LUANDA - O Sindicato de Professores angolanos disse hoje que é "justa" a reivindicação do professor que foi detido por, alegadamente, ter organizado uma marcha de alunos para reivindicar mais carteiras para a escola, embora admitindo que a ação foi precipitada.

Fonte: Lusa

Segundo o delegado provincial de Luanda do Sinprof, Fernando Laureano, foram ouvidos professores, pessoal da secretaria e alunos, tendo a direção da escola garantido que desconhecia a organização da marcha.

"Quase todos eles desconheciam a preparação da referida marcha", disse à Lusa Fernando Laureano, acrescentando que o representante do Sinprof local foi igualmente surpreendido com a notícia.

Um professor foi detido na sequência de uma marcha realizada, quinta-feira, no município de Viana, em Luanda, acusado de ter liderado um grupo de cerca de 300 alunos que protestavam contra a falta de carteiras na escola e que terão provocado danos nas mesmas.

A manifestação foi dispersada pela polícia que, segundo relatos que circulam nas redes sociais, recorreu a disparos para acabar com a marcha dos alunos que pretendiam chegar à repartição de educação de Viana.

Fernando Laureano dá razão ao docente, mas diz que a reivindicação não foi feita da melhor forma

"É verdade que o colega alega a questão das carteiras, a escola não tem mesmo carteiras suficientes. As turmas estão com cerca de 70 a 80 alunos e o colega achou que poderia reivindicar só que reivindicou de forma errada, porque se ele nos participasse o caso seria diferente", frisou.

O sindicalista sublinhou que a liberdade de manifestação consta na Constituição da República, "mas tem os seus critérios".

"O colega não os cumpriu, com a agravante de levar crianças para a manifestação, sem a autorização dos encarregados de educação. Nesta mesma marcha do que me apercebi, e a polícia nega, é que houve tiroteio para dispersão e as crianças ficaram expostas ao perigo", observou.

Fernando Laureano disse que tiveram um encontro com o comandante da polícia da esquadra que se situa ao lado da escola 5108, em Viana, segundo o qual o acusado seria ouvido hoje pelo Ministério Público.

Para apoiar o professor, o Sinprof e o Movimento de Estudantes Angolanos (MEA) juntaram-se e constituíram um advogado, adiantou Fernando Laureano.

Fernando Laureano reiterou que a reivindicação é justa, pecando apenas pela forma como foi organizada, frisando que uma boa parte das escolas da capital angolana não têm carteiras.

"E se têm são carteiras insuficientes para albergar o número de alunos por turmas, nós temos essa insuficiência e, aliás, isso consta do nosso caderno reivindicativo a nível da província de Luanda", frisou.

De acordo com o delegado provincial de Luanda do Sinprof, as autoridades dizem que as escolas estão a ser apetrechadas de forma gradual, mas o ritmo é lento.

Daqui a duas semanas, adiantou, vão reunir-se com a nova diretora provincial de Luanda "para fazer o rescaldo sobre os problemas que Luanda está a viver".

O delegado provincial de Luanda do Sinprof disse que a lista de problemas é grande, enumerando também deficiências no funcionamento das casas de banhos nas escolas e problemas de iluminação, que afetam os alunos do período noturno, "para não falar na remuneração dos professores".