Luanda - Da infância a velha história de um entronizado rei que só se ouvia a si mesmo e aos bajuladores da sua côrte que quando foi para escolher o fato a envergar na excelsa cerimónia, do cortejo alguém gritou: “O Rei vai nu!” E ia.

Fonte: O Kwanza

Na investidura do passado dia 15 de setembro, do qual aceitam-se apostas que não ficará na história, sem sangue ou suor ou lágrimas, João Lourenço percorre a passadeira da vida e dentro de nós sussurra a voz do profeta Homem: “O Presidente vai triste!” E foi.

 

Num discurso parco, a dedicar pouco mais de 15 minutos a falar para dentro do País, o General Encantador que nos apaixonou em 2017 falou-nos sem a sua mais virtuosa varinha mágica: o coração. Começou por dar os parabéns ao povo angolano, o grande vencedor do quinto pleito eleitoral, pois que o povo de Angola venceu inequivocamente. Glória à soberania dessas mulheres e homens de peles negras e a cores que estão aí, andando por cima dos pés numa Angola onde até as nuvens são da côrte, assertivamente afirmando que o povo já não é do MPLA, pois que o MPLA se esqueceu que o combinado era ser o povo.

 

Como um recitativo sem vocais, João Lourenço foi elencando as questões sociais num mais ao menos a contragosto ou em outras contas num menos mais envergonhado para enaltecer os jovens que votam e esquecer as crianças à volta da fogueira, embaladas no ilusionismo das labaredas projetando o futuro. Esqueceu-se também dos mais velhos, dos antigos combatentes, do direito à reforma justa e de que quanto mais páginas tiver um livro mais o fogo do saber ateia.

Depois, em passo apressado, falou para os seus ouvintes mais caros: investidores e empresários dos sectores das infraestruturas e energia foram esperançados, enquanto pequenos camponeses e empreendedores agrícolas foram ignorados numa Angola com caminho sem ter fim, terra que cobre o céu e oferece tanto para cultivar. Há coisas que levam tempo e é preciso plantar para colher. João Lourenço não tem tempo. Dos cinco anos ficaram amarguras para curar.

 

Falou da guerra, da guerra e da guerra. Da guerra social em Angola ao enunciar a necessidade da “defesa da ordem pública” como uma competência das Forças Armadas de Angola (FAA), ignorando assim que a segurança interna é competência da Polícia Nacional de Angola e demais autoridades republicanas, nunca dos militares, à exceção de… À exceção dos períodos em que se vive uma Guerra Civil. Falou da guerra e dos conflitos armados nos parentes países africanos onde Angola voluntariosamente apoio a reposição da paz. Falou da guerra na Ucrânia para, surpreendentemente, dizer não ao que havia dito ni, esquecendo a velha aliada Rússia onde estudou, quando esta se denominava União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, trocando o camarada de mais de 50 anos pelo parceiro de meses e, com isso, voltou a, num estalar de dedos, desviar caminho para ser o outro do João Lourenço que não o era quando o conhecemos. Surgiram palmas ao citar o Arquiteto da Paz José Eduardo dos Santos como este merecia e não como o fez no último Congresso do MPLA.

 

Terminou o discurso voltando a agradecer a todos os que “aqui estão”. Faltou assim tanta gente para, novamente, lembrar a importância de estar alguém ali?