Luanda - Um dos comandantes conhecido pela sua fama, em todas as Frentes e Regiões Militares da guerrilha da UNITA, cujo nome andava na boca dos soldados e dos populares, foi o General Francisco Tchivangulula KULUNGA. Ele foi um combatente da guerra anti-colonial, um soldado organizado e disciplinado, fiel ao seu Alto-Comandante e aos ideais de Mwangai, General da linha da frente e que passou as várias guerras na Trincheira ao lado dos soldados. O seu Posto-Comando foi sempre nas emboscadas. Homem alto e valente, falava com orgulho a sua língua materna, o Kwanhama, mas, também, falava com fluência Nhaneka, Umbundu, Nganguela, Tchokwe entre outras. Ele foi um grande guerreiro e destemido comandante, apesar de ter sido Oficial General, transportava sempre ao ombro a sua arma de fogo, AKM-47. Mas o que o fazia diferente de outros guerrilheiros era a sua forma peculiar de saudar: saudava com a Mão-Esquerda. Foi o único que, durante a revolução, impôs a sua vontade, ou, melhor, a sua regra, contrária às normas de convívio social. Não importava a quem, ele estendia a mão-esquerda para a saudação. Até ao Dr. Savimbi, Presidente Fundador e Alto-Comandante das FALA, ele estendia a mão-esquerda. Dizia-se que, se alguém o saudasse com a mão-direita, morreria na hora. Foi o que todo o mundo ouvia e achava ser verdadeiro, por isso, o pessoal respeitava a regra imposta pelo digníssimo Antigo Combatente e Veterano da Pátria, o tão falado e conhecido General Kulunga. Também dizia-se que ele havia feito uma aposta consigo mesmo: saudaria apenas com a mão-direita quando se concretizasse a Paz. Mas os mais curiosos diziam que o mistério da mão do general não tinha nada a ver com a Paz, mas, sim, tratava-se de um segredo dos kimbandas. Houve quem dissesse que essa estória da mão vinha desde os tempos que ele andou na Índia. A verdade é uma: naquela fase da luta, muitos faziam recursos a kimbandas para a blindagem: uns tinham mufukas, outros usavam missanga ao pescoço ou na mbunda, havia os que não podiam comer bagre, quiabo, utietie ou outros alimentos escorregadios. Cada um acreditava em alguma coisa e um tinha algum segredo...

Fonte: Club-k.net

Pessoalmente conheci o lendário General em 1988/1999. Acho que foi na altura em que foram convocados todos os Comandantes das Frentes e Regiões Militares para uma reunião magna – o Conclave. Lembro-me bem porque ele trajava um casaco de cabedal castanho, que havia sido oferecido aos participantes.


Como ele era amigo dos meus pais, desde 1974, estando na Jamba fez questão de visitar a nossa casa, tal como o fazia quando os meus pais viviam e trabalham no Kuvelai, Cunene. Então, nesse dia de visita, a mãe chamou-nos para as devidas apresentações. Dizia ela, indicando para mim, este era o bebé... Foi assim que, de seguida, apertei a mão-esquerda do General Kulunga e confirmei aquilo que ouvia há vários anos e que eu achava ser um mito. Na verdade, o lendário General não saudava como as outras pessoas. Naquele dia, senti-me feliz em saudar uma pessoa muito famosa entre os guerrilheiros. Lembro-me também de que ele perguntou ao meu irmão mais-velho, o Jô, o que ele queria ser quando regressássemos para as cidades, e falou-lhe do negócio de Peixe. Ter uma Pescaria dava bom dinheiro... Hoje, já começo a pensar em seguir as orientações do General Kulunga; quem sabe, ganhe alguns tostões!? É só tentar.


Vários anos depois, talvez em 2000/2001, já na última fase da guerra, voltei a cruzar com o lendário General. Vem-me a imagem do velho veterano sentado à sombra de uma árvore, com a sua AkM-47 entre as pernas e, com um olhar cansado, olhava para o tchikueyeye que passava apressado com kimbutus de ukesse recolhido no perungu das lavras da região de Sandona, Samuyuleno etc. O veterano, fisicamente desgasto pelo longo tempo de luta que carregava aos ombros, ia encorajando os mais jovens a terem coragem e a acreditarem na causa da UNITA. Também dizia que, apesar da sua idade avançada, não iria para a Zâmbia, porque jurou ficar ao lado do Dr. Savimbi até ao fim. - Dito e feito!

Como os homens passam, mas a sua obra fica, estamos aqui para recordar o homem que dedicou a sua vida por Angola.
Resta-me a esperança de que:


Se, algum dia, os angolanos quiserem escrever a sua verdadeira história, o general Kulunga constará das páginas douradas desse livro;
Se, no futuro, os angolanos se reconciliarem de coração, teremos, no mínimo, em uma das cidades, uma Avenida chamada General Kulunga.

O meu maior respeito aos Heróis da Pátria.

Voltarei...

Luanda, 09 de Setembro de 2022.
Gerson Prata