando que a sua posição definitiva terá em vista a salvaguarda da paz e a consolidação da democracia.

 

No entanto, a tomada de posse do maior partido na oposição será uma "traição ao povo angolano", nas palavras de Osvaldo Caholo, ativista do conhecido processo dos "15+2", que já antes de 24 de agosto defendia a impugnação das eleições, devido a irregularidades no processo.

 

Questionado sobre se haverá protestos nos próximos dias na capital angolana, Caholo revelou à DW que os grupos de ativistas e da sociedade civil de que faz parte já têm um plano, mas só poderá ser revelado depois de um pronunciamento da UNITA. O ativista denuncia "mais um golpe de Estado" em Angola.

 

DW África: O principal partido da oposição angolana já admitiu que pondera tomar posse no Parlamento e está, neste momento, a analisar os vários cenários possíveis. Como reage se a UNITA tomar posse na próxima sexta-feira?

Osvaldo Caholo (OC): Adalberto Costa Júnior [líder da UNITA e candidato presidencial], Abel Chivukuvuku [candidato a vice-presidente pela UNITA], Filomeno Vieira Lopes [dirigente do Bloco Democrático] são traidores, porque eles prometeram uma coisa. Só não serão traidores se não tomarem assento no Parlamento. A nossa ação é movê-los para que não o façam. Se a UNITA tomar posse, é uma traição ao povo angolano e vai provar que a sociedade foi bipolarizada. Esses senhores derramaram sangue em guerras desnecessárias e hoje são eles que vivem a boa vida.

A UNITA não é oposição. A oposição é o povo. A UNITA tem os filhos a estudar em escolas portuguesas e francesas em Angola, tem os filhos no estrangeiro, aqui tratam-se nas melhores clínicas. Quem sofre, quem não tem nem uma seringa, uma agulha, é o próprio povo. Quem tem de decidir acabar com esse cenário, com essa bipolarização em que só a UNITA e o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder] é que comem nesse país, é o povo.

 

DW África: Se de facto a UNITA e os outros partidos da oposição tomarem posse, o Osvaldo Caholo e outros ativistas angolanos vão fazer alguma coisa nas ruas?

OC: Nós temos um plano, mas não podemos desvendá-lo. Estamos à espera que a UNITA se pronuncie.

 

DW África: Neste momento, há muita polícia nas ruas, as Forças Armadas estão em prontidão. Justifica-se tanta precaução?

OC: Justifica-se, porque João Lourenço e o MPLA fizeram mais um golpe de Estado. Vão exercer, durante cinco anos, aquilo a que Robespierre chamou "terrorismo de Estado".

Nos próximos cinco anos haverá um terrorismo de Estado que já vem desde 1975. Agora é o momento de o povo decidir se vai para a marcha e para que tipo de manifestações. É preciso que fique claro: não adiantam aquelas manifestações que começam às 10h00 e depois às 15h00 estamos em nossa casa. Essa manifestação não nos interessa, enquanto sociedade civil. A manifestação é aquela em que nós vamos e só saímos das ruas quando a situação estiver resolvida.

 

DW África: Não temem a repressão policial? Em Malanje, ativistas denunciaram que estão a receber ameaças de morte depois de terem organizado manifestações contra os resultados eleitorais. Teme que este cenário se repita também em Luanda e noutros pontos do país?

OC: Eu estou em crer que, durante cinco anos, com a ausência de empregos, o índice de alcoolismo, estradas sem iluminação, sem água, sem saneamento básico, hospitais sem luvas, sem seringas e sem medicamentos, vão morrer mais pessoas do que se o povo partir agora, por exemplo, para uma desobediência civil.

Morre muita gente com esse terrorismo de Estado. Não é governação. O angolano está constantemente a chorar. Aqui, nós temos muitos caixões a entrar no cemitério. Num dia, podem entrar cem caixões. Vamos temer o quê? Preferimos morrer de paludismo, morrer de fome, morrer nos contentores do que lutando por justiça? Travar um povo é o mesmo que apagar um fogo com combustível. Um povo não se trava. DW África