Luanda - Pela primeira vez vamos ter um discurso sobre o estado da nação a ser proferido por alguém que está a prazo, sendo curto o limite deste prazo.

Fonte; Club-k.net

Este parece-me ser o aspecto mais interessante a rodear esta intervenção do PR que é a única que tem dignidade constitucional, sendo igualmente a única que o obriga a ir ao Parlamento uma vez por ano dar a conhecer ao país a sua visão sobre a realidade nacional da forma que melhor entender.


Efectivamente, o actual Presidente da República só tem mais cinco anos para deixar obra e passar à história como terceiro Chefe de Estado e de Governo de um país que nasceu chamando-se República Popular de Angola, já lá vão 47 anos, a serem completados no próximo dia 11 de Novembro.


Sendo o seu segundo mandato na função, é também o último, aspecto que, sendo óbvio, pois é assim que reza a Constituição, ainda não foi até agora explicitamente assumido pelo próprio nas declarações que tem feito desde que tomou posse, com destaque para o seu discurso inaugural.

A omissão desta referência é sintomática.


Falar de segundo mandato é uma coisa, falar de segundo e último mandato é outra, independentemente de haver ou não condições para se prolongar o mesmo.


Aparentemente não há, mas é mesmo só aparentemente.


O resto da história só ficaremos a saber bem lá mais para frente, sobretudo depois do MPLA realizar o seu próximo Congresso ordinário, o nono, que deverá ter lugar em 2026

Mas para já deixemos de lado as especulações sobre o assunto que são da nossa exclusiva responsabilidade, para olharmos brevemente para o que será este primeiro discurso sobre o estado da nação do segundo e último mandato de João Lourenço.


Para um discurso que não tem praticamente limites em termos de abordagem temática, sempre achei muito difícil estar a tentar adivinhar a forma como os sucessivos estados da nação têm sido elaborados, desde que em 2010 a nova Constituição incluiu no seu texto esta prestação anual por parte do Presidente da República.


Seja como for e tendo em conta o conteúdo dos anteriores discursos já proferidos seja por JES, seja por João Lourenço, a minha expectativa que nunca foi satisfeita é mais ou menos a mesma em relação a este que vem aí.


O que tenho reparado é que estes discursos têm sido preenchidos (ou enchidos?) basicamente com muitos números sobre as realizações sócio-económicas feitas pelo Governo e pouco mais.


Estes números, note-se, nem sempre têm correspondência com a realidade dos factos, não havendo por parte da imprensa, nomeadamente, alguma preocupação em ir depois ao terreno verificar a sua existência em concreto.


Sendo, certamente, mais difícil de fazer uma avaliação mais qualitativa, estes discursos nunca falam do impacto das mesmas realizações no combate aos grandes desafios sociais que o país continua a ter pela frente e que se podem resumir na extensa mancha de pobreza/exclusão social que ainda cobre uma parte demasiado expressiva da nossa população.


Até agora e pelo que me lembro, não tem sido preocupação de se falar do estado da nação tendo em conta a realidade humana prevalecente em Angola, seja do ponto de vista socioeconómico, seja de um ponto de vista mais afectivo ou mais político.


Sinto que sempre houve aqui uma incapacidade ou mesmo uma recusa em se olhar para o país na condição de “Presidente de todos os angolanos”, tendo tanto JES como JLo optado pelo discurso das realizações materiais com a apresentação daquele fastidioso, e nem sempre muito consistente, inventário de obras públicas.


Gostaria, entretanto, de acreditar que o verdadeiro resultado das eleições de 24 de Agosto aconselhe melhor este ano João Lourenço a estruturar de outra forma, mais de acordo com a realidade, o seu discurso sobre o estado da nação.


Apesar dos sinais de alguma/bastante flexibilidade e abertura que emitiu no início do seu primeiro mandato, com as baterias apontadas contra o passado “eduardista”, João Lourenço voltou claramente à primeira forma que nos habitou quando ainda era Secretário-Geral do MPLA.


Agora e considerando que os presidentes normalmente deixam para o segundo e último mandato a tal obra feita para as gerações vindouras, é bem possível que JLo nos surpreenda com o conteúdo deste discurso sobre o estado de uma nação que quer ser bem diferente do passado que tem conhecido até agora, sobretudo na forma como tem sido politicamente gerida.